Rochagem é uma técnica agroecológica de fertilização do solo que tem a vantagem de capturar CO2. Entenda como funciona
Rochagem, agromineração, petrofertilização, remineralização ou fonte alternativa de nutriente, é uma técnica desenvolvida para aumentar a fertilidade do solo que permite a captura de CO2 da atmosfera.
Como é feita a rochagem do solo?
Basicamente, consiste na adição de pó de rocha de várias rochas diferentes (como as rochas silicáticas) aos solos de cultivo, sendo uma forma de imitação do processo de intemperismo natural. A técnica, também chamada de intemperismo acelerado, antecipa o intemperismo natural em escalas de tempo humanas, transformando as rochas em pó.
Ela pode ser considerada como um método que vai ao encontro dos princípios da agroecologia, e pode ser aplicada em pequenas propriedades familiares e na agricultura orgânica.
O conceito de rochagem foi abordado pela primeira vez pelo francês M. Missoux (1853) e pelo alemão Julius Hensel (1880) em trabalhos sobre utilização de rocha como fonte de nutrientes. A rochagem é praticada há anos, e tem como exemplos as práticas agrícolas da calagem e a fosfatagem.
Rochagem no Brasil
No Brasil, o uso de rochas para remineralização começou a ser estudada no ano de 1950 pelos pesquisadores D. Guimarães e Vladimir Ilchenko. A partir dos anos 70, o foco da técnica passou a ser o fornecimento de potássio (K) e fósforo (P). Isso se deveu à carência desses nutrientes nos solos nacionais.
Hoje, a técnica é recomendada para diversos tipos de agricultura, mas principalmente para pequenos agricultores brasileiros, que não têm acesso a pacotes de insumos internacionais e muitas vezes manejam insumos agrícolas convencionais sem os devidos cuidados.
Além disso, o pó de rocha foi denominado agromineral e reconhecido oficialmente pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento como fertilizante através da Lei 12.890, de 2013.
Quais os benefícios da rochagem?
Reduz vários tipos de poluição
Diferente dos métodos convencionais de agricultura, a técnica da rochagem evita o uso intensivo de insumos industrializados. É um método alternativo que não compromete cursos d’água, solos e atmosfera. Pelo contrário, a técnica ainda permite a captura de grandes quantidades de CO2, um gás do efeito estufa.
O solo do planeta armazena cerca de 2,5 bilhões de toneladas de carbono, mais que a atmosfera (780 bilhões de toneladas) e que a vegetação (560 bilhões de toneladas), sendo um importante reservatório desse gás. Mas é preciso tomar cuidado para não confundir rochagem com outras técnicas de captura de carbono no solo. Enquanto a rochagem se utiliza de minerais, outras técnicas de captura de CO2 no solo podem utilizar matéria orgânica e biocarvão.
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Faz bem para economia
O Brasil, com dimensões continentais, tem um potencial agrícola que é relevante para o PIB brasileiro. Isso seria ainda maior se não fosse pelos nossos solos empobrecidos em minerais como fósforo e potássio.
A correção desses solos normalmente é feita nos moldes convencionais de agricultura, que acarretam impactos significativos para o meio ambiente e demandam insumos de correção que são importados, o que faz mal para a soberania e economia do país.
Dessa forma, a rochagem é uma alternativa viável ambiental e economicamente, pois permite a utilização de recursos nacionais. Ela ainda pode ser feita utilizando-se resíduos da mineração. Além disso, a técnica é vista como podendo melhorar a qualidade física, química e biológica do solo.
Fornece uma ampla gama de minerais
A técnica da rochagem fornece aos solos vários tipos de nutrientes simultaneamente — contribuindo para a eficiência agronômica e promovendo a atividade biológica do solo em geral. Isso se deve à composição variada dos agrominerais e a disponibilização de nutrientes de forma mais gradual. Por isso que a rochagem também é conhecida como remineralização do solo.
Por isso, apresenta vários benefícios em relação aos fertilizantes químicos, que são aplicados praticamente um tipo de cada vez e ainda apresentam alta solubilidade, sendo lixiviados pelas chuvas e acabando por contaminar o ambiente, sendo potencialmente tóxicos.
Tipos de rochagem
Há muitos tipos de rochas com efeitos diferentes sobre os solos, por isso são necessários mais estudos sobre tipos mais indicados para a rochagem, dosagens, granulometria, desempenho no cultivo de diferentes espécies e solubilidade.
Alguns estudos mostram que materiais de granulometria fina, quando inoculados com bactérias do gênero Acidithiobacillus, reagem quimicamente e liberam nutrientes.
As olivinas, um grupo de minerais de silicato que reagem com o dióxido de carbono, também formam compostos de interesse. O intemperismo acelerado desse tipo de rocha consiste em expor enormes quantidades de olivina ao ar e, em seguida, espalhá-la sobre campos agrícolas.
Para se ter uma ideia, na natureza, quando o dióxido de carbono no ar se dissolve nas gotas de chuva, ele reage com as rochas quando cai, e os compostos restantes são levados para os oceanos. Esses compostos são usados para construir conchas e corais. Lentamente e de modo inevitável, isso atrai o CO2 presente no ar e o retém por centenas de milhares de anos.
Desvantagens
A mineração consome grandes quantidades de energia, o que reduz a eficiência do processo de alguns tipos de processos de rochagem em até um terço. Além disso, há quem tema que a aceleração do intemperismo possa reduzir o incentivo para diminuir as emissões de gases do efeito estufa.