Temperatura elevada reduz capacidade das árvores de capturar carbono, agravando cenário climático

Compartilhar

As florestas tropicais, conhecidas por sua vital contribuição na regulação do clima global, podem estar enfrentando uma ameaça silenciosa e grave. Um estudo recente realizado na Floresta Tropical de Daintree, na Austrália, revela que o aumento das temperaturas devido ao aquecimento global pode comprometer drasticamente a capacidade dessas florestas de absorver dióxido de carbono. Isso coloca em risco seu papel crucial na mitigação das mudanças climáticas e agrava a crise ambiental. A pesquisa, publicada no New Phytologist, revela que, à medida que as temperaturas aumentam, a fotossíntese nas folhas das árvores tropicais diminui, comprometendo a absorção de carbono.

A Daintree, uma das florestas tropicais mais antigas do mundo, possui uma biodiversidade exuberante, onde plantas que datam do supercontinente Gondwana ainda habitam seu dossel. Lá, como em outras grandes florestas tropicais, como a Amazônia, a Bacia do Congo e o Sudeste Asiático, as árvores desempenham um papel essencial na captura de carbono da atmosfera e na liberação de oxigênio. Mas, conforme mostra o estudo, o aumento de 4°C nas temperaturas, esperado para as regiões tropicais até 2100, já está afetando o processo de fotossíntese.

Durante oito meses, os pesquisadores instalaram caixas aquecedoras em folhas de quatro espécies de árvores tropicais para simular as condições futuras do clima. A análise dos resultados mostrou uma queda de 35% nas taxas de fotossíntese em folhas expostas ao calor, em comparação com as folhas não aquecidas. Essa redução está diretamente ligada ao fechamento dos estômatos, os poros das folhas que permitem a troca de gases, e à diminuição da eficiência das enzimas responsáveis pela fotossíntese.

Esse fenômeno é particularmente preocupante, pois as árvores tropicais já evoluíram em condições climáticas relativamente estáveis e estão próximas de seus limites térmicos. O estudo confirma que as árvores tropicais não conseguem se ajustar de maneira eficaz ao aquecimento contínuo, o que significa que a absorção de carbono será ainda mais reduzida com o avanço das mudanças climáticas.

As implicações vão além do ciclo do carbono. O fechamento dos estômatos também interfere na perda de água das árvores para a atmosfera, o que altera o ciclo global da água, com efeitos difíceis de prever. Embora o fechamento estomático limite a quantidade de água liberada, a atmosfera mais seca pode extrair mais umidade das árvores, criando um ciclo ainda mais complicado.

Embora existam espécies de crescimento rápido que parecem ser mais resistentes ao aquecimento, a maior parte da biodiversidade das florestas tropicais, especialmente as espécies de crescimento mais lento, que são as principais responsáveis pelo armazenamento de carbono a longo prazo, está vulnerável. Isso reforça a urgência em proteger essas florestas e limitar as emissões de gases de efeito estufa, ao mesmo tempo em que se prioriza a preservação da biodiversidade. Identificar as espécies com maior capacidade de aclimatação às novas condições climáticas pode ser uma das formas de mitigar esses impactos.

O estudo traz uma mensagem clara e alarmante: o aquecimento global está interferindo diretamente na função essencial das florestas tropicais como reguladoras do clima. A preservação dessas florestas e a redução das emissões de carbono são medidas urgentes para evitar que a capacidade de captura de carbono dessas áreas seja drasticamente reduzida, exacerbando ainda mais as mudanças climáticas em curso.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.

Saiba mais