O sangue de laboratório pode salvar vidas?

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Pesquisas sobre o desenvolvimento de um sangue de laboratório, capaz de substituir o sangue normal, começaram em 2009. Porém, foi muito antes, em cerca de 1628, que o ser humano começou a considerar a transfusão de outros líquidos, como o sangue animal, à corrente sanguínea. 

Embora esses experimentos não tivessem eficácia, as descobertas sobre armazenamento de sangue, formação de coágulos e outras partes do sistema circulatório contribuíram para uma maior compreensão sobre sangue humano. A partir disso, foi apenas no século 20 que a primeira transfusão de sangue regular foi feita com sucesso. 

Porém, o sangue é uma substância complexa e que ainda não possui substitutos. Atualmente, a única forma de obtê-lo é a partir da transfusão — que depende de doadores voluntários. Diante disso, diversos especialistas abriram pesquisas para conseguir recriá-lo, popularizando o termo “sangue de laboratório”. 

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Do que é feito o sangue? 

O sangue é composto por um líquido, conhecido como plasma, e possui três tipos de células: glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. A maioria dos estudos envolvendo o sangue criado em laboratório explora o desenvolvimento de glóbulos vermelhos.  

Os glóbulos vermelhos são produzidos na medula óssea, que contém células-tronco que podem se tornar glóbulos vermelhos, glóbulos brancos ou plaquetas. A principal função dos glóbulos vermelhos é a de transportar oxigênio para o organismo com auxílio das hemoglobinas. 

Como é feito o sangue de laboratório?

Os estudos que iniciaram o desenvolvimento de glóbulos vermelhos cultivados em laboratório começaram em 2009 através de uma colaboração entre especialistas da NHS Blood and Transplant de Londres, Cambridge e Universidade de Bristol, no Reino Unido. O experimento é resultante de células-tronco de doadores, que são isoladas de uma doação padrão de sangue.

As células-tronco ficam em uma solução nutritiva que, em um período de 18 a 21 dias, encoraja a multiplicação e desenvolvimento de células mais maduras. Antes de serem infundidas em uma pessoa, as células são purificadas usando o mesmo tipo de filtro usado quando doações regulares de sangue são processadas para remover glóbulos brancos.

O ensaio clínico dessa pesquisa ocorreu em 2023, quando a voluntária Yvonne Smith, de 69 anos, tornou-se uma das primeiras pessoas a receber uma transfusão de glóbulos vermelhos cultivados em laboratório.

Smith recebeu duas injeções de até 10 ml de hemácias, ambas provenientes do mesmo doador. Uma injeção continha glóbulos vermelhos que cresceram naturalmente no doador e a outra foi o tipo de sangue de laboratório desenvolvido por pesquisadores do Reino Unido. 

“Eu não estava preocupada em receber o sangue cultivado no laboratório. [Os pesquisadores] me explicaram tudo. Eles não fariam isso se houvesse uma boa chance de algo dar errado (…)”, declarou ao NHS

Foto de LuAnn Hunt na Unsplash

A necessidade por sangue de laboratório 

Como já mencionado, a maior parte das transfusões de sangue que ocorrem são feitas através de doadores. Porém, especialistas apontam que esse tipo de boa vontade não é o suficiente para suprir as necessidades sociais de sangue, resultando em milhares de mortes por traumas, hemorragias pós-parto e anemias infantis.

De acordo com uma análise de 2021, cerca de 60% das nações do mundo — incluindo todos os países da África Subsariana, do Sul da Ásia e da Oceânia — lutam contra a escassez de bancos de sangue.

Portanto, o desenvolvimento de pesquisas com objetivo de criar o sangue de laboratório pode ser essencial na prevenção de fatalidades. 

“Os pacientes que necessitam de transfusões de sangue regulares ou intermitentes podem [como resultado] desenvolver anticorpos contra grupos sanguíneos menores, o que torna mais difícil encontrar sangue de um doador que possa ser transfundido sem o risco de uma reação potencialmente fatal.

“Esta pesquisa líder mundial estabelece as bases para a fabricação de glóbulos vermelhos que podem ser usados ​​com segurança para transfundir pessoas com doenças como a anemia falciforme.

“A necessidade de doações normais de sangue para fornecer a grande maioria do sangue permanecerá. Mas o potencial deste trabalho para beneficiar pacientes difíceis de transfundir é muito significativo”, disse o Dr. Farrukh Shah, Diretor Médico de Transfusão de Sangue e Transplante do NHS.

Júlia Assef

Jornalista formada pela PUC-SP, vegetariana e fã do Elton John. Curiosa do mundo da moda e do meio ambiente.

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