O trânsito das grandes metrópoles tem um alto custo para a qualidade de vida de seus habitantes – e também para os setores comerciais, cuja logística acaba encarecida pelos engarrafamentos. O curioso é que é possível medir o impacto do trânsito para o bem-estar em termos comerciais e, em São Paulo, a conta passa de R$ 700 ao ano por trabalhador. Essa é uma das conclusões da pesquisa “Os custos da imobilidade urbana em São Paulo”, apresentada pelo economista Ricardo Campante Vale em abril deste ano.
O trabalho foi defendido como dissertação de mestrado no Departamento de Economia Aplicada da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da USP (Universidade de São Paulo) e usou como metodologia dados da Pesquisa Origem-Destino de 2012, realizada pelo Metrô de São Paulo. Estimativas de distância dos deslocamentos colhidas pelo Google Maps e da quantidade diária de trajetos realizados e ruas congestionadas segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) também integram os dados analisados por Vale.
Os atrasos causados pelo tráfego parado, segundo o cálculo do pesquisador, custam ao bem-estar o equivalente a R$ 7,338 bilhões por ano. O prejuízo é de R$ 747 por trabalhador a cada ano – valor próximo aos atuais R$ 954 do salário mínimo. As estimativas do estudo mostram ainda que 89% das viagens feitas por motivo de trabalho na capital paulista sofrem atrasos por “fricções” no trânsito. Nos horários de pico, a média de atraso nas viagens é 31% maior em comparação aos horários livres.
A acepção de bem-estar usada na pesquisa é a da economia, em que o termo se refere à satisfação sentida pelo indivíduo em relação a bens ou serviços que consome ou utiliza. Essa satisfação, ou utilidade, é o que influencia as escolhas de horário para comer, lugares para frequentar e até nos horários de deslocamento diários para o trabalho. O tempo perdido no trânsito, nesse sentido, contribui para uma sensação de perda de bem-estar, pois gera o que em economia se chama de “desutilidade”.
Vale fez em sua pesquisa uma análise de “microdados” obtidos através da Pesquisa Origem-Destino, que é feita com uma amostra representativa da cidade inteira e não através de dados estimados ou médias de tempo e custo das viagens (como ocorre em outros bancos de dados sobre mobilidade urbana). Isso permitiu uma análise mais clara do impacto do trânsito para o bem-estar de quem mora em São Paulo, cidade que em dezembro de 2017 contava com uma frota de 8.603.239 de veículos (para cerca de 12 milhões de habitantes). Além disso, a avaliação do valor econômico do tempo perdido no trânsito levou em conta se a viagem era a trabalho ou não, a faixa de renda e o gênero das pessoas, entre outros fatores.
“O valor do tempo de um profissional indo trabalhar, mas preso no congestionamento, é mais alto do que o de alguém da mesma profissão, que ganhe a mesma coisa, mas que esteja indo para o clube no fim de semana”, explicou Vale ao Nexo Jornal. Se uma pessoa ganha menos, o valor econômico de seu tempo também é considerado menor. A avaliação é numérica e leva em conta a quantia que se deixa de ganhar quando se está preso no trânsito (calculada a partir dos rendimentos de cada indivíduo).
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