A senciência é a capacidade de sentir, seja dor e sofrimento, ou felicidade e entusiasmo
A senciência é a habilidade de ter consciência ou a susceptibilidade de sentir. Geralmente, o termo faz referência à capacidade de sentir algo, bom ou ruim, através da percepção de sentidos. Os humanos são considerados seres sencientes, mas o debate sobre a senciência de outros animais ainda não é um acordo entre estudiosos.
De acordo com o pesquisador Dr. Gilson Volpato, a senciência é “habilidade de subjetivamente experimentar dor, frio, conforto, desconforto, e conscientemente diferenciar estados internos como bons ou ruins, agradáveis ou desagradáveis“. Em outras palavras, todos os animais são sencientes a partir do momento que sentem sensações desagradáveis ou agradáveis.
O que é senciente na filosofia?
Ainda no século XVI, o filósofo René Descartes definiu os animais não humanos como “máquinas sem alma”. Sendo assim, todas as suas ações eram tomadas por instinto, e eles não teriam consciência a respeito de suas condições. A ideia de Descartes, que os animais são incapazes de sofrer ou sentir felicidade, se tornou popular entre a população, resultando na relação de hierarquia entre humanos e outros animais.
Foi apenas no século XVII que o filósofo Jeremy Bentham passou a defender a senciência animal. De acordo com Bentham, as pessoas deveriam entender essas criaturas não como seres dotados de razão ou linguagem, mas como capazes de sofrer e sentir prazer. Não muito depois, Charles Darwin veio com a ideia de que os animais têm uma atividade mental semelhante à dos humanos, e portanto, têm algum grau de consciência.
A partir disso, a ciência começou a incluir certos grupos animais no círculo de senciência. Porém, foram incluídos apenas animais vertebrados, como o porco, cachorro, papagaio, vaca e outras espécies de companhia. Os invertebrados ficaram fora da lista, e até hoje não há consenso entre os pesquisadores se eles são sencientes ou não.
Qual é a importância do conceito de senciência?
Saber se os animais são sencientes é essencial para a criação de políticas que protejam os seus direitos. Mesmo que todos os seres devam ser respeitados independente de serem ou não conscientes — como as árvores devem ser preservadas — esse conceito é importante para a conscientização da sociedade e da institucionalização dos direitos animais.
Desta forma, uma pessoa que entende que um coelho tem consciência vai se sentir menos propensa a causar algum mal para ele. Essa ideia foi importante para muitas políticas públicas, como a proibição de testes em animais, que existem atualmente para proteger diversas espécies. Afinal, boa parte dos humanos podem concordar com a proteção da fauna a partir do momento que enxergam esses seres como criaturas capazes de sentir dor.
É dessa premissa que partem alguns hábitos veganos. Isso porque o veganismo prega pelo fim da exploração animal, realizada por diversas indústrias. Por esse motivo, os veganos optam por não fazer o consumo de derivados animais ou de produtos neles testados, já que entendem que eles são seres sencientes e sofrem demais com as práticas realizadas por algumas empresas.
Quais os critérios para identificar um animal como senciente?
Ao todo existem três critérios gerais para definir a senciência de um animal:
Comportamentos: quando um ser vivo experimenta um sofrimento e passa a adotar modos para evitá-lo, isso significa que ele é de alguma forma senciente. Por exemplo: um cachorro que se queimou passa a evitar ficar perto do fogo, e até se assusta ao vê-lo.
O mesmo pode ser identificado com experiências positivas, um exemplo são animais que aprendem a dar a pata por terem recebido um petisco em troca. Para além disso, também é levado em consideração os comportamentos que ajudam a manter esse ser vivo no dia a dia;
Considerações evolutivas: considera-se que se os animais têm os comportamentos citados acima é porque eles os ajudaram em sua sobrevivência, portanto, isso é algo evolutivo. Sendo assim, a consciência seria um fator evolucionário. Segundo especialistas, a consciência é uma atividade que cobra energia do funcionamento mental dos animais e humanos, e se não fosse necessária, provavelmente não teria sobrevivido ao processo evolutivo;
Presença de sistema nervoso central: a senciência só ocorre em seres com sistema nervoso central. Sendo assim, aqueles que contam com um sistema nervoso que não é centralizado não atendem os critérios citados. Entretanto, vale pontuar que nem todos os sistemas nervosos são iguais, alguns são mais complexos que outros;
Outras características fisiológicas que apontam a senciência:
- Substâncias analgesicas liberadas pelo organismo animal para reduzir o estresse e o sofrimento em situações de risco;
- Condutores sensoriais, como nociceptores, que transmitem informações sobre danos nos tecidos ao cérebro;
O que diferencia o ser humano das demais espécies sencientes?
Todos os animais têm um nível diferente de senciência, no caso do ser humano, sua capacidade de pensar antes de fazer algo ou tomar uma decisão é um diferencial. Além disso, as pessoas transcendem o previamente estabelecido, sendo uma espécie que necessita ser educada e educar-se na medida em que produz cultura (1).
Qual é a diferença entre senciência e sapiência?
A senciência (do latim “sentire”) é a habilidade de sentir, ou de experienciar algo como tristeza ou felicidade. Enquanto a sapiência (do latim “sapere”) significa inteligência e conhecimento.