Teoria da mente é a habilidade humana de atribuir estados mentais a outras pessoas, prevendo crenças, emoções e comportamentos
Teoria da mente é a habilidade de atribuir estados mentais a nós mesmos e aos outros. É a capacidade que nós, humanos, temos de inferir determinados aspectos sobre outra pessoa, tais como crenças, desejos, emoções, pensamentos e comportamentos. Esse fenômeno é chamado de “teoria” porque, embora em alguns momentos as previsões possam estar certas, nossas crenças sobre o que pode estar acontecendo na cabeça de outra pessoa não passam de teorias.
Como a teoria da mente se desenvolve
Os humanos não nascem com uma teoria da mente. Ela é desenvolvida ao longo da vida, começando pela atenção. De acordo com o psicólogo Simon Baron-Cohen, a atenção é um dos primeiros precursores subjacentes ao desenvolvimento de uma teoria da mente totalmente desenvolvida. Esse processo envolve o reconhecimento não só da capacidade de olhar para um só lugar, mas também a capacidade de direcionar a atenção para diferentes objetos e pessoas específicas.
Um exemplo relevante da atenção é a atenção conjunta, que acontece quando duas pessoas direcionam a atenção para uma mesma coisa. Pode ser, por exemplo, quando uma está apontando para algum objeto específico. Quando uma criança entende esse gesto, ela está simultaneamente processando o estado mental de outra pessoa, reconhecendo que o objeto apontado é algo que outra pessoa pensa ser de interesse.
Um segundo componente importante para o desenvolvimento da teoria da mente é a intencionalidade. Quando compreendemos que as ações dos outros são direcionadas a um objetivo específico, entendemos que elas têm seus próprios desejos.
Estágios da teoria da mente
Entre os quatro e cinco anos de idade, as crianças começam a pensar nos pensamentos e sentimentos dos outros e começa, então, a surgir a teoria da mente. A partir disso, alguns níveis de compreensão são desenvolvidos até uma formação completa:
- Compreende-se que o os outros têm desejos diversos e agem de formas diferentes para conseguir o que querem;
- Entende-se que outras pessoas também têm crenças diversas sobre uma mesma coisa e suas ações são baseadas no que elas acham que vai acontecer;
- Compreende-se que as pessoas podem não compreender ou ter o conhecimento de que algo é verdadeiro;
- Torna-se ciente de que outros podem ter crenças falsas que diferem da realidade;
- Compreende-se que outras pessoas podem esconder suas emoções e sentir uma emoção diferente da que aparentam.
A ordem desses estágios pode variar de acordo com a cultura. A importância cultural para os elementos faz com que essa ordem se altere. Em culturas mais individualistas, por exemplo, uma maior ênfase é dada à capacidade de reconhecer que os outros têm opiniões e crenças diferentes, portanto, isso provavelmente ocupará o primeiro estágio.
Para exemplificar a teoria da mente, costuma-se utilizar um experimento com crianças: Sally tem uma bola, coloca a bola na cesta que tem na sua frente e diz que vai ao banheiro. Sua colega Ann, enquanto isso, tira a bola da cesta e a coloca em uma caixa verde.
Sally volta para a sala e quer brincar com a bola. Quando você pergunta a uma criança que esteja observando a cena “onde Sally deve procurar a bola?”, a resposta varia de acordo com a idade e o estágio da teoria da mente. Uma criança de três anos provavelmente diria algo como “dentro da caixa”.
Uma criança mais velha vai dizer que “Sally vai procurar a bola na cesta, porque ela pensa que está lá” ou ” Ela está procurando na cesta, porque ela, erroneamente, acha que está na cesta, mas eu sei que está na caixa.” Nesse último caso, a teoria da mente já está mais bem formada e a criança já infere os pensamentos de Sally.
Esse experimento é explicado no vídeo a seguir:
Teoria da mente e autismo
O cientista Simon Baron-Cohen e seus colegas sugeriram que os problemas da teoria da mente são uma das marcas do autismo. Em um estudo, as crianças com autismo realizaram tarefas de teoria da mente sendo comparadas a crianças com síndrome de Down e também com crianças neurotípicas.
Com as observações, os cientistas descobriram que enquanto cerca de 80% das crianças neurotípicas ou com síndrome de Down eram capazes de responder a perguntas sobre a teoria da mente corretamente, apenas cerca de 20% das crianças com diagnóstico de autismo eram capazes de responder corretamente a essas perguntas.
Nesse sentido, acredita-se que esse problema de perspectiva e compreensão dos pensamentos alheios influencie nas interações sociais de pessoas com transtornos do espectro de autismo.
Esquizofrenia
Estudos indicaram que pessoas diagnosticadas com esquizofrenia frequentemente também demonstram déficit na teoria da mente. Os participantes da pesquisa mostraram problemas tanto com a capacidade de entender crenças falsas quanto com a capacidade de inferir as intenções dos outros.
Teoria da mente, vendas e marketing
Um estudo publicado no Journal of Business Research mostrou que a teoria da mente pode afetar o processo de persuasão utilizado em marketing e vendas. O primeiro experimento envolveu um grupo de 61 participantes que tiveram acesso a uma campanha descrita como “um sabonete que cheira bem e é suave para as mãos” com o texto adicional dizendo “você TEM que comprar”.
Em outra etapa, 238 indivíduos foram recrutados de uma empresa que produz xarope de cacau com folhas de estévia. Todos eles viram o mesmo texto sobre o adoçante, mas em três anúncios o visual mudou. Um anúncio não tinha imagens ou textos adicionais, um mostrava o esboço de uma garota em uma bicicleta com uma mensagem persuasiva e o último tinha palavras persuasivas sendo faladas pela garota.
Os resultados de ambos experimentos mostraram que, independente do texto do anúncio, a teoria da mente mais elevada aumentou o ceticismo e as atitudes em relação ao produto e, consequentemente, as intenções de compra e disposição de pagar pelo produto diminuíram.
Um terceiro experimento tratou da transparência. Um grupo de adultos viu um anúncio de uma oferta por tempo limitado. Cerca de metade dos participantes viu as informações de preço na mesma página (alta transparência) e outra metade em uma segunda página (baixa transparência). A alta transparência produziu pouco ceticismo, enquanto a baixa transparência levantou sinais de ceticismo.
Essas descobertas mostram que algumas estratégias de persuasão podem ser maléficas. Consumidores que não possuem alta teoria da mente podem acabar sendo enganados e depois ficando frustrados. Já os que possuem alta teoria da mente, com ceticismo maior, podem ficar irritados com a oferta e, consequentemente, menos dispostos a comprar.