Teoria da divisão de tarefas entre homens caçadores e mulheres coletoras é contestada por evidências
Mesmo que você não seja uma antropóloga, é provável que já tenha se deparado com uma das ideias mais influentes no campo da antropologia, conhecida como “Homem, o Caçador“. Essa teoria argumenta que a caça desempenhou um papel crucial na evolução humana e que os homens eram os principais caçadores, enquanto as mulheres cuidavam dos filhos e das tarefas domésticas. Essa teoria pressupõe que os homens são fisicamente superiores às mulheres e que a gravidez e a criação de filhos limitam a capacidade das mulheres de caçar.
O “Homem, o Caçador” dominou o estudo da evolução humana por quase meio século e se infiltrou na cultura popular. Essa ideia é representada em museus, livros didáticos, desenhos animados e filmes. No entanto, um artigo publicado recentemente na revista Scientific American argumenta que existem evidências crescentes da ciência do exercício indicando que as mulheres são, fisiologicamente, mais adequadas do que os homens para atividades de resistência, como corridas de longa distância. Isso é relevante para a discussão sobre a caça, uma vez que sugere que a teoria de que os primeiros humanos perseguiam presas a pé por longas distâncias até que os animais ficassem exaustos pode não ser precisa.
De acordo com as autoras do artigo, dados provenientes de registros fósseis, arqueológicos e estudos etnográficos sobre sociedades caçadoras-coletoras modernas indicam que as mulheres desempenharam um papel significativo na caça ao longo da história. Ainda há muito a ser aprendido sobre o desempenho atlético das mulheres e a vida das mulheres pré-históricas, mas as evidências disponíveis indicam que a teoria do “Homem, o Caçador” deve ser reconsiderada.
Essa teoria ganhou destaque em 1968, quando antropólogos publicaram “Man the Hunter”, uma coleção de artigos acadêmicos que argumentavam que a caça impulsionou a evolução humana e que os homens eram os principais caçadores. No entanto, os colaboradores dessa teoria muitas vezes ignoraram evidências que contradiziam suas suposições.
Naquela época, as crenças convencionais sustentavam que as mulheres eram incapazes de tarefas fisicamente exigentes, como a caça, devido a preocupações sobre sua capacidade reprodutiva. Isso levou os defensores da teoria do “Homem, o Caçador” a argumentar que apenas os homens caçavam, enquanto as mulheres eram responsáveis pela criação dos filhos.
Hoje, essas suposições tendenciosas persistem na literatura científica e na consciência pública. No entanto, as evidências fisiológicas modernas e os estudos etnográficos desafiam a ideia de que as mulheres não participaram ativamente da caça nas sociedades antigas.
É importante notar que as diferenças entre homens e mulheres são médias e que existem variações consideráveis dentro de cada grupo. Em termos de fisiologia, as mulheres são mais adequadas para atividades de resistência, enquanto os homens tendem a se destacar em atividades explosivas de curta duração.
As fibras musculares e a sensibilidade ao estrogênio nas mulheres contribuem para sua capacidade de usar a gordura como fonte de energia durante o exercício de resistência. Além disso, os dados etnográficos e arqueológicos revelam que as mulheres desempenharam papéis ativos na caça e na coleta de alimentos em sociedades antigas.
Portanto, a ideia de que os homens eram os únicos caçadores e as mulheres apenas coletoras não é apoiada pelas evidências disponíveis. As mulheres têm demonstrado capacidade para a caça, desafiando os estereótipos de gênero enraizados na cultura popular e na pesquisa acadêmica. O entendimento da evolução humana deve ser revisto à luz dessas novas evidências que destacam a importância das mulheres nas antigas sociedades caçadoras-coletoras.