Superstição: por que acreditar no irracional?

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A superstição é definida como uma crença ou prática sem explicação racional, muitas vezes associadas ao sobrenatural, à natureza ou à Deus. Algumas dessas crenças vêm a partir de ditados ou histórias populares e são passadas por gerações através da fala.

As superstições mais conhecidas ao redor do mundo estão relacionadas ao azar e a sorte, como a noção de que gatos pretos, passar por baixo de escadas e quebrar um espelho podem influenciar negativamente a fortuna de uma pessoa. Em contrapartida, achar moedas no chão ou encontrar um trevo-de-quatro-folhas são associadas à sorte. 

De acordo com antropólogos, a superstição é derivada de noções intuitivas de como o mundo funciona, que por muito tempo foram atreladas aos princípios de similaridade e contágio. Ou seja, com a similaridade, pessoas acreditam que coisas parecidas compartilham uma conexão, e o contágio é criado a partir da crença de que propriedades internas podem ser transmitidas através do toque. 

Em geral, acredita-se que o conceito surgiu a partir da necessidade de entender o mundo em que vivemos, procurando padrões na natureza e associando-os. No entanto, o mundo é mais complexo que isso, e, constantemente, correlação não significa causalidade. 

Então por que as pessoas acreditam em superstições, e o que justifica esses pensamentos em um mundo que é principalmente explicado através da ciência? 

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A psicologia da superstição 

Jane Risen, professora de ciência comportamental da Universidade de Chicago Booth e membro da American Psychological Society, usou um modelo de processo de cognição para explicar a crença em superstições. De acordo com o modelo, os seres humanos conseguem pensar de dois modos, “rápido” ou “devagar”.

Enquanto o modo rápido é inteiramente intuitivo, o devagar é racional e possui o objetivo principal de corrigir possíveis erros resultantes dos pensamentos rápidos. Entretanto, Risen acredita que no conceito da superstição, a detecção de erros não envolve automaticamente a sua correção, o que justifica a crença. Portanto, acreditar em superstições não indica a falta de senso crítico, conhecimento ou reconhecimento de erros. 

“O modelo de “pensar rápido e devagar” deve permitir a possibilidade de que as pessoas possam reconhecer – no momento – que sua crença não faz sentido, mas agir de acordo com ela”, escreve Risen.

A influência do medo na superstição 

A crença em situações irracionais pode, também, ser consequente do medo de forças maiores, como o destino. Constantemente, muitas pessoas conseguem reconhecer a falta do senso crítico na crença. Porém, por medo de desafiar algo que já funciona e que foi popularizado através da crença popular, continuam mantendo os mesmos padrões de pensamento. 

Foto de Olena Shmahalo na Unsplash

Superstições e ansiedade 

Frequentemente, uma superstição nasce através do desejo humano de controlar o incontrolável, sendo tanto o futuro, a sorte, destino ou outros acontecimentos. Assim, seu fortalecimento se dá através de momentos de incerteza e insegurança sobre forças além do controle. 

Desse modo, criar uma superstição pode ser visto como algo reconfortante. A crença em algo maior, sobrenatural e que pode ser influenciado por amuletos pode resultar no alívio da ansiedade, estresse e dúvidas comuns. 

Muitos antropólogos defendem esse como o motivo da prevalência das superstições ao longo da história da humanidade. De acordo com um artigo publicado no International Journal of Psychology and Behavioral Sciences

“A superstição tem suas raízes na juventude de nossa espécie, quando nossos ancestrais não conseguiam entender as forças e os caprichos do mundo natural. A sobrevivência de nossos ancestrais foi ameaçada pela predação ou outras forças naturais”, o que consequentemente resultou na produção de um falso senso de controle sobre forças externas. 

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Outros possíveis benefícios 

Evidências comprovam que a crença em uma superstição também pode oferecer outros benefícios além do alívio da ansiedade, como a melhora na performance das pessoas. Um estudo de 2010, por exemplo, observou que práticas como manter os dedos cruzados ou receber encorajamentos como “boa sorte” podem influenciar na autoeficácia percebida de um indivíduo, aumentando a confiança e resultando na dominação de tarefas. 

Júlia Assef

Jornalista formada pela PUC-SP, vegetariana e fã do Elton John. Curiosa do mundo da moda e do meio ambiente.

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