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Pesquisadores da UFRJ defendem criação de corredor ecológico para conservar a flora nas áreas remanescentes de Mata Atlântica do Rio de Janeiro

Por Sidney Rodrigues Coutinho, da Conexão UFRJ | Importantes para a conservação da fauna e para a estrutura das florestas tropicais, as palmeiras da Mata Atlântica são espécies pouco estudadas entre os cientistas brasileiros. Pesquisadores da UFRJ, no entanto, iniciaram um levantamento da situação da família de plantas Arecaceae no estado do Rio de Janeiro e, entre outras medidas, sugerem a criação de um corredor ecológico ou até a ampliação das unidades de conservação das florestas remanescentes na região.

Segundo a professora Rita Portela, do Instituto de Biologia (IB), diversas espécies de palmeiras produzem a maioria dos frutos existentes na Mata Atlântica e atraem uma grande quantidade de aves e de mamíferos, que atuam como dispersores de sementes e agentes da regeneração florestal. “Esses frutos são muito nutritivos e sua polpa atrai dezenas de animais. As palmeiras também são importantes, pois formam o extrato médio das florestas ou ficam próximo ao solo, dominando o que chamamos de sub-bosque”, explicou.

O modo avançado de fragmentação e desmatamento da Mata Atlântica do Rio de Janeiro diminuiu, em média, mais da metade da área de ocupação possível das palmeiras nativas do estado. “Como essas espécies têm um tempo de vida muito longo, elas conseguem viver por um bom período sem a fauna, mas, em um dado momento, tendem a sumir pela falta de regeneração. Um indicativo de defaunação é uma grande quantidade de frutos no solo sem serem consumidos”, disse a professora.

A professora do IB destaca o quanto é importante conhecer melhor essa flora e cita como exemplo a palmeirinha de Petrópolis (Lytocaryumweddellianum), que é típica da Região Serrana e tolerante ao frio, além de ser muito utilizada em jardins. “O estudo de Thales de Lima, sob minha orientação e da doutora Gabriela Oda, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), mostra que o habitat dessa palmeira é bem restrito. Pouco se sabe sobre ela. Precisamos saber onde elas ocorrem, quem são os dispersores delas, entre outras informações. Não só dessa espécie, mas de tantas outras palmeiras”, enfatizou.

Tanto pelo potencial econômico quanto por ser uma espécie ameaçada de extinção, a palmeira mais conhecida da Mata Atlântica é a Jussara ou Juçara (Euterpe edulis). Ela é uma prima do açaí do Pará (Euterpe oleracea), nativa da região amazônica.  Ambas têm os frutos muito parecidos e confundidos. A Juçara, porém, é muito mais utilizada para a produção de palmito. “Ela é muito abundante dentro de unidades de conservação e é uma das mais conhecidas, atraindo variadas espécies da fauna”, informou a professora.

Do ponto de vista de Rita Portela, é essencial que se considere a proteção dos remanescentes florestais de Mata Atlântica entre os Parques Estaduais dos Três Picos e do Desengano, entre os municípios de Nova Friburgo e Santa Maria Madalena, seja por meio de corredor ecológico, pela extensão dos parques ou pela criação de uma nova unidade de conservação. O potencial de restauração da área é de 17.317m2. “É uma ação que permitirá não apenas a conservação das várias espécies de palmeiras e demais espécies que podem ocupar este local, mas também garantirá a conexão entre os dois parques estaduais e contribuirá para uma visão mais integrada da conservação do complexo de remanescentes florestais na Serra do Mar fluminense”, disse ela.

De acordo com os estudos realizados pelos biólogos da Universidade, são duas as unidades de conservação que contribuem para a manutenção de grande número de espécies de palmeiras do Rio de Janeiro, ambas localizadas em áreas urbanas. A primeira é o Parque Estadual da Pedra Branca, na Zona Oeste da capital fluminense, onde há condições favoráveis para 15 das 22 espécies nativas do estado; a outra, que tem registros de ocorrência para dez espécies, é o Parque Estadual da Serra da Tiririca, com área dividida entre os municípios de Niterói, São Gonçalo e Maricá.

Além da defesa de ampliação da área de conservação, Rita Portela afirma que é urgente que as espécies cujas distribuições potenciais foram reduzidas sejam alvo de programas específicos de conservação e que seus habitats sejam protegidos. “De importância especial é o guriri (Allagopetraarenaria), palmeira que ocupa a vegetação de restinga, ameaçada pela ocupação agressiva e desordenada das praias do estado. Hoje, no Rio de Janeiro, restam somente 31% da Mata Atlântica original. As palmeiras são muito importantes estruturalmente para a floresta por diversos motivos. Nossa defesa é a criação de um corredor ecológico entre o Três Picos e o Desengano que protegerá as palmeiras e  o Muriqui, o maior primata das Américas. Coincidentemente, a mesma região é importante para a conservação deles”, finalizou.


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