Reintroduzir insetos no ambiente urbano é essencial para biodiversidade, inclusive de mamíferos mais atraentes como o dingo; rewilding urbano e agroecologia podem ajudar
Rewilding, ou renaturing, em inglês, é um termo ainda sem equivalente oficial em português, mas pode ser traduzido como “resselvagenização”, “renaturalização” ou “reintegração animal”. Na prática, sua criação procura alertar para a importância de reintroduzir os animais, como os insetos, no ambiente, incluindo o urbano.
Animais menos atraentes, como os insetos, possuem uma relevância significativa para ecossistemas inteiros. Mas, a cultura do medo ou nojo desses seres, e até mesmo o uso de pesticidas em monoculturas, têm inviabilizado a biodiversidade, extinguindo inclusive animais mais atraentes como o dingo, também chamados de “espécie-bandeira”.
Os insetos são heróis desconhecidos. Algumas vezes odiados ou imperceptíveis, eles têm um grande impacto na saúde dos ecossistemas que sustentam a humanidade. Esses seres polinizam as plantas, revolvem o solo, fornecem alimento para rãs, lagartos, mamíferos e pássaros e apresentam uma fantástica variedade de formas e cores que influenciam a riqueza cultural de vocabulário e arte.
Infelizmente, os últimos relatórios sobre biodiversidade mostram que o número de espécies de insetos está diminuindo de forma significativa, um fenômeno chamado de “armagedom dos insetos”.
Diminuições foram notadas pela primeira vez entre insetos voadores na Europa, mas esse padrão se estendeu a outras partes do mundo e a outros grupos de insetos. Como consequência, há uma perda de grande parte da biodiversidade e de todos os benefícios que ela proporciona.
É notável um fluxo de efeitos nocivos para outros animais maiores que dependem de insetos para sua sobrevivência, como pássaros insetívoros.
Uma abordagem para combater o declínio das espécies que ganhou popularidade nos últimos anos é o fenômeno do “rewilding”. O conceito normalmente faz referência a animais de grande porte — principalmente os grandes predadores que antes perambulavam pelo ambiente, como o dingo na Austrália e o lobo na Europa.
Esses animais requerem grandes áreas e a rewilding, ou reintegração animal, pode ser um desafio quando os locais também são usados para assentamento humano e produção agrícola.
Em contraste, a reintegração de pequenos animais pode ser eficaz em áreas menores. Mesmo alguns metros quadrados podem ser o suficiente para uma enorme diversidade de insetos.
Restaurar um pequeno pedaço de terra pode ser suficiente para que qualquer inseto voador — como abelhas, borboletas, mariposas e grilos — se estabeleça.
Mas para outros insetos, incluindo gafanhotos e aqueles que habitam o solo, é necessária uma intervenção mais ativa, como a reintrodução usando animais provenientes de populações selvagens ou criadas em cativeiro.
Um caso em questão são os gafanhotos palitos-de-fósforo, que estão em risco de extinção.
Este grupo de gafanhotos sem asas inclui cerca de 250 espécies. Muitas delas podem ser criadas em cativeiro e contribuir para a manutenção dos ecossistemas dos quais são nativas.
Rewilding em quintais urbanos
A reintegração animal também é eficaz em quintais urbanos. Cultivar espécies de plantas nativas, por exemplo, pode viabilizar a existência de várias espécies de insetos.
Ao mesmo tempo, melhorar esses espaços para os insetos pode viabilizar a permanência de pássaros, lagartos e outros animais comedores de insetos.
A rewilding de pequenos animais é uma abordagem de conservação barata e que demanda baixa tecnologia, com um grande potencial de aplicação em escolas ou outras comunidades que desejam fazer a diferença.
Os animais são uma excelente ferramenta educacional para ajudar o público em geral a apreciar o mundo dos insetos e sua importância, bem como as funções que desempenham em nossos ecossistemas naturais.
Entretanto, a rewilding deve ser praticada com cuidado e embasamento científico. É preciso priorizar espécies nativas para evitar desequilíbrios ecossistêmicos.
Abordagem agroecológica
Ainda que a reintegração animal em pequenos espaços seja eficiente, é preciso que a forma de produção agrícola, baseada em monoculturas, migre para modelos mais biodiversos, como a agroecologia. Para saber mais sobre esse tema, dê uma olhada no vídeo a seguir: