Você se lembra das aulas de química do ensino médio, quando o professor (abençoado seja), ensinava frases engraçadas para lembrarmos o conteúdo da matérias? Isso quando ele não apelava para cantigas… Ainda assim, quem entre nós sabe diferenciar uma “amida” de um “cicloalcano”? Para entender o que é silicone não é preciso ter decorado nenhuma frase capciosa, basta puxar pela memória um pouquinho do conteúdo da aula de química orgânica. Mas vamos te ajudar nessa tarefa.
Primeiramente, a química orgânica, em resumo, se refere aos compostos de moléculas de carbono e ao estudo de seus derivados. O silicone é um composto semi-orgânico porque não é feito principalmente de carbono, mas de silício e de oxigênio, tendo a seguinte fórmula química geral: [R2SiO]n. Contudo, como ele se associa a moléculas que têm carbono, não é inorgânico tampouco.
Além de ter muitas aplicações médicas, como cateteres, tubos de drenagem e próteses para pessoas que se acidentaram, o silicone é comum na composição de produtos cosméticos e em utensílios do dia a dia. Quimicamente falando, ele é inerte (não reage com outros compostos espontaneamente), possui estabilidade física aliada a resistência ao calor, aguentando de -40°C a 316°C! Isso por causa da sua qualidade semi-orgânica.
Em um formato tridimensional, aquela fórmula química geral possui o componente central de silício e a parte de carbonos é como se fosse um tubo de filme plástico a embrulhando. Na indústria, diante do calor, primeiro se queimam os átomos de carbono e depois o silício, que é um dos maiores componentes do vidro (para fabricar vidro, por exemplo, atinge-se uma temperatura de até 1500°C).
Por ser flexível, é fácil espalhar silicone de maneira uniforme pela superfície do cabelo. O formato do silicone possui espaços para que moléculas gasosas penetrem, fazendo com que a cobertura no fio de cabelo “respire”, sendo leve, emoliente (amaciante) e de toque sedoso, além de ter alto índice de refração da luz, conferindo brilho. Por esse motivo, o silicone é usado como agente condicionante em inúmeros produtos, inclusive em alguns xampus, especialmente aqueles “2 em 1”.
Lembrando sempre da diferença entre silicone e petrolato, entenda que estamos falando aqui do primeiro, de silicone bom para os cabelos, que condiciona de verdade – cuja molécula principal é o silício, e não o petróleo. Os petrolatos, em resumo, encapam os fios de cabelo não permitindo que nutrientes penetrem na fibra, e se acumulam com o tempo, sufocando a saúde deles, por isso eles são prejudiciais. O silicone sem petróleo não faz isso e pode ser utilizado com mais tranquilidade pela maioria das pessoas, com exceção dos alérgicos, é claro. As variantes comercializadas mais comuns são dimeticone, ciclometicone e outros “cones”.
Pesquisadores da UFRJ descobriram um silicone de origem vegetal, extraído da árvore acácia, porém a maioria dos comercializados atualmente têm, de fato, petrolatos em sua composição. Como o petrolato, ele é inodoro e insípido, e dependendo dos grupos orgânicos (moléculas de carbono) a que está unido, ele pode variar de líquido fluido (os usados em cosméticos) a elastômero de silicone (polímeros sólidos elásticos, como borrachas), daí sua utilização em larga escala pela indústria.
Lentes de contato, unhas postiças de “gel”, filtros solares e alguns esmaltes especiais são outras aplicações da área da beleza e saúde para esse composto tão versátil, sem falar nos famosos implantes de cirurgia plástica. Quando o silicone não está trazendo mais beleza para o nosso dia a dia, está trazendo comodidade. Os usos práticos podem ser na fabricação de fibra de vidro, resinas, pigmentos e corantes, borrachas para moldes, vedantes, poliuretano e, ufa… mil aplicações.
A Cosmetic Ingredient Review, entre outras organizações, fez extensas pesquisas e testes laboratoriais que comprovam a segurança do uso de ciclometicones nas concentrações dos produtos avaliados no experimento.
Na classificação internacional CMR (Carcinogênicos, Mutagênicos ou Reprotóxicos) estão classificados como tipo 3, ou seja, sem evidência dentro do espectro de estudos para qualquer um desse três tipos de mal. As evidências dos testes realizados em animais são insuficientes para colocá-los na categoria 2 (que deve ser considerada como possível carcinogênica/mutagênica/reprotóxica). A classificação CMR do tipo 1 é a mais alarmante.
Salientamos que casais que estejam tentando engravidar, ou mulheres já grávidas, devem procurar orientação médica.
Como os silicones poli-dimetil-siloxanes estão presentes em uma variedade de produtos, não apenas cosméticos, e não sendo voláteis (não evaporando na atmosfera), determinadas quantias são levadas junto com a água de enxágue do banho ou da indústria, que acaba por se depositar no solo e na água a ser tratada. Esta que, por sua vez, pode ficar em uma fossa séptica domiciliar ou tanques municipais. Na verdade, isso é comum, já que 17% do volume mundial do produto é usado em processos que requerem enxágue.
O silicone que foi enxaguado se unirá a partículas sólidas e acabará por se desprender da água no processo natural da sedimentação. Eles não possuem Demanda Biológica de Oxigênio (em inglês, BOD) significativa para serem catalisados por bactérias aeróbicas, o que é um fator comprovante da sua não-toxicidade. A massa viscosa de sedimentos aglutinados por esses micro-organismos é futuramente incinerada, vira adubo ou vai para aterros.
Se essa “lama” for incinerada, o silicone se converte em Sílica amorfa, e as cinzas, se depositadas em aterro, não apresentam impacto ambiental. O mesmo vale para o uso como adubo, que é degradado na catalização do solo, mesmo fim que quando colocado em aterros.
O silicone tampouco bioacumula, pois o tamanho das moléculas é muito grande para passar pelas membranas dos peixes ou mesmo de animais terrestres que cuidam do solo, como as minhocas.
Se o silicone for direto para o solo, por exemplo, ele se quebra em partículas menores (Me2 Si(OH)2) após algumas semanas, que acabam por se oxidarem, voltando às formas naturais de sílica, dióxido de carbono e água, não afetando a saúde do solo, a germinação da sementes ou crescimento das plantas. Também não perturbam insetos ou aves, mesmo quando expostos a grandes quantias (estudos acompanharam os ovos das espécies desde a deposição até a vida dos filhotes).
Metil-siloxanos Voláteis (que evaporam) são encontrados em cosméticos de pele, cabelo e antitranspirantes, como veículos ou emolientes. A maioria desse tipo de silicone possui uma estrutura cíclica, por isso são denominados “ciclometicone”. As emissões industriais do silicone volátil são mínimas, e o nível do consumidor, que é evaporado, também. Caso ocorra de se misturarem à água, uma parte acabará se desprendendo na atmosfera, e se desfaz por oxidação dentro de 10 a 30 dias. Todo esse processo ocorre na troposfera, portanto não há possibilidade de contaminarem a estratosfera e consequentemente a camada de ozônio, não contribuindo para o aquecimento global.
Como todos esses silicones possuem a mesma estrutura geral (cadeias de átomos de silicone e oxigênio, e grupos -metil unidos ao silicone), eles se dissolvem seguindo uma mesma sequência, gerando novos compostos, menos voláteis, ricos em silanol, solúveis em água e menos solúveis em lipídios. Eles continuam a se decompor cada vez mais, estando na atmosfera, como em um ciclo. Como com o Polidimetilsiloxano, as partículas restantes dessa oxidação são sílica, dióxido de carbono e água.
Observando o contexto atual mundial, contudo, é preciso fazer uma observação. Como a maioria das pessoas utiliza produtos de higiene, cosmética e limpeza industrializados, e como a população mundial está na casa dos bilhões, o ecossistema global já pode estar sobrecarregado desse composto, que leva algum tempo para ser biodegradado. O produto em si não é tão nocivo quanto os derivados de petróleo, por exemplo, mas é importante consumi-lo com consciência e uma pegada leve, dentro das possibilidades de cada um.
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