Solução ou novo risco ambiental? Cristais plásticos substituirão gases em refrigeradores

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Uma descoberta científica realizada por pesquisadores australianos acendeu discussões sobre o futuro da refrigeração sustentável. Cientistas das universidades Deakin, Austrália Ocidental, Sydney e Monash identificaram cristais plásticos iônicos orgânicos como potenciais substitutos para os gases de efeito estufa usados em sistemas de refrigeração. No entanto, é necessário aprofundar os estudos para avaliar impactos ambientais mais amplos, especialmente no contexto dos microplásticos e seus efeitos atmosféricos.

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Esses cristais, descritos como capazes de resfriar o ar ao seu redor quando submetidos à compressão, prometem reduzir a dependência de hidrofluorocarbonos, como o R-134a, conhecidos por contribuir significativamente para o aquecimento global. A inovação baseia-se no chamado efeito barocalórico, em que os cristais absorvem calor ao serem comprimidos e o liberam ao retornar ao estado inicial.

Apesar de promissora, a tecnologia traz questões que precisam ser examinadas com cautela. Estudos recentes disponíveis no portal eCycle alertam que partículas de microplásticos presentes na atmosfera, como aquelas liberadas por processos industriais ou desgaste de materiais plásticos, podem ter efeito de aquecimento semelhante ao dos aerossóis de carbono preto. Embora os cristais plásticos sejam sólidos, é essencial avaliar o ciclo completo de vida desses materiais e a possibilidade de liberação de microplásticos durante sua produção, uso ou descarte.

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Além disso, o uso desses cristais enfrenta desafios técnicos, como a alta pressão necessária para seu funcionamento, o que pode elevar os custos e dificultar sua implementação em larga escala. Os pesquisadores reconhecem que mais investigações são necessárias para tornar o método viável e garantir que ele realmente contribua para a sustentabilidade, em vez de introduzir novos riscos ambientais.

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Essa descoberta destaca a importância de equilibrar inovação tecnológica com responsabilidade ambiental. A transição para soluções que reduzam os gases de efeito estufa é urgente, mas cada alternativa deve ser cuidadosamente avaliada para evitar impactos negativos inadvertidos.

Os cristais plásticos representam uma oportunidade significativa para tornar a refrigeração mais ecológica. Porém, até que mais estudos sejam realizados, a comunidade científica deve adotar uma abordagem cautelosa, considerando tanto os benefícios quanto os possíveis riscos associados à sua aplicação. O futuro dessa tecnologia dependerá de sua capacidade de se provar eficiente, acessível e verdadeiramente sustentável.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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