Por Jornal da USP | Duas arquitetas formadas pela USP receberam importantes reconhecimentos por seus trabalhos acadêmicos: um desenvolvido na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e outro na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), ambas da USP.
No dia 20 de maio, o prêmio Leão de Ouro de melhor Participação Nacional na 18ª Bienal de Veneza de Arquitetura (La Biennale di Venezia) foi concedido ao pavilhão do Brasil, intitulado Terra. A curadoria é dos arquitetos Paulo Tavares e Gabriela de Matos, mestranda do Diversitas, Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da FFLCH.
Já no dia 22, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Instituto Vladimir Herzog entregaram a quinze pesquisadores o Prêmio de Reconhecimento Acadêmico (Pradh). Na categoria Ciências humanas, sociais e econômicas, venceu a pesquisa de graduação de Helena Sá Barretto Prado Garcia, intitulada Lugar de mulher: experiência e projeto da casa Laudelina de Campos Melo.
É a primeira vez que o título foi entregue ao Brasil. O projeto Terra, que recebeu o prêmio pela melhor participação nacional, se propõe a repensar o passado e projetar futuros possíveis, valorizando atores esquecidos pela arquitetura. Povos indígenas e quilombolas estão presentes nas obras da mostra, assim como elementos das habitações populares do País.
Os curadores buscaram explorar os múltiplos sentidos que a terra pode assumir, seja solo, fertilizante, planeta, memória, futuro e patrimônio. As galerias do projeto apresentam a construção de Brasília, questionando o imaginário popular sobre esse acontecimento, e trazem produções sobre a memória e a arqueologia da ancestralidade, como fotografias de arquivo e mapas etno-históricos.
O júri que concedeu o prêmio ao pavilhão brasileiro, em Veneza, enfatizou que a escolha do vencedor se deu “por uma exposição de pesquisa e intervenção arquitetônica que centra as filosofias e imaginários das populações indígenas e negras em direção a modos de reparação”. Em visita à Bienal, a ministra da cultura Margareth Menezes celebrou o prêmio e parabenizou os curadores.
“Há tempos venho pensando o quão importante seria que o cenário mundial de arquitetura soubesse sobre a arquitetura afro-brasileira, essa que surge a partir da diáspora africana e se desdobra em um modo de ser e de fazer singular. Totalmente nossa. E que se relaciona profundamente com aquela que já estava presente em nosso território, indígena”, comentou Gabriela em sua conta do instagram. A arquiteta e urbanista disse que o prêmio inédito para a arquitetura brasileira é “resultado dessa reverência a esses saberes e formas ancestrais”.
Gabriela de Matos é fundadora do projeto Arquitetas Negras e pesquisa o racismo estrutural e suas influências no planejamento urbano. Foi premiada como Arquiteta do Ano 2020 pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ).
A terceira edição do Prêmio de Reconhecimento Acadêmico Unicamp e Instituto Vladimir Herzog (Pradh) contemplou quinze pesquisas que abordam problemas estruturais do Brasil.
Em Lugar de mulher: experiência e projeto da casa Laudelina de Campos Melo, Helena Sá Barretto Prado Garcia abordou a trajetória das casas de referência para mulheres construídas pelo Movimento de Mulheres Olga Benário (MMOB). A inciativa tem como objetivo o fortalecimento das redes existentes de enfrentamento à violência contra a mulher bem como de instrumento de denúncia e pressão por políticas públicas integradas que combatam a violência sexual e de gênero.
De acordo com Helena, o trabalho “é uma junção de prática, reflexão, pesquisa, e envolvimento pessoal com o Movimento de Mulheres Olga Benário, o qual integro desde 2018”. Aproximando-se da ocupação de mulheres Laudelina de Campos Melo, inaugurada em março de 2021 na região do Canindé, em São Paulo, Helena participou oferecendo assessoria e instrumentos técnicos no processo de melhorias incrementais na casa, para possibilitar a consolidação do espaço.
“A mulher em situação de violência que se dirige a um equipamento de assistência ou mesmo um abrigo está, precisamente, em situação de violência. Essa situação pode durar um dia, um mês, um ano ou por vezes uma vida e, no entanto, ela também é efêmera, para bem ou para mal. As ocupações do MMOB precisam, portanto, constituir-se como um passo a mais no estabelecimento de uma ‘consciência formal’ da segregação espacial que o urbano impõe às mulheres”, destaca em seu trabalho.
Confira o texto completo do trabalho de conclusão de curso aqui.
Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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