Trofobiose (do latim thopos, alimento; bio, vida; e ose, ação, movimento; significa desenvolvimento da vida pelo alimento), na ecologia, é a relação de simbiose (interação de longo prazo entre duas espécies que pode ser benéfica, neutra ou prejudicial para um dos envolvidos) entre diferentes espécies na qual uma alimenta a outra. As formigas, por exemplo, alimentam e protegem os pulgões, ao mesmo tempo em que se nutrem com a secreção deles.
A teoria da trofobiose, por sua vez, é um conceito desenvolvido pelo francês Francis Chaboussou, na década de 1970, segundo o qual, a saúde dos vegetais é resultado do equilíbrio ou desequilíbrio de seus nutrientes. De acordo com Chaboussou, esse equilíbrio se dá pela relação entre a síntese de proteínas (proteossíntese) e o desdobramento das proteínas (proteólise) nos tecidos das plantas.
A relação entre a proteossíntese e a proteólise determina a resistência e a sensibilidade dos vegetais ao ataque de organismos parasitários como insetos, ácaros, nematóides, fungos, bactérias e vírus.
De acordo com a teoria da trofobiose, plantas que crescem em solos férteis e equilibrados possuem resistência natural ao ataque de parasitas. Plantas tratadas com fertilizantes solúveis, por outro lado, apresentam um desequilíbrio que causa o aparecimento de pragas.
Segundo o idealizador da teoria da trofobiose, agentes parasitários como os vírus, nematoides, ácaros, bactérias e insetos, não possuem enzimas suficientes para se alimentarem de substâncias complexas, e por isso precisam de fontes de nutrientes mais simples, como os aminoácidos livres, açúcares solúveis, entre outras.
Quando há proteólise em excesso, ou seja, desdobramento excessivo de proteínas, a planta fica hipersensível ao ataque parasitário. Por outro lado, quando há proteossíntese dominante, o vegetal se encontra com melhor imunidade.
Em outras palavras, o que a teoria da trofobiose afirma é que, com o excesso de aminoácidos livres e de açúcares solúveis no tecido vegetal, há maior disponibilidade de alimentos para os parasitas e, portanto, maior ocorrência de pragas e doenças causadas por elas nas plantas.
A teoria da trofobiose defende que a aplicação de agrotóxicos e fertilizantes solúveis nos vegetais funciona como um estímulo ao aparecimento de parasitas. Por meio da iatrogenia (doença que é causada por um remédio), os agrotóxicos e fertilizantes solúveis rompem o equilíbrio natural entre a planta e o predador, aumentando a proteólise e inibindo a proteossíntese – o que torna o vegetal mais vulnerável ao ataque parasitário.
A carência mineral de microelementos como boro, cobre, zinco, entre outros, inibe a proteossíntese, o que provoca uma acumulação de nutrientes solúveis, os alimentos essenciais dos parasitas. Dessa forma, há aumento da predação.
Entretanto, as plantas, naturalmente, possuem oscilações na relação entre protessíntese e proteólise. Na floração e nas folhas maduras, por exemplo, há uma tendência maior para a dominância da proteólise, que proporciona maior vulnerabilidade aos parasitas.
Mas, independente do estágio fenológico (período cíclico) das plantas, o aumento da quantidade da matéria orgânica no solo exerce um efeito protetor à saúde dos vegetais. Isso porque a matéria orgânica se transforma constantemente em húmus, uma fonte de nutrientes complexos e microelementos solúveis que estimula a proteossíntese, e, consequentemente, a imunidade das plantas.
Quando se compreende os processos abordados pela teoria da trofobiose desenvolvida por Chaboussou, fica fácil entender o potencial nocivo dos agrotóxicos e fertilizantes solúveis (ureia, superfosfatos, entre outros) para as próprias plantas.
Uma vez que essas substâncias estimulam o ataque parasitário, ocorre uma maior demanda para combatê-las com pesticidas sintéticos que, muitas vezes, são nocivos à saúde humana e ambiental.
Se levarmos em conta o apontamento do professor de entomologia da Esalq, Adilson Dias Paschoal, de que o controle químico de pragas tem pouco mais de 60 anos e o biológico, pelo menos 400 milhões de anos, que é o tempo em que os insetos estão neste mundo, a teoria da trofobiose faz mais sentido ainda, nos levando à conclusão de que os agrotóxicos têm quebrado as interações harmoniosas milenares, criando mais problemas do que benefícios.
Dessa forma, a agricultura convencional está presa num ciclo vicioso. Na agroecologia, em contrapartida, não são utilizados fertilizantes solúveis nem agrotóxicos para fazer o controle de pragas, uma vez que, nesse tipo de prática, a nutrição das plantas é feita por meio do equilíbrio do solo, que estimula a proteossíntese.
Isso não significa que não há nenhum indivíduo parasita nas práticas que levam em conta os princípios da trofobiose. Apesar de haver um ou outro indivíduo parasita, com o solo em equilíbrio, não há parasitas em densidade – ou seja, não há pragas. As plantas crescidas em culturas embasadas na teoria da trofobiose mantêm o equilíbrio entre a proteossíntese e a proteólise, não demandando fertilizantes nem agrotóxicos.
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