Novo estudo sugere que pacientes de depressão podem receber tratamento sem ter que comparecer a uma clínica
Um ensaio clínico remoto envolvendo mais de 150 pessoas mostrou que um tratamento experimental para a depressão pode ser eficaz quando realizado em casa. A pesquisa publicada na revista Nature Medicine analisa a eficácia de um dispositivo capaz de estimular suavemente o cérebro.
Conhecido como estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC), o tratamento envolve uma touca, semelhante à uma touca de natação, projetada para estimular áreas do cérebro ligadas à regulação do humor, liberando uma corrente elétrica fraca e indolor através de eletrodos colocados no couro cabeludo.
Embora a ETCC já tenha sido estudada para o tratamento da depressão, essa é a primeira vez que o design remoto do dispositivo foi considerado. Isso significa que os pacientes podem seguir com um tratamento baseado em casa, sem a necessidade de ir à uma clínica especializada.
“Quando pensamos sobre esse aspecto das barreiras à saúde mental, a acessibilidade é enorme. [O ensaio] realmente começa a comprovar a capacidade de levar tratamentos de saúde mental para um ambiente doméstico”, disse Shawn McClintock, neuropsicólogo clínico do UT Southwestern Medical Center em Dallas, Texas, que não esteve envolvido no estudo, à Nature.
Foi observado que após dez semanas de tratamento regular, os participantes que receberam ETCC apresentaram uma redução maior nos sintomas depressivos do que aqueles do grupo controle.
No ensaio, os pesquisadores focaram-se no córtex pré-frontal dorsolateral, uma região do cérebro envolvida na tomada de decisões que é frequentemente menos ativa em pessoas com depressão.
O grupo treinou 120 mulheres e 54 homens, todos com diagnóstico de transtorno depressivo, para usar a touca de ETCC e alocou pessoas aleatoriamente para o grupo de tratamento ou de controle. As pessoas no grupo de tratamento receberam uma corrente de 2 miliamperes no couro cabeludo durante 30 minutos, 5 vezes por semana durante as primeiras 3 semanas, depois 3 vezes por semana durante 7 semanas.
Após 10 semanas, as pontuações do grupo de tratamento em uma escala que mede os sintomas de depressão caíram 9,41 pontos, enquanto a pontuação do grupo de controle diminuiu 7,14 pontos.
Além disso, foi observado que quase 45% dos participantes com o dispositivo ETCC ativo experimentaram redução ou recuperação dos sintomas de depressão, em comparação com quase 22% do grupo de controle.
No entanto, embora o estudo tenha apresentado resultados promissores, outras pesquisas anteriores já sugeriram que o tratamento não funciona para todos. Portanto, a próxima etapa para os pesquisadores é descobrir por que a ETCC funciona para algumas pessoas, mas não para outras, e procurar maneiras de personalizar o tratamento para pacientes com depressão.
“Há três décadas, eu não teria pensado que esta estimulação fizesse alguma coisa no cérebro”, disse Frank Padberg, psiquiatra da Universidade Ludwig Maximilian em Munique, Alemanha. Mas, agora que foi constatado que a ETCC afeta a atividade cerebral, “Tenho certeza de que um método otimizado chegará um dia aos cuidados clínicos”.