As estratégias adotadas para restaurar terras degradadas estão apresentando resultados promissores na região semiárida do Brasil. Essas práticas melhoram as propriedades microbianas do solo e favorecem o retorno dos serviços ecossistêmicos.
Entre as técnicas utilizadas estão a remoção ou restrição do acesso do gado a áreas específicas de pastagem, o cultivo de plantas de cobertura e a construção de terraços para controlar a erosão. A recuperação das propriedades microbianas do solo preserva a biodiversidade, e aumenta a produtividade das culturas, contribuindo assim para a sustentabilidade agrícola.
Essas são as conclusões primordiais de uma pesquisa publicada no Journal of Environmental Management por um grupo de cientistas brasileiros, da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Piauí (UFPI), Universidade Federal do Ceará (UFC) e Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (UFAPE). O artigo, uma revisão que abrange 18 estudos na região semiárida, foca especialmente na Caatinga, um bioma composto principalmente por uma floresta caducifólia espinhosa.
A área suscetível à desertificação abrange 70% da região Nordeste, cerca de 16% do território total do Brasil, incluindo mais de 1.400 municípios e abrangendo nove estados, com uma população combinada de 35 milhões de pessoas.
A Caatinga é conhecida por sua rica biodiversidade, abrigando aproximadamente 600 espécies de aves, 240 espécies de peixes, 170 espécies de mamíferos, entre outras formas de vida. A maioria dos agricultores na região são familiares e enfrentam riscos significativos relacionados ao clima. Municípios agrícolas principais sofreram perdas consideráveis de produção nas últimas três décadas.
O microbioma do solo é essencial para a ciclagem de nutrientes, decomposição da matéria orgânica, emissões de gases de efeito estufa e saúde das plantas. Compreender como os microrganismos habitam áreas sujeitas à seca e contribuem para o crescimento vegetal pode levar à descoberta de novos inoculantes para o desenvolvimento vegetal em regiões semiáridas.
O artigo destaca que a desertificação no semiárido brasileiro é influenciada por fatores naturais, como baixa pluviosidade e alta evaporação, e por fatores antropogênicos, como práticas pecuárias não sustentáveis e gestão inadequada das terras.
Ademir Sérgio Ferreira de Araújo, pesquisador do CENA-USP e professor de microbiologia do solo na UFPI, observa que o estudo é crucial por destacar os efeitos negativos da desertificação e por apontar práticas eficazes para restaurar a diversidade microbiana do solo.
O grupo de pesquisadores utilizou técnicas moleculares como metagenômica e metatranscriptômica para medir e avaliar os efeitos dos projetos de restauração do microbioma do solo. Algumas áreas foram recuperadas com novas coberturas vegetais, como crotalária (Crotalaria juncea) e capim-guiné (Panicum maximum), que é uma excelente cultura forrageira para o gado devido ao seu alto rendimento e teor de proteína.