Entenda os diferentes tipos de manejo do fogo

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O manejo do fogo é uma prática que pode gerar benefícios e malefícios para o meio ambiente e comunidades tradicionais. Quando feito corretamente, ele contribui para a preservação da cultura indígena e diversidade ecossistêmica. Além disso, as estratégias do Manejo Integrado do Fogo ajudam a evitar as queimadas criminosas, impedindo que os incêndios florestais se espalhem. Entenda:

Manejo Integrado do Fogo

O Manejo Integrado do Fogo (MIP) é um método de administração e planejamento do uso do fogo que estabelece como esse recurso deve ser gerido. Ele leva em conta as questões socioeconômicas, culturais e técnicas, sem deixar de lado o aspecto ambiental. 

Em relação ao meio ambiente, o MIP busca práticas de redução de incêndios, bem como redução de emissões de poluentes atmosféricos. Isso porque o fogo pode favorecer a preservação da biodiversidade quando usado corretamente. 

Além disso, o MIP preserva aspectos da cultura indígena. Em conjunto com o Programa de Brigadas Indígenas (BRIFs), estabelece o uso do fogo de forma segura por essas comunidades.

Tipos de Manejo do Fogo

O fogo pode ser usado de diferentes formas, de acordo com a finalidade a ser obtida. Saiba quais são os tipos de manejo do fogo e a diferença entre cada um deles:

Incêndio florestal

O incêndio florestal corresponde ao fogo não planejado e sem controle. Pode ocorrer em áreas de vegetação nativa ou não. Esse evento coloca em risco a vida de pessoas e animais. Além disso, provoca a perda de biodiversidade em áreas de vegetação nativa, e prejuízos econômicos em áreas agropastoris.

Outra consequência dos incêndios é a emissão de poluentes na atmosfera, como materiais particulados e gás carbônico. Eles podem ser provocados por diversos fatores, como: 

  • Queima para rebrotar a pastagem; 
  • Queima para a eliminação de vegetação nativa; 
  • Vandalismo; 
  • Fogueiras; 
  • Queima de lixo; 
  • Raios.

Queima controlada

A queima controlada corresponde ao fogo planejado e com controle, para uso agrícola, pastoril ou civil. Esse tipo de manejo pode levar a danos ambientais, como a desertificação do solo e a perda de biodiversidade. 

O Decreto 2.661/98, que dispõe normas de prevenção do uso do fogo, estabelece os cuidados necessários para essa prática. Entre os critérios estabelecidos pelo Artigo 4º, estão:

  • Escolha das técnicas e equipamentos;
  • Estabelecimento da área;
  • Barreiras de aço de, no mínimo, 3 metros de largura para separar a área a ser queimada;
  • Treinamento da mão de obra;
  • Estabelecimento de quando será feita a queima.

Queima prescrita

A queima prescrita corresponde ao fogo planejado e com controle, porém com o objetivo de conservação ambiental ou de pesquisa. Ele também pode ser usado para o manejo em algumas áreas.

Esse tipo de manejo do fogo pode ser uma prática vantajosa para a conservação da biodiversidade no Cerrado. Isso porque esse bioma tem uma capacidade de adaptação e resistência ao fogo. O manejo deve respeitar a época do ano adequada, bem como o intervalo entre uma queima e outra. 

Outro fator importante é o controle do fogo, para evitar que ele se alastre de forma descontrolada. Ainda, devido à maior resistência de espécies do Cerrado contra o fogo, o uso desse recurso pode contribuir para a eliminação de espécies invasoras do local. 

Uso tradicional e adaptativo do fogo

Esse modelo consiste no manejo realizado por povos tradicionais. O seu uso tem finalidades de preservação cultural. Ele também pode ser destinado à sobrevivência dos povos tradicionais.

De acordo com um estudo, o manejo do fogo é uma técnica utilizada pela humanidade desde os primórdios. No Brasil, registros indicam que as comunidades indígenas praticavam o manejo do fogo há cerca de 1.600 anos. 

Essa prática existe até hoje. O povo indígena Kayapó, por exemplo, usufrui do manejo do fogo em áreas de Cerrado. A finalidade é o controle de algumas espécies vegetais e o desenvolvimento de outras. Dessa forma, esse tipo de manejo do uso do fogo visa preservar os aspectos socioculturais e ambientais dessas comunidades.

Uso do fogo de forma solidária

O uso do fogo de forma solidária está expresso no Artigo 11º do Decreto 2.661/98. Ele corresponde a uma prática em grupo, por agricultores familiares, em propriedades rurais privadas. Essa prática consiste no manejo do fogo em uma ou mais áreas agrícolas, desde que o tamanho da área queimada não ultrapasse 500 ha. 

Ecossistema associado ao fogo

O ecossistema associado ao fogo corresponde a existência do fogo em vegetações nativas, sendo de origem natural ou não, que desempenham funções ecológicas. 

A ocorrência de fogo no Cerrado, por exemplo, pode ser natural ou antrópica. Quando bem administrado, o fogo pode contribuir para a germinação de sementes. Além disso, a nova vegetação que surge após a queimada, atrai algumas espécies herbívoras.

Uma pesquisa realizada pela ecóloga Alessandra Fidelis mostrou que o manejo com fogo pode aumentar a diversidade funcional e a fixação de carbono no Cerrado.

Prevenção de incêndios florestais e combate aos incêndios florestais

O combate aos incêndios consiste em práticas de controle e eliminação de incêndios. A prevenção de incêndios florestais usa o fogo para evitar incêndios florestais e outros eventos que provoquem danos ambientais. De acordo com um estudo, algumas medidas de prevenção desses incêndios são:

  • A disseminação de informação;
  • Agir de acordo com as leis;
  • Aceiros (faixas de terreno, plantas resistentes ao fogo ou barreiras de aço, que dividam a área a ser queimada e a área a ser mantida);
  • Cuidado com fogueiras ou materiais inflamáveis.

O uso correto do fogo pode ajudar a combater queimadas ilegais. A queima da vegetação seca em uma área, por exemplo, é uma prática importante para evitar incêndios. Isso porque essa vegetação funciona como um combustível, espalhando o fogo.

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Problemas

Apesar das vantagens do seu manejo, o uso incorreto do fogo pode prejudicar a preservação do meio ambiente. A depender do tipo de bioma e da forma do manejo, ele pode ser determinante para a extinção de espécies endêmicas. 

Biomas como a Amazônia não têm uma boa relação com o fogo, podendo ter alterada suas dinâmicas ecossistêmicas e biodiversidade. Além disso, mesmo no Cerrado, essa prática pode ser prejudicial.

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No Cerrado, muitas vezes o fogo é usado para a liberação da área para a criação de gado ou de espécies agrícolas. É provocada uma queima com o objetivo de eliminar a flora presente na área, sem fins de conservação da biodiversidade. 

Com isso, a dinâmica do ecossistema é quebrada. O solo é empobrecido, o que prejudica a sobrevivência de espécies animais. Esse fenômeno também prejudica a disponibilidade de água do País como um todo. Isso porque esse bioma contribui para a manutenção dos cursos hídricos, bem como a quantidade e a qualidade da água.

Luiza Caballero

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