A Syntrichia caninervis pode sobreviver em Marte?

A Syntrichia caninervis é uma das 1500 plantas da família Pottiales — uma ordem de musgos pertencente à subclasse Dicranidae. A sua distribuição é relatada em inúmeras partes do mundo, porém, é mais comum em áreas secas da Eurásia e América do Norte e locais com condições climáticas extremas, incluindo Tibete, Antártica e regiões circumpolares.

A resistência da S. caninervis é um dos principais motivos do interesse na exploração da planta dentro da astrobotânica — uma área da biologia que estuda a vida vegetal e as interações entre plantas em ambientes espaciais. No entanto, diferentemente de outras plantas exploradas dentro dessa área, a Syntrichia caninervis é ainda mais especial.

Acredita-se que ela possa sobreviver em Marte, mais especificamente, no solo inabitável do planeta, que é caracterizado pela falta de nutrientes essenciais às plantas, má absorção de água e contaminação por metais pesados. Outras plantas, por outro lado, são apenas mantidas em estufas dentro de estações espaciais. 

Vida em Marte? NASA encontra novas evidências de moléculas orgânicas no planeta

O estudo da Syntrichia caninervis

A reputação da S. caninervis fez com que um grupo de pesquisadores chineses se interessassem na planta. O objetivo inicial do estudo era testar os limites que a espécie suportaria em condições extremas.

Para testar a tolerância do musgo ao frio, por exemplo, os especialistas armazenaram a planta a -80°C durante 3 e 5 anos e a -196°C durante 15 e 30 dias. Porém, a planta testou os limites do impossível — foi observado que em ambas situações, a Syntrichia caninervis se regenerou após ser descongelada. 

No entanto, é importante notar que sua recuperação foi menos rápida em comparação com amostras de controle que foram desidratadas, mas não congeladas. Além disso, as plantas que não foram desidratadas antes do congelamento se recuperaram mais lentamente do que as plantas que foram secas e depois congeladas.

O musgo também demonstrou a capacidade de sobreviver à exposição à radiação gama que mataria a maioria das plantas. Além disso, doses de 500 Gy pareciam promover o crescimento da espécie.

Sobrevivência em Marte

Após observar o comportamento da planta nessas situações, os pesquisadores resolveram recriar as condições em Marte para testar, mais uma vez, os limites da planta. Isso foi feito usando o Centro de Simulação de Atmosferas Planetárias da Academia Chinesa de Ciências. 

As condições marcianas do simulador incluíam ar composto por 95% de CO2, temperaturas que variavam de -60°C a 20°C, altos níveis de radiação UV e baixa pressão atmosférica.

As plantas de Syntrichia caninervis secas alcançaram uma taxa de regeneração de 100% em 30 dias após serem submetidas às condições marcianas por até sete dias. As plantas hidratadas, que foram submetidas ao simulador apenas por um dia, também sobreviveram, embora tenham se regenerado mais lentamente do que as plantas dessecadas.

Acônito: a planta que mata lobisomens? 

“Embora ainda haja um longo caminho a percorrer para criar habitats autossuficientes em outros planetas, demonstramos o grande potencial da S. caninervis como planta pioneira para crescimento em Marte”, escrevem os pesquisadores no estudo.

“Olhando para o futuro, esperamos que este musgo promissor possa ser levado para Marte ou para a Lua para testar ainda mais a possibilidade de colonização e crescimento de plantas no espaço exterior”, completam.

Ademais, outros especialistas não envolvidos no estudo acreditam que a planta pode ajudar a enriquecer e transformar o material rochoso encontrado na superfície de Marte para permitir o crescimento de outras plantas.

Júlia Assef

Jornalista formada pela PUC-SP, vegetariana e fã do Elton John. Curiosa do mundo da moda e do meio ambiente.

Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.

Saiba mais