Restauração de habitats de morcegos pode evitar novas pandemias

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Uma pesquisa feita na Austrália comprovou que a preservação e restauração de habitats de morcegos pode prevenir que patógenos que se originam na vida selvagem se espalhem para animais domesticados e seres humanos. A descoberta foi um resultado da combinação de 25 anos de dados sobre o comportamento desses animais, disponibilidade de alimentos, registros do clima e perda de habitat. 

Para comprovar a associação, pesquisadores analisaram a incidência do vírus Hendra (HeV), que é transmitido de morcegos para cavalos.

Em geral, morcegos podem carregar diversos tipos de vírus potencialmente letais aos seres humanos, incluindo coronavírus, Nipah e Hendra. Contudo, seus sistemas imunológicos possibilitam que os animais coexistam com esses patógenos. E, embora a transmissão de vírus entre morcegos para cavalos e seres humanos seja consideravelmente rara, pode ser extremamente perigosa.  

Morcegos evitam florestas deterioradas

Na análise, pesquisadores conseguiram evidenciar que cerca de dois terços dos casos de infecção de cavalos coincidiam com áreas desmatadas no norte de Nova Gales do Sul e no sudeste de Queensland.

Isso ocorre porque o desmatamento decorrente da agropecuária e da expansão de cidades influencia os padrões de alimentação dos morcegos, que dependem de árvores frutíferas e outras plantas nativas de florestas. Com a falta dessas fontes de alimentos, os animais são forçados a explorar novos locais, como terras agrícolas.

A exposição dos morcegos aos cavalos dessas terras consequentemente aumenta a incidência de novas contaminações.

No entanto, o desmatamento não é o único motivo para essa mudança. 

Na Austrália, local da pesquisa, diversas condições climáticas também podem influenciar o comportamento de morcegos. Secas decorrentes do El Niño, por exemplo, são responsáveis pela escassez do néctar de algumas espécies de eucalipto, que são a maior fonte de alimentos desses animais. 

Geralmente, esses hábitos são passageiros e os animais voltam ao seus habitats naturais quando essas condições cessam. 

Mas, o que acontece quando esses habitats são perdidos? 

No período de 1996 e 2020, pesquisadores observaram que grandes ninhos de morcegos de uma área da Austrália se tornaram raros. Em seu lugar, foram observados diversos ninhos menores concentrados em áreas rurais. 

Similarmente, uma pesquisa anterior comprovou que esses morcegos possuíam taxas de detecção mais altas do vírus Hendra. 

Morcegos são fonte de muitos vírus humanos, mas não são especiais

Desse modo, foi possível criar uma associação entre a falta de comida com a deslocação de morcegos e maiores incidências de cavalos contaminados pelo vírus Hendra. 

Assim, uma das soluções impulsionadas por especialistas e conservacionistas inclui a restauração e proteção de habitats de morcegos. Essas consideradas “barreiras naturais” não só potencialmente diminuem casos de doenças, como são uma prevenção contra potenciais novas pandemias derivadas de vírus presentes na vida selvagem. 

Júlia Assef

Jornalista formada pela PUC-SP, vegetariana e fã do Elton John. Curiosa do mundo da moda e do meio ambiente.

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