O sotaque é uma inflexão de tom em fala ou pronúncia específica de uma região ou indivíduo. O Brasil é um país de dimensões continentais, por esse motivo, considera-se que ele possui uma grande variedade de sotaques. Outro fator que contribuiu para a diversidade de falas do território nacional foi a alta taxa de imigração que o país recebeu durante sua formação.
Vamos supor que um morador da região Sul do país faça uma viagem de férias para a região Norte. Durante sua estadia, ele vai perceber que o modo de falar das pessoas que vivem naquele local é bem diferente da onde ele vem. Apesar de ambas as regiões falarem o português brasileiro.
Isso acontece porque a língua é marcada por diferentes sotaques, ou seja, um grupo de características que faz com que a pronúncia de certas palavras sejam diferentes nessas regiões. A existência de tantos sotaques no Brasil pode ser explicada por dois fatores: sua formação histórica e o traço contagioso dos sotaques.
Um estudo, realizado por pesquisadores da Pensilvânia, revelou que o sotaque é um fator contagioso. Logo, cada indivíduo tem o seu e pode acabar imitando o de outra pessoa apenas através da convivência.
A pesquisa avaliou um grupo de voluntários enquanto jogavam Minecraft e conversavam usando apenas um número seleto de palavras. Durante o jogo, os pesquisadores anotaram as alternações na fonética das falas e na pronúncia dos jogadores e acabaram percebendo que eles repetiam os sotaques uns dos outros.
Isso foi o que quase aconteceu na formação dos sotaques da língua portuguesa falada no Brasil. Ao chegar no Brasil, por volta de 1500, os portugueses trouxeram o português, uma língua derivada do latim. Aqui, eles encontraram indígenas, com suas próprias formas de comunicação.
No processo de ensinar sua linguagem aos nativos, os portugueses acabaram criando uma nova versão dela. Afinal, a maneira como os indígenas pronunciavam suas palavras e letras não eram iguais às dos europeus, o que gerou mudança no vocabulário.
Pouco depois disso, os africanos foram trazidos à força para serem escravizados no Brasil, o que também impactou o português falado na época. Considera-se as duas maiores influências africanas as das etnias banto e iorubás. Como os portos que recebiam os escravizados estavam localizados no Nordeste, a região foi a que teve maior impacto da linguagem africana em seu sotaque.
Apesar dos indígenas, africanos e portugueses serem os três grupos com maior influência no sotaque do povo brasileiro, outros povos imigraram para o país ao longo da história. Assim, contribuindo para a formação da identidade linguística de cada região do território nacional.
Região Sul: o sotaque dessa localização foi muito influenciado pelos imigrantes italianos, alemães, povos do leste europeu e os países que falam espanhol e fazem fronteira com seu território.
Região Sudeste: o sotaque foi majoritariamente influenciado pelos italianos, portugueses e pessoas do leste europeu. Estados como São Paulo tiveram um impacto significativo do idioma italiano em seu sotaque. Enquanto isso, o Rio de Janeiro tem uma pronúncia mais parecida com o português de Portugal, por ter sido a sede da corte entre os anos de 1808 a 1821;
Região Norte: por ser afastada do resto do país, a região Norte não recebeu tantos imigrantes, e foi influenciada principalmente pela cultura indigena e portuguesa em seu sotaque;
Região Nordeste: essa região teve uma forte imigração holandesa, e por isso o sotaque também reflete essa vivência. A concentração dos portos nas cidades costeiras do Nordeste também fez com que ele fosse impactado pela cultura africana;
Os sotaques fazem parte da construção social da língua portuguesa falada no Brasil, estão por todas as partes e devem ser respeitados. É comum que ao entrar em contato com outros tipos de fala, o indivíduo sinta certa estranheza. No entanto, esse sentimento não pode evoluir para uma superioridade e um preconceito contra aquele que é diferente.
O portugês, assim como qualquer outra língua, é vivo e mudou muito desde que chegou no Brasil pela primeira vez. Logo, a maneira que falamos nos dias de hoje não é a mesma que se falava 500 anos atrás. Entender as diferenças e a fluidez da linguagem é essencial para não perpetuar o preconceito linguístico.
O preconceito linguístico é um ato ou pensamento discriminatório relacionado à maneira que um indivíduo se expressa com a linguagem. Esse tipo de discriminação pode ser direcionado a alguém que fale um sotaque divergente ao de outro e que se considera superior. Mas é importante frisar que nenhum sotaque é mais importante ou “mais correto” do que outros, todos são formas válidas de expressão da língua portuguesa.
Para saber mais confira a matéria: “Preconceito linguístico: o que é e como evitar”.
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