Sharenting é a prática de expor a imagem de uma criança na internet de forma exagerada. O termo vem do inglês “share” que pode ser traduzido como “compartilhar” e “parenting”, traduzido como “parentalidade”. Ele foi criado em 2010, nos Estados Unidos, por um jornalista do The Wall Street Journal, para determinar o hábito que alguns pais têm de compartilhar tudo sobre seu filho nas redes sociais.
Com o avanço da tecnologia e das redes sociais, compartilhar fotos e vídeos da infância dos filhos se tornou mais prático e rápido do que era no último século. Agora, basta abrir a câmera do seu celular, tirar fotos e publicá-las nas redes sociais, para que milhares de pessoas tenham acesso a um momento da vida da criança.
Apesar do lado positivo de compartilhar um momento feliz com amigos próximos e entes queridos, a prática do sharenting pode representar um perigo para a vida do seu filho.
Publicar a foto do seu filho uma vez ou outra é algo normal. Afinal, a maioria das pessoas tem vontade de compartilhar um pouco da sua vida na internet — seja para ter um tipo de lembrança ou para que os outros também possam ver. Porém, quando esse hábito se torna frequente e excessivo, ele se transforma em sharenting.
Por exemplo: uma pessoa que posta vídeos engraçados de sua criança no dia a dia pode perceber que esse conteúdo chama a atenção e tem muitas visualizações. Quando esse hábito começa a ter retorno, financeiro ou social, o indivíduo pode se aproveitar para fazer a criança ter uma carreira de “influenciador mirim”.
Mas o sharenting não se resume apenas a pais que constroem sua renda na carreira de seus filhos. Na verdade, essa prática também acontece quando as redes sociais do responsável, pai ou mãe, é repleta de imagens da criança, principalmente em momentos vulneráveis.
Basicamente, o sharenting é considerado qualquer prática de postagem nas redes sociais que exponha a imagem da criança, seja com o consentimento dela ou não.
Como mencionado anteriormente, a exposição da imagem de um menor de idade pode se tornar nociva ao seu desenvolvimento ou à sua vida como um todo. Algumas das problemáticas que podem resultar do sharenting são:
Aquelas crianças que são frequentemente expostas nas redes sociais podem sofrer cyberbullying em certa fase de suas vidas. Isso porque dependendo do conteúdo das fotos ou vídeos — se forem feitos em momentos de vulnerabilidade — eles podem ser usados para ridicularização.
O pior momento para essas crianças pode ser durante sua pré-adolescência, quando elas estão mais preocupadas com a forma que são vistas pelos outros (1). Sendo assim, suas fotos antigas podem ser usadas por colegas para causar constrangimento ou exclusão social.
Quando o menor de idade tem suas imagens publicadas desde a primeira idade, isso facilita práticas criminosas como falsidade ideológica ou sequestro digital. Essas táticas funcionam da seguinte forma: os criminosos usam as fotos da criança para postar nas redes sociais como se fossem seus pais, conseguindo curtidas e comentários e às vezes até mesmo monetização.
A falsidade ideológica pode ser facilitada por meio da postagem de informações cruciais sobre o menor de idade, como seu nome completo, data de nascimento e naturalidade. Além disso, com o avanço da inteligência artificial e de tecnologias como “deep fake”, o rosto da criança pode ser editado e colocado em imagens que não são reais.
A internet reúne diversas pessoas do mundo inteiro, incluindo aquelas que não são boas. As redes sociais de seu filho, repleta de momentos dele e da sua vida, podem ser um convite para predadores e pedófilos.
Existe comunidades de pessoas, seja na internet normal ou na deep web, que se aproveitam de imagens de crianças para a prática de crimes sexuais. Menores de idade que tem sua intimidade exposta, seja em vídeos com pouca roupa ou no banho, por exemplo, podem ser vítimas desses predadores.
Sem contar que crianças que têm suas redes sociais, sem a supervisão de um responsável, são mais propensas a entrarem em contato com esses indivíduos. Isso pode resultar na exposição do menor a pornografia ou abuso.
Mesmo que os pais apaguem as imagens da criança das redes sociais, não significa que aquele aplicativo não tenha mais os dados da postagem. Além disso, pessoas mal intencionadas podem tirar prints e compartilhar, a partir deste momento é difícil controlar onde essa informação vai parar.
O Google permite que imagens de menores de idade sejam apagadas da barra de pesquisas, através de um formulário encontrado em sua página de suporte. Porém, isso não significa que elas serão apagadas de toda a internet. Por isso, pense bem antes de postar algo do seu filho que possa causar danos ao seu crescimento.
Crianças não devem escolher o que será publicado por elas em suas contas, principalmente sem a autorização dos pais.
Por isso, cabe aos responsáveis garantir o respeito e a segurança delas, como consequência do Poder Familiar (art. 1.630 do Código Civil). Essa obrigação também está prevista nas preliminares do Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 1ºa 6º do ECA).
Em casos em que a exposição infantil pode significar perigo para a criança, o Artigo 5º, X da Constituição Federal prevê a proibição do compartilhamento de fotos e vídeos. Além disso, em situações mais sérias, a família pode vir a perder a guarda da criança, se provado insegurança no ambiente familiar.
A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), no Brasil, garante que o compartilhamento de imagens de crianças, de até 12 anos de idade, deve ser feito com o consentimento dos pais. Apesar de todas essas legislações existirem para a proteção infantil, o país ainda precisa evoluir bastante no que diz respeito ao sharenting.
Autoridades do judiciário tem discutido sobre a possibilidade da criação de conteúdo ser considerada um tipo de trabalho infantil. Afinal, existem influenciadores mirins que recebem monetização pela sua presença na internet, e também precisam cumprir uma rotina de eventos profissionais.
Se você acha que tem praticado sharenting e está em busca de parar, existem maneiras de reduzir o impacto da exposição infantil na internet:
Essas técnicas não impedem todos os impactos nocivos do sharenting, apesar de reduzi-los consideravelmente. Se você deseja mesmo evitar os lados negativos da exposição infantil, opte por não publicar a imagem do menor idade nas redes sociais.
Nem sempre essa alternativa é a melhor, afinal, quanto mais velha a criança fica, mais ela vai ter vontade de participar dos meios digitais — para se sentir parte da sociedade. Por isso, a melhor opção pode ser manter o controle das redes e dos aplicativos, evitando a superexposição e garantindo a segurança do seu filho.
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