Saber indígena pode enriquecer ciência e espaço universitário

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Por Gabriel Mendeleh e Rita Stella, do Jornal da USP | A presença dos indígenas brasileiros na universidade é uma realidade. Eram pouco mais de sete mil em 2010 e passaram de 72 mil alunos matriculados em algum curso universitário em 2019. Essa ocupação de espaços universitários é avaliada como benéfica para a troca de saberes e para a produção de conhecimentos, mas não acontece sem luta por respeito e valorização da cultura indígena.

Em entrevista ao Jornal da USP, durante a nona edição do Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas (Enei), realizada em julho na Unicamp, o líder indígena Álvaro Tukano disse que “a troca de conhecimento entre indígenas e não indígenas é algo que pode ser benéfico para ambos os lados”. O contato com diferentes povos, afirma, pode manter a integridade de suas tradições, trazer informações das aldeias para as universidades e levar universitários não indígenas para as aldeias, o que é importante para a “ciência brasileira, que precisa de novos pesquisadores, novos intelectuais”. Porém, lembra Tukano, exige muito sacrifício do indígena. Além do choque cultural, a dificuldade da língua, enfrenta também a falta de recursos financeiros.

Danilo Guimarães, professor do Instituto de Psicologia da USP e indígena de ancestralidade Maxacali, compartilha das ideias de Tukano e enfatiza que a missão da universidade é a construção de conhecimento e a formação de pessoas para assumirem posições destacadas na sociedade. Por isso, é importante que os “indígenas ocupem esses espaços para terem acesso a todo o conhecimento acumulado e também para transformar os espaços universitários”.

Para Guimarães, estar no ambiente universitário é uma forma de os indígenas reafirmarem seu saber, mostrando a riqueza do conhecimento que produzem e que muitas vezes é colocada em segundo plano, “apesar de absorvida, renomeada e usada sem que receba os devidos créditos”. O professor cita, como exemplos desses saberes, princípios ativos de remédios, patenteados e usados atualmente, e que tiveram origem em plantas há muito utilizadas para tratamentos e cuidados entre os povos indígenas. Defende que as comunidades indígenas sejam valorizadas pelos conhecimentos que produzem, já que conhecimento não “se restringe ao campus universitário; é produzido em qualquer espaço”.

Indígena de ancestralidade Pankararu Bakairi e aluna do curso de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Anaine Taukane também acredita nos benefícios da aproximação da cultura indígena com a universidade. Anaine afirma que, ao entrar para a academia, o indígena reforça sua identidade, “levando o seu saber para esse ambiente, que já produz um conhecimento, só que ele passa a dividir o conhecimento com o saber indígena”.

Movimento estudantil com pauta indígena

O processo de inclusão da população indígena brasileira no ensino superior vem avançando e deve ganhar mais terreno. Universitários e líderes indígenas, participantes do evento em Campinas-SP, acabam de criar uma entidade específica para pensar a identidade de seu movimento estudantil, a União Plurinacional de Estudantes Indígenas (UPEIndígenas). Segundo um de seus autores, o estudante indígena de Engenharia Elétrica da Unicamp Arlindo Baré, essa será uma forma de ter “um movimento estudantil gerido e pensado para as pautas indígenas”.

Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.

Equipe eCycle

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