Descubra como prevenir e tratar a solidão, que afeta a saúde mental e pode contribuir para o desenvolvimento de doenças
A solidão é uma emoção humana universal que afeta milhares de pessoas em todo o mundo. Porém cada indivíduo vivencia de maneira única.
Segundo estudos, a experiência da solidão pode ser responsável por uma série de problemas associados à saúde mental. Além de contribuir até mesmo para o desenvolvimento de doenças físicas. Como não tem uma causa específica e comum, a prevenção e o tratamento variam e podem depender de fatores subjacentes.
Para entender a solidão, é necessário, antes, compreender sua complexidade e abrangência. Afinal, ela pode atingir desde crianças pequenas com dificuldade para fazer amigos na escola, até jovens adultos sem suporte familiar ou idosos viúvos.
Por isso, é fundamental analisar as especificidades de cada caso antes de escolher os métodos mais adequados de prevenção e tratamento. O mais importante, entretanto, é não negligenciar essa condição, porque um estilo de vida solitário pode ter consequências desastrosas em longo prazo.
O que é solidão?
No senso comum, a solidão é geralmente descrita como um estado não permanente de solitude. Ou como o ato de ficar sozinho, na companhia de si próprio. A ciência vê a solidão como um estado de espírito. Ou a sensação que um indivíduo relata de se sentir solitário mais de uma vez por semana, de acordo com o Journal of Personality and Social Psychology.
Muitas vezes, indivíduos solitários desejam contato humano, mas seu estado de espírito não permite que elas estabeleçam laços mais profundos com as pessoas. O resultado dessa inabilidade para se conectar com os outros pode levar ao sentimento de rejeição. Além de vazio emocional e de não pertencimento a ambientes sociais.
É importante notar que solidão não significa necessariamente estar sozinho. Segundo especialistas, há pessoas que se sentem isoladas, ainda que em meio a uma multidão de pessoas. A sensação de solidão, de não ter com quem contar e de estar só no mundo pode afetar o seu estado de espírito e o isolamento social.
As causas variam. Pode ser uma mudança para uma nova cidade, estado ou país, um divórcio ou a morte de alguém importante. Baixa autoestima e bullying também se destacam. Além disso, a solidão pode ser sintoma de um distúrbio psicológico, como a depressão.
Quais são os riscos da solidão?
Segundo estudo de 2019, a solidão está associada a uma ampla gama de efeitos negativos na saúde física e mental. Para piorar, ela pode afetar indivíduos em diversas faixas etárias. Os riscos mais relatados são:
- Alcoolismo e uso de drogas
- Depressão e risco aumentado de suicídio
- Progressão da doença de Alzheimer
- Comportamento antissocial
- Doenças do coração e acidente vascular cerebral (AVC)
- Tomadas de decisão inadequadas
- Memória e capacidade de aprendizagem diminuídas
- Função cerebral alterada
- Altos níveis de estresse
Uma pesquisa ainda apontou uma correlação entre a solidão e hábitos prejudiciais à saúde, como má alimentação, pouca atividade física e sono alterado. A solidão também perturba a regulação dos processos celulares no corpo, estimulando o envelhecimento precoce.
Segundo um estudo de 2015, pessoas que viviam sozinhas ou relataram sentimento de solidão, tinham biomarcadores elevados de:
- Inflamação;
- Aumento da atividade de genes inflamatórios;
- Redução da atividade de genes antivirais;
Eles também tinham atividade aumentada do sistema nervoso simpático. A parte do sistema nervoso responsável pela resposta de luta ou fuga ao estresse ou ameaças. A solidão parece afetar, sobretudo, o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), que controla as funções dos hormônios do humor na resposta ao estresse.
O que a solidão causa no cérebro?
Um estudo financiado pelo Instituto Nacional de Envelhecimento dos Estados Unidos e publicado na revista Nature Communications, em dezembro de 2020, revela que o cérebro de pessoas solitárias apresenta particularidades fundamentais em estrutura, volume de algumas regiões e redes neurais.
Uma equipe de pesquisadores examinou os dados de ressonância magnética (MRI), genética e autoavaliações psicológicas de aproximadamente 40 mil adultos de meia-idade e idosos voluntários. A análise levou à descoberta de várias diferenças nos cérebros de pessoas solitárias. Em comparação com o cérebro de pessoas que não relataram sentimento de solidão. As redes padrão de pessoas solitárias estavam mais fortemente conectadas e o volume de massa cinzenta nas regiões da rede padrão era maior.
A solidão também se correlacionou com diferenças no fórnice: um feixe de fibras nervosas que transporta sinais do hipocampo para a rede padrão. Em pessoas solitárias, a estrutura desse trato de fibra foi mais bem preservada.
A rede padrão é responsável pelas lembranças do passado, pensamentos sobre o futuro e reflexões sobre um presente hipotético. Segundo os pesquisadores, a estrutura e as funções dessa rede possivelmente são diferentes em pessoas solitárias porque estas tendem a usar mais a imaginação, as memórias e as expectativas sobre o futuro para superar o isolamento social.
Para Danilo Bdzok, um dos autores, compreender os impactos da solidão no cérebro poderá contribuir para a formulação de ações mais adequadas. Essas que visem reduzir o problema em nível social e, consequentemente, as complicações de saúde associadas a ele.
Como lidar com a solidão?
É natural se sentir sozinho. Afinal, nem sempre encontramos pessoas com as quais queremos compartilhar o nosso tempo e as nossas experiências. Aprender a lidar com o isolamento, no entanto, é fundamental para evitar o desenvolvimento de problemas de saúde. Se você sente que a solidão pode estar afetando a sua vida além do que deveria, talvez seja a hora de abandonar velhos costumes e adotar hábitos novos e mais saudáveis.
1. Faça voluntariado
O trabalho voluntário expande horizontes e é uma excelente oportunidade de conhecer pessoas com interesses parecidos com os nossos. Procure uma atividade com a qual se identifique, uma organização séria e fique aberto às novas amizades.
2. Espere sempre o melhor
Pessoas solitárias tendem a esperar rejeição, em vez de abertura e carinho. Por isso, muitas vezes acabam afastando os outros com atitudes negativas e defensivas. Concentre-se no aspecto positivo das relações e das pessoas ao seu redor.
3. Desenvolva relacionamentos de qualidade
De nada adianta ter cinco mil contatos nas redes sociais se você não consegue manter uma conversa agradável e profunda com nenhum deles. Procure pessoas que realmente tenham a ver com você, que compartilhem os mesmos valores e interesses. Convide-as para um café, chame para sair ou simplesmente mande uma mensagem via WhatsApp, cultive relacionamentos saudáveis.
4. Faça exercícios
O exercício físico é um redutor de estresse documentado pela ciência. Isso porque promove a sensação de bem-estar, estimula a ação dos hormônios da felicidade no corpo e reduz a ansiedade e a depressão.
5. Pratique meditação
A meditação é outra prática que reduz ansiedade, estresse e depressão. Experimente reservar somente quinze minutos do seu dia para meditar. Os benefícios podem ser notados já na primeira sessão.
6. Converse com alguém de confiança
A internet permite que você se comunique com outras pessoas em qualquer lugar e a qualquer hora. Não quer ou não pode sair de casa? Faça uma chamada de vídeo, mande uma mensagem, mostre que você se lembrou de alguém querido. Pequenos gestos do dia a dia podem fazer enorme diferença na sua vida.
7. Adote um animal de estimação
Os animais de estimação fazem companhia, são carinhosos, brincalhões e engraçados. Se você é fã de bichos, um pet pode ajudar muito quando bater a solidão! Mas lembre-se que, como todo ser vivo, eles também precisam de cuidados e são para toda a vida.
Para saber mais sobre a solidão
Confira o minidocumentário a seguir e entenda melhor como a solidão impacta diversas pessoas ao redor do mundo.