Pesquisadora do IG analisa o uso de medidores de umidade do solo para monitoramento de encostas e identificação antecipada de escorregamentos
Por ELIANE FONSECA DARÉ/IG, do Jornal da UNICAMP
Todos os anos no Brasil, deslizamentos em encostas naturais, associados a perdas econômicas e de vidas humanas ocupam as manchetes dos jornais. O aquecimento global e os eventos climáticos extremos ampliaram ainda mais o desafio de monitorar essas áreas para reduzir os impactos desses fenômenos. Malena D´Elia Otero, doutoranda em Geociências do IG/Unicamp, pesquisa sensores que ajudam a prever a ocorrência de escorregamentos, fenômenos que levam à instabilidade de encostas.
“Vemos isso acontecer em quase toda estação chuvosa no Sudeste do Brasil, quando ocorrências deste tipo interditam estradas, por exemplo, ou, em casos mais graves, destroem moradias e levam a perdas não só materiais, mas principalmente humanas”, lembra a pesquisadora. “No mestrado, trabalhei em laboratório, simulando escorregamentos em uma caixa experimental. Todos os experimentos foram instrumentados com acelerômetros e o objetivo principal da pesquisa era verificar se esses sensores, que não são comumente utilizados para este fim, eram capazes de identificar sinais prévios ao escorregamento”, explica.
A partir dos resultados promissores na etapa da dissertação, no doutorado, a pesquisadora partiu para a aplicação desses sensores em escala real, em uma encosta do Guarujá, litoral sul do Estado de São Paulo, onde já aconteceram escorregamentos. “Vamos utilizar sensores para medição de umidade do solo. Caso seja confirmada a hipótese de que, por meio destes dispositivos, é possível antecipar a ocorrência de escorregamentos, eles poderão ser incluídos nos chamados ‘Sistemas de Alerta Antecipado (SAA)’”, aponta Malena.
A pesquisa é realizada em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) e conta com financiamento da Fapesp e da Capes. Malena é orientada por Ana Elisa Silva de Abreu, do Departamento de Geologia e Recursos Naturais.
De acordo com a docente, os SAA são sistemas de monitoramento e predição de perigos e de prevenção de desastres, cujo principal objetivo é gerar dados para alertar a população com tempo suficiente para que esta possa adotar medidas de redução de perdas materiais e humanas, como por exemplo, a evacuação de uma área.
É importante salientar que esses sistemas de alerta não evitam que aconteça o escorregamento, mas agem na redução das possíveis consequências, daí a importância de monitorar as variáveis associadas ao processo de deflagração dos deslizamentos. “No Brasil, onde estes fenômenos estão diretamente relacionados com as chuvas, tradicionalmente os sistemas de alerta são baseados no monitoramento dos níveis pluviométricos e em relações empíricas de probabilidade de ocorrência de escorregamento em função dos níveis pluviométricos medidos. Incluir sensores que monitoram outras variáveis dentro destes sistemas pode tornar os SAA mais robustos e, consequentemente, mais confiáveis, além de permitir o monitoramento remoto, sem necessidade de vistorias em campo em eventos perigosos”, explica a docente.
Malena foi a única brasileira selecionada para participar da “Escola de verão da Associação Internacional de Geologia de Engenharia e Meio Ambiente: impacto das instabilidades de taludes em grandes infraestruturas” (First Summer School of the International Association for Engineering Geology and the Environment: Impact of Slope Instabilities on Large Infrastructures), entre os dias 4 e 15 de julho na Itália e na Áustria. A expectativa da pós-graduanda do IG é saber o que está sendo pesquisado em outras partes do mundo sobre o tema e trocar experiências. “Oportunidades como esta, que nos colocam em contato com pessoas de diferentes lugares do mundo, nos permitem aprender formas novas de lidar com problemas. Quero saber como cada um, no seu local, monitora instabilidades de taludes, quais são as inovações nessa área e outras formas de abordagens às quais não estamos acostumados aqui; tudo isso ainda num contexto geológico muito diferente do brasileiro”, espera.
Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da UNICAMP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.