O lado obscuro do turismo selvagem

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O turismo selvagem tem se expandido rapidamente e é um dos setores de crescimento mais veloz da indústria do turismo. Oportunidades de ecoturismo para mergulhar em gaiola com tubarões brancos, por exemplo, que são grandes predadores marinhos, estão disponíveis na Austrália, África do Sul, Estados Unidos da América, México e Nova Zelândia, com até sete empresas operando simultaneamente em um local.

Apesar da popularidade, entretanto, este tipo de indústria também levanta controvérsias entre turistas, conservacionistas e cientistas. Os possíveis impactos negativos do turismo selvagem, especialmente quando se trata de animais potencialmente perigosos, são pontos de preocupação.

A ONG internacional World Animal Protection (Proteção Animal Mundial) estima que aproximadamente 110 milhões de pessoas no mundo visitam locais que promovem turismo cruel com animais silvestres. E outro dado da Wildlife Conservation Research Unit (WildCRU) aponta que 550 mil animais silvestres sofrem no mundo todo por causa de atrações turísticas irresponsáveis.

Diversos estudos mostraram que o turismo selvagem pode mudar o comportamento das espécies animais, alterando seus habitats ou padrões alimentares. Ainda não está claro, contudo, de que maneira essas mudanças afetam a saúde de animais individualmente ou populações de animais.

Os impactos negativos do turismo selvagem

O turismo selvagem é frequentemente considerado ecologicamente correto porque se espera que aqueles que desejam ver a vida selvagem também sejam preocupados com a conservação e o bem-estar animal. Além disso, existem muitas maneiras pelas quais o turismo selvagem pode ser positivo para a conservação. No entanto, ele também tem potencial para causar vários efeitos negativos sobre as populações animais, comportamento e bem-estar.

Segundo o relatório Negative effects of wildlife tourism on wildlife, do Centro de Pesquisa Cooperativa do Governo Federal Australiano, os efeitos negativos do turismo selvagem e das atividades humanas relacionadas a ele podem ser agrupados em três categorias principais: (1) perturbação de atividade, (2) morte direta ou lesão, e (3) alteração do habitat (incluindo o fornecimento de alimentos). A extensão dos impactos negativos sobre a vida selvagem pode variar enormemente dependendo das espécies, estágios do ciclo de vida, habitats e outras variáveis.

Exemplos de interrupção da atividade incluem holofotes, atividades barulhentas e a abordagem dos turistas aos animais. Até que ponto um animal é susceptível de ser afetado por atividades humanas será influenciado por uma série de fatores, como a quantidade e o tipo de contato com humanos, meio de transporte utilizado pelos visitantes, a previsibilidade da atividade humana, a abertura do habitat, a natureza da atividade do animal e presença ou não de prole.

Morte ou ferimentos podem ocorrer como resultado de eventos não intencionais, como acidentes rodoviários, ou de atos intencionais de caça, pesca e coleta. Essas atividades (seja por turistas ou vendedores de souvenirs) exigem regulamentação cuidadosa formulada sob recomendação de ecologistas de vida selvagem familiarizados com as práticas dos animais. O atropelamento não intencional de animais selvagens, matança deliberada por razões de segurança, uso de inseticidas para conforto do turista e queima da floresta podem causar diretamente a mortalidade de animais selvagens.

A ocorrência mais óbvia de alteração de habitat acontece quando a terra é liberada ou modificada para abrir espaço para a infraestrutura necessária para atividades turísticas. Mudanças no habitat também ocorrem a partir de veículos que provocam danos e por humanos pisoteando a vegetação.

Determinar a magnitude dos impactos e decidir se eles são positivos, negativos ou neutros pode ser uma tarefa difícil, porque o que é positivo para uma espécie pode ser negativo ou neutro para outra ou o ecossistema em geral.

Como ser um turista responsável?

Diante de todos os potenciais problemas, o melhor que você pode fazer para a natureza é evitar o turismo selvagem. No entanto, se o local de turismo oferece contato direto com os animais, você pode tomar algumas atitudes para minimizar o impacto no bem-estar das espécies e da região que está visitando. Confira algumas dicas.

Mantenha distância dos animais

Não é fácil resistir ao nosso instinto de chegar perto da vida selvagem. Os cientistas até têm um nome para isso  –  a hipótese da biofilia  –, que sugere que os humanos têm uma tendência inata a buscar conexões com a natureza. Mas manter as mãos longe geralmente é sempre o melhor para os animais envolvidos.

Se um local de turismo oferece a oportunidade de andar, tocar ou tirar uma selfie com um animal selvagem, há uma boa chance de que o animal tenha sido tratado com crueldade.

Programas de animais, passeios de elefante, natação de golfinhos em cativeiro e interação com grandes felinos são exemplos mais amplamente divulgados de experiências de turismo que os especialistas afirmam comprometer o bem-estar animal, mas muitas outras interações aparentemente inofensivas podem ter um impacto devastador semelhante.

Mesmo os animais menores não lidam bem com o manejo humano. Por isso, prefira safáris a pé e de jipe, na companhia de guias experientes.

Procure santuários genuínos

Os santuários da vida selvagem oferecem oportunidades valiosas para ver e aprender sobre as espécies que são difíceis de ver na natureza. Vale a pena fazer uma pesquisa para garantir que os santuários que você planeja visitar são responsáveis e seguros.

Veja onde os animais estão alojados. Eles têm espaço para se mover e exibir comportamentos naturais? Há proteção contra o clima e um lugar para ficarem longe dos visitantes? Se sim, a chance de que o santuário seja seguro é alta.

Optar por viajar com um operador responsável também pode ajudá-lo a evitar visitar inadvertidamente centros de vida selvagem que não operam no melhor interesse de seus animais. Você também deve ter em mente que santuários de alto bem-estar normalmente não permitem o contato direto com a vida selvagem.

Não alimente os animais

Apesar de suas melhores intenções, alimentar animais selvagens faz mais mal do que bem. Como resultado da alimentação contínua, os animais tornam-se dependentes dos humanos para se alimentar e podem se tornar agressivos.

Nos Estados Unidos e no Canadá, por exemplo, os guardas florestais são frequentemente forçados a exterminar os ursos selvagens que representam um risco para os humanos por serem alimentados. Numerosos estudos também concluíram que a alimentação da vida selvagem pode causar estragos em seus padrões de reprodução e migração.

Compre com sabedoria

Procure adquirir souvenirs produzidos localmente e ambientalmente sustentáveis. Além de proteger os animais, essa atitude ajuda a apoiar as comunidades e a cultura locais.


Fontes: Phys.org, Negative effects of wildlife tourism on wildlife, Marine Policy, Wild Cru e Lovely Planet


Equipe eCycle

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