A conservação e a restauração de turfeiras e manguezais no Sudeste Asiático podem fortalecer os esforços da região no combate às mudanças climáticas. Estudos recentes revelam que essas áreas, embora ocupem apenas 5% da superfície regional, têm um potencial significativo para a redução de emissões de carbono. Se preservadas e restauradas de forma eficaz, podem evitar a liberação de cerca de 770 milhões de toneladas de CO2 equivalente por ano, o que representa mais da metade das emissões do uso do solo no território.
A relevância dessas formações não se limita à captura de carbono. As turfeiras e os manguezais desempenham um papel essencial na manutenção da biodiversidade, na qualidade da água e na proteção costeira. Milhões de pessoas dependem diretamente desses ecossistemas para sua segurança alimentar e sustento, tornando a sua proteção um elemento chave para o desenvolvimento socioeconômico da região.
Os solos dessas áreas são os principais reservatórios de carbono, armazenando mais de 90% desse elemento no caso das turfeiras e 78% nos manguezais. No entanto, quando degradadas por mudanças no uso do solo, liberam grandes quantidades de gases de efeito estufa na atmosfera, agravando a crise climática. Entre 2001 e 2022, alterações na paisagem dessas regiões resultaram na emissão de aproximadamente 691 milhões de toneladas de CO2 equivalente. O impacto foi particularmente expressivo na Indonésia, responsável por 73% dessas emissões, seguida por Malásia (14%), Mianmar (7%) e Vietnã (2%). Os demais países do Sudeste Asiático foram responsáveis pelos 4% restantes.
Apesar do reconhecimento da importância dessas áreas, ainda há desafios para sua proteção e restauração. Em muitos casos, turfeiras e manguezais são erroneamente classificados como terras improdutivas, facilitando sua conversão para uso agrícola. A falta de programas de monitoramento de longo prazo e a indefinição sobre a posse da terra dificultam a implementação de medidas eficazes de conservação.
Entretanto, cresce o interesse governamental e corporativo em projetos de carbono baseados na preservação e recuperação desses ecossistemas. A integração de turfeiras e manguezais nas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs 3.0) pode impulsionar metas mais ambiciosas para 2030 e 2035.
A redução potencial das emissões varia entre os países do Sudeste Asiático. Em Malásia, a conservação e restauração desses ecossistemas poderiam reduzir até 88% das emissões nacionais do uso do solo. Na Indonésia, essa taxa é estimada em 64%, enquanto em Brunei chega a 60%. Outros países, como Mianmar (39%), Filipinas (26%) e Camboja (18%), também poderiam se beneficiar significativamente dessas estratégias.
Na Indonésia, a restauração de turfeiras e manguezais pode contribuir diretamente para atingir a meta do setor florestal e de uso da terra de se tornar um sumidouro líquido de carbono até 2030. O país pretende reduzir suas emissões anuais em um intervalo entre 500 e 729 milhões de toneladas de CO2 equivalente, valor próximo ao potencial de mitigação que esses ecossistemas podem oferecer.
Embora a conservação de turfeiras e manguezais desempenhe um papel decisivo na redução de emissões, a descarbonização da economia segue sendo a estratégia mais eficaz para enfrentar as mudanças climáticas. Ainda assim, reconhecer e investir na proteção desses ecossistemas fortalece os esforços globais para conter os impactos do aquecimento global e garantir um futuro mais sustentável.
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