Troca da receita, utilização da via seca e incorporação de resíduos industriais estão entre os métodos diferenciados
O cimento, material essencial para colocar de pé a maior parte dos tipos de construção em todo o mundo, tem diversos problemas ambientais em seu processo de produção (veja mais aqui). No entanto, certas empresas tentam amenizar a visão do consumidor sobre o produto ao repaginarem seus meios de produção e avançarem em tecnologia para que o produto final seja menos prejudicial ao meio ambiente.
Um grupo de 24 indústrias do ramo de cimento, atuantes em mais de 100 países, se uniram e hoje formam o Cement Sustainability Initiative (CSI – sigla para Iniciativa Sustentável do Cimento, em tradução livre). O objetivo do conselho, segundo seus formadores, é explorar o significado do desenvolvimento sustentável para o ramo, além de identificar ações e medidas (individuais ou grupais) que tragam benefícios ao mundo em que vivemos. De acordo com o CSI, os brasileiros são considerados os produtores de cimento mais ecoeficientes do mundo.
Muitos estudos estão sendo realizados e colocados em prática na perspectiva de diminuir a poluição causada pelo processo de produção de cimento. Afinal, dificilmente a procura por esse material diminuirá nos próximos anos.
Dentre as alternativas mais viáveis encontradas pelas produtoras de cimento e recomendadas pela CSI, vemos as seguintes:
Preferência pela via seca
Para formar o cimento, há dois modos: a via seca e a via úmida (veja mais aqui). Na segunda, após se formar o clínquer por meio de calcário e argila, a mistura não se utiliza de água para ir ao forno (veja figura acima), que fica ativo por menos tempo, diminuindo o gasto com combustível fóssil;
Coprocessamento
É a alimentação do forno com resíduos provenientes de outras indústrias, utilizando cada vez menos combustíveis de origem fóssil e também diminuindo a produção de lixo. São utilizados materiais previamente selecionados, que não são capazes de serem reciclados (ou seja, rejeitos), que possuam alto poder calorífico e que devem ser eliminados totalmente. De acordo com empresas nacionais (veja mais aqui e aqui), nesse processo, não há criação de efluentes líquidos nem sólidos, já que as cinzas que antes seriam aterradas passam a ser incorporadas ao clínquer sem alterar suas prioridades. Podem ser coprocessados diversos materiais, como pneus, graxas, óleos usados, serragens, restos vegetais, solos contaminados e embalagens. Não são usados resíduos hospitalares, domésticos, radioativos, explosivos e pesticidas.
Especificamente sobre pneus e cascas de arroz, os pesquisadores Miguel Afonso Sellitto, Nelson Kadel Jr., Miriam Borchardt, Giancarlo Medeiros Pereira e Jeferson Domingues, da Unisinos, publicaram artigo na revista Ambiente & Sociedade (leia o artigo completo aqui) sobre o reaproveitamento desses materiais na produção de cimento;
Substituição parcial do cimento
Foi estudado o uso de metacaolinita e resíduos da produção de tijolos queimados como uma alternativa ao uso de cimento em construções civis. Os resultados obtidos foram satisfatórios, mas mais pesquisas precisam ser desenvolvidas (veja mais aqui);
Mudança na fórmula do cimento
Outra alternativa encontrada foi fazer uma nova “receita” de clínquer. Nela, podem ser usados resíduos de indústrias siderúrgicas para que haja menor gasto de CO2 durante sua composição, ou mais materiais que não precisem ir ao forno, como o pó de calcário. Desse modo, há a diminuição das emissões de CO2. O principal representante dessa nova fórmula é o CPIII.
Captura de CO2
O gás produzido deveria ser capturado e armazenado antes que escapasse para a atmosfera. Mas, para isso, as indústrias teriam que investir em novas tecnologias e adaptação de suas plantas, o que demandaria um grande investimento, com consequente encarecimento do produto final.
Portanto, na hora de procurar cimento para sua reforma ou construção, fique atento para avaliar se o produto disponível utiliza alguma dessas técnicas redutoras de danos ambientais.