As mudanças climáticas associadas à nova realidade pós-pandêmica acentuam a necessidade de refletir, dialogar e encontrar soluções integrativas, locais e globais, para problemas que ameaçam a saúde humana e a do planeta. O I Simpósio Internacional de Natureza & Saúde: Construindo pontes para o bem-estar humano e a conservação, promovido pelo Einstein, reúne palestrantes nacionais e internacionais que discutirão esses temas e a estrita relação entre a saúde e a natureza.
Marcelo Korc, chefe da Unidade de Mudanças Climáticas e Determinantes Ambientais da Saúde na Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), órgão da Organização Mundial de Saúde, participará do simpósio e falou sobre os impactos presentes e futuros do meio ambiente em nossas vidas.
O Brasil tem mais incêndios florestais em períodos em que isso não acontecia. Vemos mais secas, como no Mato Grosso, causando falta de água e afetando indiretamente a segurança alimentar.
Em grandes cidades, como São Paulo, os dias estão mais quentes, causando estresse pelo calor (heat stress), situação que afeta especialmente os idosos, crianças pequenas e pessoas mais vulneráveis, como quem vive em favelas.
Não sabemos todos os efeitos do estresse por calor sobre as pessoas, mas precisamos desenvolver sistemas de alerta. As equipes de saúde precisam ser treinadas para lidar com essas situações antes que as pessoas afetadas comecem a entrar nas salas de emergência.
A pandemia nos lembrou que as coisas podem acontecer, e que não somos invulneráveis como pensávamos que éramos. A natureza está mandando a conta e nós pagamos ou não.
O Brasil tem todos os ingredientes para estar no topo da pauta na arena mundial, para ter lugar à mesa nos encontros mais importantes, mas ainda não está. Isso acontece porque é um país com muitas desigualdades e necessidades diferentes em cada região.
Eu acho que elas vão lidar com as mudanças climáticas de uma maneira positiva, porque esses jovens já vivenciam seus efeitos no dia a dia, é parte da vida deles. Tenho muita esperança de que quando estiverem na posição de tomada de decisão eles tenham condição de escolher melhor do que nós, da mesma forma que agora nós somos capazes de tomar melhores decisões do que as gerações anteriores.
Por outro lado, estamos apenas tendo um gostinho das mudanças que não fomos capazes de prever que aconteceriam. É muito difícil prever as consequências de algo que é novo até que você tenha que conviver com isso.
Nós precisamos nos adaptar e lidar com as mudanças climáticas sob o que chamamos de abordagem de saúde única (one health approach), ou seja, entender que a saúde das pessoas está totalmente relacionada com a saúde do ambiente e dos animais.
É preciso integrar todas essas partes e desenvolver uma linguagem única na coordenação, na comunicação e na vigilância. Precisamos entender como as mudanças climáticas estão afetando os ecossistemas, como a falta ou a perda de biodiversidade faz com que certos animais tenham de se mudar e como a seca faz as pessoas migrarem.
A visão completa dessa inter-relação entre as pessoas, animais e ambiente, incluindo as políticas certas, é o que chamamos de abordagem de saúde única.
Provavelmente não poderemos recuperá-lo a ponto de voltar a ser como era antes. Eu não saberia dizer nem mesmo o que será necessário para isso e se seremos capazes de fazer algo assim!
A questão é como podemos tomar medidas de mitigação para tornar essas mudanças as menores possíveis e, ao mesmo tempo, nos adaptar às circunstâncias atuais para que possamos coexistir com as mudanças que estamos vivendo.
É preciso desacelerar, tornar as mudanças lentas o suficiente para que fiquem mais previsíveis e tenhamos tempo para aprender sobre isso. Ao mesmo tempo, vamos precisar nos adaptar a essas mudanças, entendendo que haverá mais dias quentes em São Paulo, mais secas no Mato Grosso, mais incêndios florestais na Amazônia.
Então, podemos criar medidas para mitigar a conservação da Amazônia e a gestão dos recursos hídricos no Mato Grosso. Mas não vamos voltar ao que e nós éramos na nossa infância ou na infância de nossos pais.
Marcelo Korc é chefe da Unidade de Mudanças Climáticas e Determinantes Ambientais da Saúde da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS). Ele tem 28 anos de experiência na formulação, planejamento e gestão de esforços estratégicos e na realização de estudos de pesquisa em equidade em saúde, com ênfase nos determinantes ambientais da saúde e populações em condições de vulnerabilidade nas Américas. Antes de ingressar na OPAS/OMS em 1998, trabalhou no setor privado para Sonoma Technology, Inc. e Independent Project Analysis, Inc. Possui bacharelado em engenharia química (cum laude) do Technion-Israel Institute of Technology (1987), Ph.D. em engenharia química pela University of Rochester, New York (1992), e um mestrado em saúde pública pela University of Texas at El Paso (2011). Ele é o autor e coautor de mais de 50 manuscritos revisados por pares e capítulos de livros e é membro da Associação Nacional de Saúde Ambiental dos EUA.
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