Tanques-rede

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Por Amanda Macêdo e Paiva Rebouças em Portal da UFRN | Estudo realizado em reservatórios do Rio Grande do Norte mostra que a piscicultura em tanques-rede (ou gaiolas), adotada em um modelo familiar, tem impactos reduzidos nos ecossistemas aquáticos e não compromete a atividade pesqueira. A pesquisa, desenvolvida numa parceria entre Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Universidade Federal do Maranhão (UFMA), mostra que os aportes de nutrientes e matéria orgânica provenientes da criação de peixes promovem um impacto positivo na cadeia alimentar, resultando em um aumento da biomassa dos organismos aquáticos.

A descoberta que acaba de ser publicada na revista científica Aquaculture tem como autores Rodrigo Moura, do Departamento de Engenharia de Pesca da UFMA/Pinheiro, Ronaldo Angelini, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UFRN, e Gustavo Gonzaga Henry-Silva, do Departamento de Biociências da Ufersa,  coordenador do projeto que contou com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Norte (Fapern). Os resultados são fruto do doutorado de Rodrigo, realizado no Programa de Pós-Graduação em Saúde Animal  (PPGPA) da Ufersa, com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

A pesquisa foi conduzida nas barragens de Santa Cruz, em Apodi, e Umari, em Upanema, localizadas na importante bacia hidrográfica do rio Apodi-Mossoró, no Oeste do RN. Esses reservatórios, de 600 milhões e 292 milhões de metros cúbicos de água, respectivamente, fornecem suporte para atividades de abastecimento urbano, irrigação, pesca e criação de peixes em tanques-rede.

A preocupação, segundo o professor Gustavo Henrique Gonzaga da Silva, é a grande quantidade de fezes produzida quando há a concentração de muitos peixes em pouco espaço, além da ração não aproveitada por eles. “Isto pode aumentar a decomposição, reduzir o oxigênio e causar a eutrofização, um crescimento elevado de algas e plantas aquáticas em geral, que deteriora a qualidade da água, podendo prejudicar as outras atividades do reservatório”, esclarece.

Por meio de modelos matemáticos específicos para cada ambiente pesquisado, os cientistas analisaram as cadeias alimentares aquáticas considerando as interações entre as espécies de peixes, camarões, insetos, algas, plantas aquáticas e o cultivo de tilápias em gaiolas. Os pesquisadores mostraram que os criadouros artificiais, nesse caso, podem fornecer nutrientes essenciais para o crescimento de algas, ampliando a disponibilidade de alimento para espécies predadoras, como tucunaré e traíra, que são as preferidas pelos pescadores. 

Durante o estudo, que durou dois anos, foram produzidas 33 toneladas de tilápias em Santa Cruz e 268 toneladas em Umari. Os peixes foram coletados trimestralmente com rede de emalhar em seis pontos de cada reservatório.

O sistema desse tipo de pesca nas barragens Santa Cruz e Umari possui 22 e 21 tanques-redes, respectivamente, sendo apenas 12 deles em comum. Embora haja discussões acerca dos possíveis conflitos entre esse tipo de criação de peixes e outras atividades, como pesca e abastecimento, os autores afirmam que, tanto pela análise do impacto observado durante a pesquisa quanto pela simulação do aumento do número desses criatórios, o sistema não afeta negativamente os animais já presentes nos reservatórios, nem a pesca em pequena escala.

Além disso, os modelos matemáticos utilizados demonstram que a ampliação no número de tanques pode, na verdade, beneficiar a fauna aquática, uma vez que os resíduos provenientes da piscicultura servem como fonte de alimento para a teia trófica local. No entanto, os pesquisadores alertam que qualquer modificação no número de gaiolas deve ser cuidadosamente monitorada, a fim de evitar impactos negativos nos demais usos do reservatório, como abastecimento de água, irrigação, atividades de lazer e, até mesmo, a pesca.


Este texto foi originalmente publicado pelo Portal da UFRN de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.

Thalles Moreira

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