Ambientalista propõe uma nova linguagem que transforme nossa atual situação em uma oportunidade, ao invés de apenas uma crise
Às vésperas da Cop28, o renomado ambientalista suíço, Bertrand Piccard, erguerá sua voz em uma plataforma de destaque na conferência para instigar uma reflexão acerca das palavras que utilizamos ao discutir as mudanças climáticas. Segundo Piccard, muitos termos associados ao clima têm o poder de incutir medo nas pessoas, ao invés de motivá-las à ação. Ele propõe uma nova linguagem que transforme nossa atual situação em uma oportunidade, ao invés de apenas uma crise.
A expressão-chave em discussão é “economia verde”, que, segundo Piccard, mobiliza os ambientalistas, porém afasta aqueles que veem nela um ataque ao seu modo de vida ou um aumento em suas contas. Sua sugestão é rebatizá-la como “economia limpa”, afinal, quem gosta do que é considerado “sujo”? Da mesma forma, propõe substituir “energia verde” por “energia limpa”. Piccard elaborou uma lista abrangente de termos de uso comum que, em sua visão, necessitam de uma reformulação na abordagem comunicativa.
A importância da linguagem transcende as conversas informais e adentra as salas de negociação da Cop28, onde os EUA buscam substituir o termo “compensação” por “perdas e danos” ao referir-se às nações prejudicadas por eventos climáticos que não provocaram. A mudança na terminologia reflete uma estratégia mais neutra e eficaz. No cenário externo, a evolução das definições acompanha o crescimento do conhecimento, como o deslocamento das antigas nomenclaturas “efeito estufa” e “aquecimento global” para o abrangente termo “alterações climáticas”.
Contudo, há divergências sobre a adequação do termo “alterações climáticas”. Alguns críticos preferem usar as expressões “crise” ou “emergência climática”. Essa escolha lexical, no entanto, não é isenta de controvérsias, sendo acusada de greenwashing e viés pró-negócios.
A proposta de Piccard inclui substituições como “economia verde” por “economia limpa”, “custo” por “investimento”, “crise” por “oportunidade”, “problema” por “solução”, “sacrifício” por “vantagem”, “empregos perdidos” por “novas profissões”, “ecológico” por “lógico” e “salvar o planeta” por “proteger nossa sociedade”.
Críticas e análises se fazem presentes. O veterano estrategista ambiental, Chris Rose, destaca a necessidade de compreender as diferentes prioridades dos diversos públicos envolvidos nas discussões climáticas, ressaltando a importância de testar as ideias antes de implementá-las.
John Marshall, da organização sem fins lucrativos Potential Energy Coalition, propõe abandonar a linguagem tecnocrática e termos abstratos, enfatizando a importância de “falar como humanos” e envolver as pessoas através de experiências palpáveis, como extremos climáticos e desastres naturais.
A urgência de agir diante dessa crise climática é evidente, e é necessário repensar não apenas as políticas, mas também a maneira como comunicamos a gravidade da situação. A comunicação eficaz é a chave para mobilizar as massas e criar uma consciência coletiva que impulsione ações significativas em prol do nosso planeta.
Fonte: The Guardian