Sambaqui, também conhecido como concheiro, é uma formação calcária ou montanhosa de origem humana. Os sambaquis são sítios arqueológicos deixados por povos pré-históricos que habitavam a costa brasileira de 7 a 8 mil anos atrás, muito antes dos tupis-guaranis. Esses sítios são geralmente compostos por ossos de peixes, pássaros e mamíferos, além de conchas de moluscos e outros materiais orgânicos.
Os sambaquis são tipicamente caracterizados por estruturas montanhosas e elevadas no sul do Brasil, variando entre 5 a 30 metros de altura, na maior parte das vezes. Alguns deles, no entanto, podem alcançar até 70 metros de altura. Estes sítios constituem um espaço distinto que ganha destaque na paisagem pelo seu grande volume e pela natureza topográfica da planície costeira.
Artefatos de pedra e osso também foram identificados na composição de alguns sambaquis, mas os vestígios mais perceptíveis na composição desses sítios são as conchas de Anomalocardia brasiliana, Lucina pectinata e variadas espécies de mexilhões e outros frutos do mar.
Além disso, esqueletos de homens, mulheres e crianças de diferentes idades foram encontrados na maioria dos sambaquis. Revelando que os povos primitivos tinham o costume de sepultar seus entes queridos ali. A concentração de conchas era responsável por neutralizar a acidez do solo e criava condições propícias para a preservação do osso humano.
Preservando esqueletos humanos, os sambaquis servem como janelas que nos permitem saber mais sobre o estilo de vida e a saúde dos povos que viviam em território brasileiro no passado. A maior concentração deles está no estado de Santa Catarina.
Esses sítios também podem ser encontrados no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Paraná e no Espírito Santo. Infelizmente, com o passar de milhares de anos, grande parte dos sambaquis foi destruída. Sendo que 5% deles foram escavados e menos de 1% forneceu material para estudos científicos.
A costa brasileira foi povoada por grupos de pescadores-coletores que construíram montes conhecidos como sambaquis. Essas formações são as principais evidências arqueológicas desses grupos, conhecidos como sambaquieiros. Sambaqui é uma palavra de origem tupi, língua falada pelos grupos que ocupavam o território brasileiro quando da chegada dos europeus. Tamba significa concha e ki significa monte, constituindo as características visuais mais importantes desses sítios arqueológicos.
A ocupação pré-histórica do litoral brasileiro vem chamando a atenção de pesquisadores há muito tempo. O interesse científico por esse tipo de sítio arqueológico é grande desde a segunda metade do século XIX.
Inicialmente, a questão que dominou os estudos dizia respeito às origens naturais e antrópicas dos locais. A escola “naturalista” argumentava que as formações calcárias eram o resultado da redução do nível do mar e do vento sobre as conchas na praia. Por sua vez, a presença de restos mortais era atribuída a naufrágios.
O avanço das pesquisas em diversos locais e os achados de evidências indiscutíveis das atividades humanas fizeram o movimento naturalista perder relevância científica. No entanto, as origens dos sambaquis foram discutidas até a década de 1940 por alguns pesquisadores. Eles argumentavam que os sítios teriam sido criados por uma combinação de elementos naturais e antrópicos. Essa perspectiva ficou conhecida como teoria “mista”.
Embora posteriormente rejeitada, a teoria naturalística teve importante contribuição para a compreensão dos sambaquis. Alguns pesquisadores exploraram a ideia de que, mais do que o resultado de forças naturais, os sambaquis são marcadores de processos naturais. Assim podendo indicar também a variação do nível do mar. Alguns geomorfólogos, considerando que a base da alimentação dos sambaquieiros vinha do mar, acreditavam que os grupos viviam restritos ao litoral.
Para esses pesquisadores, a proximidade espacial de um local com o mar foi usada para fazer inferências sobre a dinâmica costeira. As análises recentes da evolução costeira resultaram em importantes reconstruções paleoambientais. Permitindo a caracterização dos locais escolhidos pelos sambaquieiros para construir seus assentamentos. Bem como o entendimento dos critérios que definiram a escolha do local.
Até a década de 1980, os estudiosos que consideravam os montes de conchas como depósitos de restos de comida estavam particularmente interessados em investigar restos de fauna no território brasileiro. A princípio, essa linha de pesquisa se concentrava exclusivamente na identificação de restos de animais, resultando em longas listas de espécies. Posteriormente, as listas foram complementadas com a quantificação dos elementos identificados, e os pesquisadores tentaram compreender as atividades econômicas dominantes.
Finalmente, conchas e ossos foram contados, e correlações foram feitas entre os restos mortais e a quantidade de comida que eles representavam. Os resultados dão a impressão de que a coleta de moluscos era a principal atividade de sustento da população. O objetivo dos pesquisadores foi caracterizar a dieta alimentar, tratando os locais individualmente. Isso sem avançar no delineamento das relações sociais de uma economia baseada nos recursos aquáticos.
A década de 1990 trouxe um interesse renovado pelos sambaquis, e a representação desses grupos mudou. Eles deixaram de ser vistos como grupos coletores de moluscos nômades em busca de comida. Os pesquisadores, então, começaram a discutir a organização social, os processos de formação do local e o elaborado ritual de sepultamento dos sambaquieiros. Assim, revelando interações sociais mais complexas.
Recentemente, os arqueólogos defendem a ideia de que os próprios montes de conchas são artefatos. Construídos de acordo com regras sociais que permitem estudar não apenas seu conteúdo, mas também sua forma, função e implicações de povoamento. Os montes de conchas são considerados marcadores de paisagem, transformando ainda mais as abordagens desse tipo de local.
A pesquisa com foco em grupos de sítios arqueológicos tenta entender as relações entre as unidades e suas características. Um bom exemplo pode ser visto em uma exposição organizada pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, onde os aspectos multidisciplinares da pesquisa sobre os sambaquis foram ditos como essenciais para o estudo sobre esses sítios arqueológicos.
Alguns estudiosos argumentam que, apesar das especificidades regionais e temporais, os povos sambaquieiros tinham uma noção de “individualidade coletiva”.
A comparação com outros tipos de sítios localizados no Brasil indica que o costume de construir sambaquis na planície costeira por meio do acúmulo de materiais orgânicos e de enterrar os mortos nesses espaços é exclusivo da população de sambaquis.
Estudos interessados no uso da paisagem e na distribuição espacial dos montes de conchas usam uma abordagem que envolve o conhecimento detalhado da evolução costeira, dimensões do local, função do local e processos de formação.
Assim, uma mudança interpretativa fundamental ocorreu em relação aos processos de formação dos sambaquis:
Os restos faunísticos deixam de ser vistos apenas como indicadores de dieta, mas também como materiais de construção. Essas alterações referem-se especificamente às conchas. Uma vez que estudos indicam que os moluscos não deram uma contribuição significativa para a dieta dos sambaquieiros.
Novos métodos e análises demonstram que a pesca sempre foi uma importante atividade de subsistência desses grupos costeiros. Pesquisas e análises de restos de peixes e vegetais recuperados de cálculos dentais e artefatos líticos mostram uma dieta mais diversa.
Isso inclui uma grande variedade de plantas silvestres. Uma forma incipiente de cultivo e colheita (horticultura) de tubérculos e árvores frutíferas é sugerida em muitos sambaquis. Principalmente localizados na região sudeste e em alguns no sul do Brasil.
No que diz respeito ao ritual funerário, os sambaquieiros usavam as conchas de moluscos para construir seus cemitérios. Assim, garantindo a preservação de esqueletos humanos.
Essa preservação, associada à visibilidade dos mortos, resultou num costume particular de sepultamento. Tudo dentro dessa formação calcária parece seguir a lógica de aumentar a altura do monumento. Ao mesmo tempo, garantir melhor visibilidade aos mortos.
Novos estudos são necessários para entender como os povos de sambaquis, comunidades sedentárias, bem-estruturadas e perfeitamente adaptadas à paisagem estável, desapareceram. Atualmente, os mecanismos legais de proteção desse patrimônio arqueológico são precários, o que leva à perda de informações importantes.
Nesse sentido, cientistas se esforçam para prosseguir com estudos que nos levem a entender melhor o funcionamento social das populações sambaquieiras. Além de como aconteceu, realmente, a formação dos montes de conchas encontrados no Brasil.
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