Foram identificadas 20 espécies nativas do bioma. Levantamento pode ajudar na preservação da região
Por Bianca Camatta em Jornal da USP – Um estudo desenvolvido pelo Laboratório de Ecologia e Conservação (LAEC) da USP, em Ribeirão Preto, coordenado por Adriano Chiarello, catalogou dados dos mamíferos de médio e grande porte da Floresta Estadual de Cajuru e arredores. A região abrange uma área de conservação do Cerrado, bioma que tem apenas 7% de sua cobertura original no estado de São Paulo. “Nós nos surpreendemos com o fato de a área amostrada por nós ser tão rica em espécies de mamíferos quanto a maior Unidade de Conservação de Cerrado do estado de São Paulo (a Estação Ecológica de Jataí) e seus arredores”, diz Marcella Pônzio, doutoranda do Instituto de Biociências (IB) da USP e primeira autora de um artigo com resultados do levantamento.
Foram identificadas 20 espécies nativas, número que abrange quase 50% de todos os mamíferos de médio e grande porte conhecidos do Cerrado. Os resultados também revelaram uma grande variedade de espécies nas áreas privadas, o que mostra que os animais não ficam restritos aos limites das áreas protegidas. “Essa riqueza de espécies similares reforça a importância da nossa área de estudo para a conservação de mamíferos de médio e grande porte, grupo animal severamente ameaçado pela ação humana, mas importante para o funcionamento dos ecossistemas”, complementa.
Apesar da situação crítica desse bioma em São Paulo, pouco se sabia sobre as espécies que habitam o local. Essa escassez de conhecimento foi o que motivou o grupo a fazer o levantamento dos mamíferos de médio e grande porte da região.
Junto à Floresta Estadual de Cajuru, um fragmento de vegetação nativa privada também fez parte da análise, a Fazenda de Alto Valor de Conservação Dois Córregos. “Nossa área de estudo representa algo raro no interior do estado de São Paulo: a união entre uma área protegida pública e uma particular”, conta ao Jornal da USP Marcella Pônzio.
Além dessa caracterização peculiar da área de estudo, outros fatores a tornam relevantes: a falta de um Plano de Manejo na Unidade de Conservação (UC) — documento oficial que estabelece as normas a serem seguidas na gestão de uma UC —, e a proposta de lei embargada pelo Ministério Público (lei estadual Nº 16.260/16, 29/06/2016) que pretende ceder a Floresta Estadual de Cajuru para uso privado ou exploração de serviços.
Já a escolha da identificação de mamíferos de médio e grande porte ocorreu porque esses animais são muito diversos tanto em relação ao seu tipo de alimentação quanto em relação às suas necessidades. “Vale a pena investigar como a comunidade de mamíferos está estruturada em uma área, pois ela tem o potencial de responder de diferentes maneiras às características naturais e antrópicas da paisagem”, esclarece a doutoranda. Esses mamíferos ainda são os mais sensíveis às alterações do ser humano na natureza.
Para identificar os animais da região, localizada no nordeste de São Paulo, os pesquisadores utilizaram armadilhas fotográficas — câmeras sensíveis ao movimento e ao calor: “Assim, uma foto é tirada cada vez que um animal passa na frente do equipamento”, explica Marcella. A identificação de pegadas, fezes e rastros de animais também foi um dos métodos usados para identificar os mamíferos.
Os resultados e suas implicações
O controle de pragas e a dispersão de sementes são algumas das atividades que os mamíferos prestam aos ecossistemas e saber quais animais estão presentes ou não em uma área é importante para descobrir se esses papéis prestados por eles estão afetados.
Com a identificação dos mamíferos, também é possível entender quais espécies estão em risco e criar estratégias para protegê-las. O tamanduá-bandeira, a onça parda e lobo-guará, por exemplo, são espécies ameaçadas de extinção amplamente detectadas na área de estudo e, sabendo disso, é mais fácil encontrar maneiras de preservá-las.
As informações do artigo podem ainda contribuir para a elaboração de um Plano de Manejo e incentivar o cumprimento do Código Florestal pelos produtores rurais do Cerrado paulista.
Além disso, o fato de o levantamento de mamíferos ter sido feito em uma região de conservação e também em uma área privada revela mais uma perspectiva: “nossos resultados demonstram que podemos ter um bom cenário de preservação da biodiversidade quando as reservas particulares são implantadas e conectadas às Unidades de Conservação existentes”, finaliza Marcella.
O artigo intitulado Mamíferos da Floresta Estadual de Cajuru e arredores: uma Área Protegida negligenciada mas importante para a conservação do Cerrado no estado de São Paulo, Brasil foi publicado na Revista Biota Neotropica.
Mais informações: e-mail marcellacponzio@gmail.com, com Marcella Pônzio
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