Por Nações Unidas Brasil em Nações Unidas Brasil – Durante o “Dia das Finanças” na COP26, na quarta-feira (3), banqueiros, seguradoras e investidores firmaram uma aliança que promete colocar a ação climática no centro das atividades do setor.
Agora conhecida como Aliança Financeira de Glasgow, o grupo inclui 500 empresas de serviços financeiros globais que prometeram alinhar 130 trilhões de dólares com as metas climáticas estabelecidas no Acordo de Paris.
O enviado especial da ONU para Ação Climática e Finanças, Mark Carney, responsável pela aliança, pontuou que os novos compromissos representam um fim do “blá blá blá” e caminham para uma ação climática com “foco no cliente, indo até onde estão as emissões para ajudar a reduzi-las”.
As promessas também indicam o caminho para o setor privado, usando diretrizes científicas, para alcançar emissões líquidas zero até 2050 e se comprometer com metas de curto prazo para uma redução de 50% até 2030 e de 25% nos próximos cinco anos.
Um grande anúncio foi o destaque do ‘Dia das Finanças’ na COP26, quase 500 empresas de serviços financeiros globais concordaram na quarta-feira (03) em alinhar 130 trilhões de dólares – cerca de 40% dos ativos financeiros mundiais – com as metas climáticas estabelecidas no Acordo de Paris, incluindo a limitação do aquecimento global a 1,5ºC.
Os membros da recente Aliança Financeira de Glasgow para as Emissões Zero, em inglês Glasgow Financial Alliance for Net Zero, que inclui um grupo de banqueiros, seguradoras e investidores, se comprometeram a colocar a mudança climática no centro de seu trabalho. O enviado especial da ONU para Ação Climática e Finanças, também ex-governador do Banco da Inglaterra, Mark Carney, foi o responsável por reunir o grupo durante a Conferência.
Transição global – “A mensagem central hoje é que o dinheiro está aí, o dinheiro está aí para a transição e não é blá-blá-blá”, disse Carney aos delegados durante um evento de finanças climáticas na COP26 .
O ex-governador do Banco da Inglaterra ressaltou que vê as Emissões Zero como a infraestrutura crítica do novo sistema financeiro.
“É uma questão de foco no cliente, indo até onde estão as emissões para ajudar a reduzi-las. Então, as empresas que têm planos para reduzir as emissões vão encontrar o capital, as que não têm, não vão. Portanto, é altamente recomendável colocar esses planos em prática ”, explicou.
O compromisso vem com um caminho pelo qual as empresas envolvidas, incluindo a maioria dos principais bancos ocidentais, devem usar diretrizes baseadas na ciência para alcançar emissões líquidas zero até 2050 e se comprometer com metas provisórias para uma redução de 50% até 2030, e também uma redução de 25% nos próximos cinco anos.
Isso significa ajustar seus modelos de negócios, desenvolver planos confiáveis para a transição e, em seguida, implementá-los. “E com relatórios anuais críticos, teremos o retorno sobre quem está indo bem, quem precisa fazer mais e em termos de política, o que existe e o que não existe”, destacou Carney.
A importância do financiamento privado – De acordo com a Aliança, o financiamento privado pode alavancar iniciativas do setor privado e transformar bilhões prometidos em investimento climático em trilhões por meio de canais públicos. Mas desbloquear a mudança sistêmica exigirá compromissos ambiciosos e colaborativos e ações de curto prazo em todo o sistema financeiro.
“Até hoje não havia dinheiro suficiente no mundo para financiar a transição, este é um divisor de águas”, disse o enviado especial à plenária da COP.
De acordo com Patricia Espinosa , Secretária Executiva da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), não há dúvida de que deve haver uma transformação profunda da economia mundial e o setor privado deve fazer parte dela.
“O setor privado está percebendo que os riscos climáticos são muito importantes para seus portfólios e precisam alinhá-los a uma forma mais sustentável de fazer as coisas”, disse ela a jornalistas em uma entrevista coletiva.
Enquanto isso, para a chefe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Inger Andersen, a nova aliança com o setor privado é “uma causa absolutamente crítica”.
“Nosso Relatório de Lacunas de Emissõesmostra isso: restam cerca de 500 gigatoneladas (de emissões de CO2), com os atuais NDCs (planos nacionais de redução de emissões), eliminamos 4 gigatoneladas (das emissões), mas estamos emitindo 55 por ano. A conta não bate… Existem algumas oportunidades reais para o setor financeiro, precisamos ficar longe do carvão, petróleo e gás”, explicou Andersen.
A resposta das empresas – Guenther Thallinger, da multinacional alemã de serviços financeiros Allianz, expressou seu compromisso com Aliança financeira firmada em Glasgow.
“Tudo começa com a mudança da tomada de decisão que todos nós temos como instituições financeiras. O impacto do clima precisa ser integrado na tomada de decisão, por isso as metas intermediárias são tão importantes. Todos nós traçamos esse tipo de metas, e é muito importante que sejam de curto prazo”, disse ele a um painel reunido na Zona de Ação da COP26.
“Estamos literalmente aqui criando uma nova indústria, novas regras básicas para uma nova indústria que está priorizando ações climáticas. Para isso, precisamos de todas as coisas tradicionais, precisamos de medição, precisamos de métricas, precisamos de relatórios… Quero aproveitar a oportunidade para compartilhar que anunciaremos nossa primeira rodada de metas provisórias ”, acrescentou a diretora de sustentabilidade da Morgan Stanley, Audrey Choi.
Falta empenho do setor público – Na COP15, em 2009, o financiamento do clima de 100 bilhões de dólares por ano até 2020 foi acordado para apoiar a resiliência, a adaptação e as transições de energia nos países em desenvolvimento. A promessa, até hoje não cumprida, foi oficialmente atrasada para 2023.
No entanto, o presidente da COP26, Alok Sharma, deu boas notícias: 90% da economia mundial possui uma meta de zero emissões líquidas. Apenas 30% tinham se comprometido no início de 2020.
“É lamentável que seja altamente improvável que cumpramos a meta de 100 bilhões em 2021, mas com base nas informações apresentadas pelos doadores, a análise mostra que os países desenvolvidos farão avanços significativos para a meta de 100 bilhões de dólares em 2022, e eu acredito que também oferece a confiança de que atingiremos a meta em 2023”, disse ele em entrevista coletiva na quarta-feira (03).
No início do mesmo dia, e referindo-se ao mesmo assunto, o chanceler do Reino Unido, Rishi Sunak, pediu aos países desenvolvidos que aumentem seu apoio aos países em desenvolvimento, inclusive ajudando-os a aproveitar os trilhões de dólares comprometidos com o zero líquido pelo setor privado.
A chefe do clima da ONU, Patricia Espinosa, enfatizou que alguns avanços foram feitos nesse sentido. “Os Estados Unidos se juntaram a Grã-Bretanha, França, Alemanha e União Europeia em uma parceria multibilionária para apoiar a África do Sul no financiamento da transição igualitária do carvão. Essa iniciativa está avaliada em 8,5 bilhões de dólares ao todo”, afirmou.
A oficial da ONU acrescentou que o Japão e a Austrália anunciaram compromissos para dobrar seu financiamento de adaptação, e os Estados Unidos, Suíça e Canadá também aumentaram significativamente seu apoio financeiro à causa.
Além disso, os países também se comprometeram a canalizar 12 bilhões de dólares para financiamento climático relacionado à florestas entre 2021-2025.
“Novos compromissos foram assumidos pela Espanha, Irlanda, Luxemburgo, então espero que até o final desta conferência possamos realmente alcançar a meta de 100 bilhões talvez em 2022”, concluiu Espinosa.
Sobre a COP26 – O objetivo principal da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, ou COP26, é induzir líderes mundiais a firmarem compromissos verdadeiros e efetivos para reduzir as emissões que causam o aquecimento do planeta o suficiente para evitar que as temperaturas subam mais de 1,5º em comparação com os níveis pré-industriais.
Também conhecida como Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, o evento dura duas semanas, entre 31 de outubro e 12 de novembro.
- Entenda mais sobre a COP26 e termos importantes para a Conferência em nosso Guia e no Glossário sobre o evento. O PNUMA também preparou um Guia sobre a Ciência Climática.