A seda é um produto da indústria têxtil resultante do bicho-da-seda — uma lagarta cujo casulo é usado para a confecção do tecido. Ela tem origem chinesa e pode ser datada há mais de 8 mil anos, quando evidências biomoleculares do tecido foram encontradas em um sítio neolítico na província de Henan.
Embora seja considerado um tecido natural e biodegradável, a seda possui diversos impactos ambientais que comprometem sua rotulagem como um produto “sustentável” da indústria têxtil. De fato, segundo o Higgs Index a seda é o produto têxtil com maior impacto ambiental de todos, incluindo poliéster, viscose/rayon e liocel.
A história da seda remonta aos tempos antigos da China — que continua sendo o maior produtor mundial do material. A lenda mais comum da origem do tecido data do século 27 a.C., quando a imperatriz chinesa Si-Ling-Chi andava por seu jardim e, aparentemente, um casulo do bicho-da-seda caiu em sua xícara de chá, dissolvendo-se e revelando fios de seda. Ao procurar a origem do casulo, a imperatriz se deparou com uma amoreira que carregava os insetos.
A demanda pelo material estabeleceu a Rota da Seda, que se estendeu através da Ásia, Oriente Médio e Europa. E, apesar do tecido continuar sendo fabricado, majoritariamente, através do monopólio chinês na época, por volta de 550 dC, dois monges contrabandeavam ovos de bicho-da-seda em suas bengalas — o que contribuiu para a disseminação do material.
O material é produzido dentro da sericicultura — o cultivo de bichos-da-seda para a confecção do tecido. Nela, as larvas da mariposa Bombyx mori se alimentam em folhas de amoreiras e depois criam uma proteína secretada naturalmente em um casulo. Esse processo leva, em média, de dois a três dias.
Na natureza, após esse período, a mariposa secreta um líquido capaz de romper as ligas da seda, permitindo a sua eclosão do casulo. No entanto, a sericicultura foi responsável pela domesticação desse inseto, que não existe fora do monopólio da indústria têxtil.
Sendo assim, para evitar que os animais danifiquem a seda, os casulos são introduzidos na água fervente, que mata as larvas e remove a goma de sericina, e o filamento é recuperado intacto.
O filamento é ligado a outros, que permite a produção de fios de seda. Então, todos os fios são coletados em rodas e transformados no tecido.
Cada inseto é responsável pela produção de um casulo que pode atingir até 1 quilômetro de comprimento. São necessários cerca de 2.500 bichos-da-seda em filamento para produzir cerca de meio quilo de seda.
Mais de 10 milhões de agricultores criam bichos-da-seda na China, produzindo cerca de metade da oferta mundial do tecido. Entretanto, muitos acreditam que o material é uma consequência do sofrimento de milhões de animais.
Embora muitos questionem a senciência de insetos em geral, a seda é um produto do sofrimento animal — acredita-se que mais de 6 mil insetos sejam mortos para a confecção de apenas um quilo do material.
Além disso, as mariposas fêmeas da indústria são descartadas e seus corpos são examinados ao microscópio em busca de doenças após botarem os ovos. Os machos, por outro lado, são imediatamente descartados após o acasalamento.
Diversos fatores contribuem para a pegada ambiental da seda, tornando-a um material de grande impacto. São eles:
Cerca de 187 quilos de folhas de amoreira são necessários para a produção de apenas um quilo do tecido. Como as amoreiras perdem as folhas anualmente, a produção disponível é limitada a uma geração por ano.
Por outro lado, embora as amoreiras não necessitem de fertilizantes ou pesticidas, muitos agricultores utilizam essas substâncias, contribuindo para a eutrofização de corpos d’água e pela contaminação do solo.
Além disso, a irrigação das árvores contribui para a pegada hídrica do tecido, além de consumir energia.
A energia é um dos principais fatores que contribuem para o impacto ambiental da seda. Isso é uma resposta ao cultivo das lagartas da mariposa Bombyx mori, que requerem certa umidade e temperatura específicas.
Devido ao monopólio chinês da sericicultura, a sua produção requer uma grande quantidade de energia para ar condicionado e controle de umidade. Dentro de toda a confecção do produto, acredita-se que a parte do processo que consome mais energia tende a ser cozinhar os casulos.
Os químicos podem ser usados em diversas partes do processo de produção da seda — tanto dentro da limpeza do material quanto no seu tingimento. Essas substâncias podem ser liberadas não-tratadas diretamente na natureza, contribuindo para a poluição do solo e de corpos d’água circundantes às fábricas.
Parte da indústria têxtil responsável pela produção da seda reside em países com baixos custos laborais, resultando na exploração de trabalhadores — com muitas evidências apontando para o trabalho infantil. Em 2003, a Human Rights Watch estimou que 350 mil crianças na Índia trabalham como trabalhadores forçados na indústria da seda, muitas delas em “condições de abuso físico e verbal”.
Adicionalmente, parte desses trabalhadores sofrem com a exposição aos tóxicos usados na indústria, comprometendo a sua saúde e qualidade de vida. De acordo com uma pesquisa de 2016:
“Embora a seda seja de origem natural, a indústria da seda envolve certos riscos à saúde em todos os segmentos do processamento da seda, desde o cultivo da amoreira até o acabamento da seda, incluindo pesticidas e herbicidas, toxicidade do campo da amoreira, envenenamento por monóxido de carbono, criação anti-higiênica, uso de desinfetantes que causam problemas respiratórios e atuam como cancerígenos”.
Frente aos problemas da indústria, muitos consumidores procuraram alternativas cruetly-free do tecido, o que impulsionou a criação da seda ohimsa, ou “seda da paz”. Porém, segundo informações da PETA, “embora os vendedores afirmem que estes materiais foram produzidos a partir de casulos recolhidos após o surgimento natural das mariposas, não existem autoridades de certificação para garantir que estes padrões sejam respeitados, e há relatos de seda convencional sendo vendida como ‘seda da paz’.”
Existem tecidos similares à seda, mas confeccionados através de fibras sintéticas, como o poliéster e o nylon, cuja produção possui impactos ambientais. Portanto, a melhor alternativa é a exclusão de fibras sintéticas e animais.
A maioria da seda comercializada em escala industrial é feita a partir do bicho-da-seda, porém, alguns fabricantes exploram outros métodos de confecção do tecido. Esse é o caso da teia de aranha, que é vista como uma alternativa ao material convencional devido à sua resistência.
Pensando nisso, Junpeng Mi, pesquisador da Faculdade de Ciências Biológicas e Engenharia Médica da Universidade Donghua, criou a primeira seda feita a partir de bichos-da-seda geneticamente modificados.
Em uma pesquisa publicada no jornal Matter, o especialista evidenciou sem campo de estudo. Nele, Mi e seus colegas introduziram uma proteína específica de uma espécie de aranha ao DNA dos bichos-da-seda, o que resultou na criação de fibras de alta resistência à tração (1.299 MPa) e tenacidade (319 MJ/m3).
“A seda da aranha é um recurso estratégico com necessidade urgente de exploração. O desempenho mecânico excepcionalmente alto das fibras produzidas neste estudo é uma promessa significativa neste campo. Esse tipo de fibra pode ser utilizado como suturas cirúrgicas, atendendo a uma demanda global superior a 300 milhões de procedimentos anuais”, disse o especialista.
Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.
Saiba mais