Tardígrado: o animal mais resistente do mundo

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Tardígrado é um animal invertebrado do filo tardigrada, composto por mais de 1.300 espécies diferentes. Ele foi descoberto em 1773 pelo zoólogo alemão Johann August Ephraim Goeze, que o apelidou de “pequeno urso d’água”. Esse animal microscópico possui cerca de 0,5 milímetros de comprimento, sendo encontrado em diversos habitats, como o musgo, plantas, areia, água doce e no mar.

Embora ocupem diversos ambientes diferentes, os tardígrados são considerados aquáticos, uma vez que necessitam de uma fina camada de água ao redor de seus corpos para evitar a desidratação. Porém, adaptando-se a diversas condições externas, um grande número de gêneros e espécies evoluíram.

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Características

Os tardígrados são animais minúsculos com oito pernas, conhecidos como ursos d’água por sua semelhança ao animal terrestre. Apesar de parecerem macios, eles são cobertos de cutícula dura semelhante aos exoesqueletos dos insetos. 

Assim como os insetos, os tardígrados precisam se livrar das cutículas para crescer. Eles têm de quatro a seis garras em cada pé, o que os ajuda a agarrar-se à matéria vegetal, e um aparelho bucal especializado chamado aparelho bucofaríngeo, que lhes permite sugar nutrientes de plantas e microorganismos.

São animais onívoros, que se alimentam de fluidos de células de plantas, algas e fungos, perfurando as paredes celulares com suas bocas e aspirando o líquido de dentro. No entanto, algumas espécies de tardígrados também consomem organismos vivos inteiros, como rotíferos, nematoides e até outros tardígrados.

Os seus corpos são compostos de aproximadamente mil células, segundo um artigo publicado na revista “Arthropod Structure and Development” em 2019.

Quais são os super poderes dos tardígrados?

Esses organismos são conhecidos no mundo inteiro por sua resistência. De fato, os tardígrados podem sobreviver a temperaturas extremas, tão baixas quanto o zero absoluto ou acima da ebulição, em pressões seis vezes maiores que as fossas mais profundas do oceano e no vácuo do espaço. (1)

Nessas condições, o animal entra em um estado profundo de animação suspensa, chamado de criptobiose, que parece muito com a morte. Ele é capaz de perder quase toda a água do corpo, se assemelhando a uma “bola sem vida”. 

Além disso, seu metabolismo diminui para 0,01% da sua taxa normal. 

Na década de 70, cientistas descobriram que esse estado pode ser causado por quatro gatilhos ambientais: dessecação, congelamento, falta de oxigênio e excesso de sal.

Isso se dá a uma proteína única encontrada no organismo desses animais, chamada, em inglês, de Dsup (abreviatura de damage suppressor, ou supressor de danos). A Dsup protege o DNA dos animais de serem prejudicados por fatores como a radiação ionizante, que está presente no solo, na água e na vegetação.

“Os tardígrados têm esta capacidade de lidar com ambientes extremos, desligando o seu metabolismo. Esta capacidade de lidar com a secagem ou o congelamento é o que lhes dá a sua durabilidade na Antártida”, diz Sandra McInnes, pesquisadora de tardígrados do British Antarctic Survey, que estuda espécies que ocorrem nas paisagens nevadas congeladas da Antártica desde 1980. 

A criptobiose pode durar por anos ou décadas. 

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Uso na medicina 

A partir do conhecimento de que esses animais conseguem sobreviver à condições extremas, cientistas da Universidade de Wyoming acreditam que o tardígrado pode ser o segredo para estabilizar medicamentos sem refrigeração.

O time de pesquisadores acredita que, porque eles entram em um estado de animação suspensa quando confrontados com perda extrema de água das células, poderiam fornecer o mesmo armazenamento estável e seco para medicamentos biológicos que, de outra forma, exigiriam o ambiente refrigerado. (2)

Vacinas, anticorpos e outros produtos do sangue derivam de organismos vivos que requerem condições frias para prevenir que o calor quebre as proteínas de suas composições. Uma dessas substâncias é o fator VIII (FVIII) da coagulação sanguínea humana, usado no tratamento de doenças genéticas, como a hemofilia. 

Ao aproveitar proteínas e açúcares específicos produzidos na criptobiose, os pesquisadores concluíram que isso poderia oferecer ao FVIII escudos de dessecação semelhantes aos dos tardígrados. Ou seja, o medicamento poderia ser desidratado e reidratado sem perder suas qualidades naturais.

De acordo com Thomas Boothby, professor assistente de biologia molecular na UW, o método criado pela universidade pode ser benéfico para a conservação de alimentos, medicamentos e de outras biomoléculas.

Júlia Assef

Jornalista formada pela PUC-SP, vegetariana e fã do Elton John. Curiosa do mundo da moda e do meio ambiente.

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