Ser mãe é fim de carreira? Entenda a problemática

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Ser mãe é fim de carreira? Muitas mães se questionam sobre isso ao precisar equilibrar suas vidas profissionais com a criação de seus filhos. Isso porque as normas sociais de gênero fazem com que mulheres acreditem que seu papel no mundo é apenas o materno. E mesmo que essas regras estejam sendo quebradas ao decorrer do tempo, a culpa ainda segue muitas mulheres.

Aleitamento materno faz bem para mãe e bebê

A sociedade e o mercado de trabalho levam as mães a acreditarem que ser mãe é fim de carreira. Mas a maternidade não põe um ponto final aos seus sonhos ou metas profissionais. Apesar das coisas se tornarem mais difíceis, ser uma mãe que trabalha pode ser bom tanto para a mulher quanto para a criança.

Trabalhar ou ser mãe  

Um estudo, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que cerca de 54,6% das mulheres de 25 a 49 anos, que são mães de crianças de até 3 anos, estão empregadas. Esta questão se explica pela ideia de que nos primeiros estágios da vida, a criança pode precisar da mãe em muitos momentos.

Alguns empregadores creem que ter um filho pode significar que a funcionária terá um desempenho pior. Por isso, algumas dessas mulheres acabam desempregadas ao voltarem da licença maternidade ou até mesmo por não serem aceitas em lugar nenhum. 

Além do preconceito que sofrem dentro do mercado de trabalho, essas pessoas podem sofrer dentro das próprias casas. Afinal, nem todas as famílias lidam bem com a maternidade ligada a uma carreira profissional. Existem indivíduos que ainda pregam que o papel da mulher é cuidar dos filhos 24 horas por dia, e isso pode acabar atrapalhando cada vez mais suas carreiras. 

A falta de ajuda paterna na criação dos filhos também pode ser um dos motivos para o abandono profissional da figura materna. Afinal, o trabalho domiciliar acaba gerando uma jornada dupla para mães, que gastam horas em seus empregos e ainda cuidam de seus filhos. Por isso, algumas pessoas passam a acreditar que ser mãe é fim de carreira.

Outro problema é a falta de políticas públicas adequadas para a criação dos filhos. Falta de creches, salário-maternidade (afinal, é um trabalho produtivo e importante para a reposição da própria mão de obra futura para a economia), carga horária de trabalho excessivo e poucos dias de licença paternidade e maternidade dificultam a criação dos filhos. 

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Culpa materna

Depois que a mãe retorna da licença maternidade, ela pode passar por um processo de culpa materna, que também pode acabar fazendo com que ela acredite que ser mãe é fim de carreira. A culpa materna é o sentimento constante ou esporádico que a figura materna sente, por não se sentir o suficiente na criação do filho.

A culpa materna pode fazer com que a mãe sinta que está negligenciando, traumatizando e não sendo boa o suficiente para a criança. Algumas pessoas sentem isso ao voltar ao trabalho, por diversos motivos, desde achar que está perdendo os melhores anos do filho até pensar que está o colocando em risco de algum perigo.

Esse sentimento pode fazer com que essas mães decidam largar seus empregos, e nunca mais voltarem. Para que assim, elas consigam ter tempo o suficiente para a educação e criação de sua criança. Apesar desta ser uma decisão válida, muitas vezes ela não chega a ser sincera, pois a mãe acaba sentindo saudade de sua carreira e trabalho, mas tem medo de voltar e acabar gerando problemas. 

Obstáculos de uma mãe no mercado de trabalho

Discriminação por grávidez

Ao descobrirem que estão grávidas, gestantes podem passar por diversos tipos de discriminação no trabalho. Isso porque ainda existe um grande estigma sobre gestantes no mercado de trabalho.

Essas mulheres podem enfrentar falas preconceituosas de seus colegas de trabalho a respeito de sua aparência ou das mudanças de humor que ocorrem durante a gestação. Além disso,  ao retornarem da licença-maternidade,  as mães correm o risco de perderem seus empregos, ou oportunidades de serem promovidas.

Desta forma, é preciso ter em mente que qualquer tipo de discriminação por gravidez no trabalho, seja assédio moral, físico ou sexual, é considerado crime. Para realizar uma denúncia, basta entrar em contato com o Ministério do Trabalho e Previdência, o sindicato da classe trabalhista da qual você faz parte ou um advogado ou advogada da área trabalhista. 

Problemas durante e depois da licença-maternidade

No Brasil, qualquer gestante tem o direito de se afastar do trabalho por 120 dias durante a licença-maternidade, sem que ocorra qualquer prejuízo em seu salário ou cargo na empresa. No entanto, alguns empregos não levam essa lei a sério e acabam causando mais dificuldades para a mãe.

Muitas vezes, uma gestante pode acabar sendo demitida antes, durante ou depois de sua licença-maternidade. Principalmente porque existe a ideia errônea que grávidas não são boas funcionárias, devido a sua necessidade médica e emocional. Essas ações podem fazer com que essas mães sintam desânimo na hora de buscar um emprego, por medo de terem ofertas negadas.

A falta de pagamento correto e de oferta de melhores posições também acaba causando certa desistência da grávida no mercado de trabalho. Além de fazer com que a pessoa acredite que ser mãe é fim de carreira, a deixando estagnada em uma posição “confortável”.

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Falta de emprego para mães solo

Ser uma mãe solo significa criar os filhos sozinha, sem a companhia de um parceiro ou parceira. Essas mães encontram dificuldades em serem empregadas pelo único fato de já enfrentarem a realidade da maternidade. Isso, para muitas pessoas, pode significar que ser mãe é fim de carreira, mas não é bem assim.

Ou seja, as empresas deixam de contratar mães por não quererem pagar benefícios a mais, como convênio médico, ou por medo de que elas não sejam tão comprometidas à função. Esses empregadores acreditam que, por terem uma responsabilidade com seus filhos, as mães não serão fiéis à empresa, podendo largá-la a qualquer momento ou optarem por dar preferência às necessidades da criança. 

Dificuldade em encontrar creches, babás e escolas integrais

Escolher voltar para a rotina do trabalho significa ter que deixar o filho em algum lugar enquanto se cumpre o expediente. No Brasil, as mães optam por matricular a criança em escolas integrais ou em creches, públicas ou privadas. 

Porém, nem sempre é fácil encontrar vaga para que a criança conviva nesses lugares. Pessoas com baixa condição financeira dificilmente conseguem pagar creches particulares, e quando há busca pelas públicas, elas encontram problemas em conseguir uma vaga para a criança. O problema é ainda maior para pessoas que têm filhos com necessidades diferentes, como os autistas, amputados, surdos, cegos e com mobilidade reduzida.

Como uma maneira de evitar isso, as mães optam por contratar babás ou deixar o filho com algum parente próximo. Caso essas opções não estejam disponíveis, fica difícil para a figura materna conseguir conciliar o cuidado da criança com o trabalho. Por isso, muitas vezes, ser mãe é fim de carreira para algumas pessoas. 

Medo de perder o crescimento dos filhos

Nem todos os empregos são flexíveis quando se trata de carga horária. Por isso, mães que não se deixam apegar pelo pensamento de que ser mãe é fim de carreira, passam por alguns obstáculos para conseguir estar presente na vida dos filhos.  

Como a necessidade de um emprego vai muito além da satisfação profissional, afinal, estar empregado também é um sinal de estabilidade financeira. As mulheres podem optar por não estarem tão presentes na vida de seus filhos, como forma de manter o emprego e manter a criança em uma vida confortável.

Essas mães podem eventualmente perder alguns momentos importantes da vida da criança, como apresentações na escola, formaturas e até mesmo coisas do cotidiano como brigas e namoros. Isso acontece porque o trabalho não oferece a flexibilidade necessária para que essa mãe possa estar presente em eventos importantes para o filho.

Desta forma, muitas mães optam por não voltarem ao mercado de trabalho até que os filhos estejam mais velhos, pois a configuração da sociedade faz elas acreditarem que ser mãe é fim de carreira.

Voltar a trabalhar

Existem alguns dados que provam que a volta ao trabalho pode trazer tantos benefícios quanto malefícios para a mãe e o filho. É preciso ter em mente que, em ambas as situações, existem vantagens e desvantagens e que é preciso parar de alimentar a ideia de que ser mãe é fim de carreira

Um estudo mostrou que a quantidade de tempo que uma mãe passa com seu filho, dos 2 aos 11 anos, não faz diferença nenhuma em seu crescimento. Na verdade, os pesquisadores afirmam que um tempo de qualidade vale mais do que passar todo o tempo junto. Por isso, voltar ao trabalho não vai afetar de forma negativa sua relação com seu filho se você sempre tiver tempo separado para aproveitarem juntos.

Além disso, a pressão colocada sobre as mães, de que elas precisam passar bastante tempo com os filhos, pode acabar gerando estresse que resulta em uma criação ruim. O nível de educação e as conquistas profissionais podem ter mais impactos nos filhos do que o tanto de tempo que eles passam juntos.

Voltar ao trabalho depois de ser mãe pode ser uma boa maneira de exercitar o intelecto em um campo que lhe interessa. Além de ajudar na criação de um senso de satisfação que não estará ligado ao sucesso de seus filhos. Passar o tempo com outros adultos também pode ser ótimo para melhorar a relação com as crianças, afinal, passar muito tempo cercado por elas pode causar desavenças.

Por fim, a volta ao trabalho significa ganhar dinheiro próprio e ser capaz de gerar seguridade financeira para a família. Essas duas coisas combinadas, além de melhorarem a condição de vida dos envolvidos, podem aumentar a autoestima da mãe. 

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Diferença de impacto para os homens e para as mulheres

É comum ouvir que ser mãe é fim de carreira, mas quase ninguém fala sobre ser pai. Isso porque a discriminação parental no trabalho está ligada ao gênero.

Desta maneira, mulheres enfrentam bem mais obstáculos no mercado de trabalho do que os homens quando se tornam pais.  Um estudo, feito pela Harris School of Public Policy at the University of Chicago, mostrou que as mães são mais propensas a ficarem encarregadas da maior parte das responsabilidades domésticas, além do trabalho, do que homens.

Na verdade, cerca de 35% das mães afirmaram que fazem mais do que seus parceiros quando se trata de cuidados domésticos. Enquanto apenas 3% dos homens afirmam isso. Quando se fala de emprego, ser mãe é fim de carreira, pois 47% das mulheres afirmam que ter filhos é um obstáculo para desenvolvimento de sua profissão.

A pesquisa também mostrou que pessoas que têm filhos são mais propensas a receberem menos do que indivíduos sem filhos no mesmo cargo. O que impacta mais ainda as mulheres, já que mesmo sem filhos, elas têm maior probabilidade de receber menos do que homens no mesmo cargo. Tudo isso alimenta mais ainda a ideia de que ser mãe é fim de carreira

Ana Nóbrega

Jornalista ambiental, praticante de liberdade alimentar e defensora da parentalidade positiva. Jovem paraense se aventurando na floresta de cimento de São Paulo.

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