Um estudo publicado no jornal Current Biology neste mês revelou uma característica um tanto peculiar da espécie de ave marinha, Pterodroma deserta — enquanto a maioria dos pássaros fogem de furacões, essa espécie vai de encontro a esses eventos meteorológicos.
Diferentemente do longa-metragem de 1996 de Jan de Bont, Twister, ou sua sequência de 2024, essas aves não buscam a emoção dos ventos característicos dos furacões. Em vez disso, exploram-nos para se alimentar e usam-nos para o seu próprio transporte — um tipo de comportamento incomum e sem precedentes até o estudo.
“Os estudos iniciais sugeriram que as aves marinhas circunavegam os ciclones ou procuram refúgio no olho calmo da tempestade. No entanto, os Pterodroma deserta que rastreamos não fizeram nada; em vez disso, um terço deles seguiu o ciclone durante dias, cobrindo milhares de quilómetros. Quando vimos os dados, quase caímos das cadeiras. Esta é a primeira vez que observamos esse comportamento”, conta o autor principal do estudo, Francesco Ventura, da Woods Hole Oceanographic Institution (WHOI).
Acredita-se que o “espírito aventureiro” das aves seja oriundo de seus hábitos alimentares.
Também conhecidas como freiras-das-desertas, essas aves marinhas são nativas da Ilha do Bugio, em Portugal, no oeste da África do Norte e, tipicamente, não conseguem mergulhar tão fundo no mar para procurar por comida. Por isso, tendem a esperar até a noite para que peixes, lulas e crustáceos apareçam mais perto da superfície da água.
No entanto, os furacões contam com um próprio fenômeno que facilita a aparição desses animais — os ventos causam a mistura dos oceanos, em que ocorre a fusão da água quente na superfície do oceano com a água mais fria de baixo.
Em janeiro de 2020, Ventura e outros pesquisadores publicaram um estudo que descobriu que as freiras-das-desertas voam centenas de quilômetros de cada vez em busca de alimento. Mas foi só no ano passado que Ventura comparou os seus dados com mapas de furacões.
O especialista analisou a localização de seis furacões entre 2015 e 2019 e examinou o padrão de movimentação dos pássaros e concluiu que vários pássaros da espécie foram encontrados entre 250 e 400 quilômetros de todos os eventos.
Foi observado que os pássaros suportavam ondas de até oito metros de altura e velocidades de vento de 100 quilômetros por hora apenas para se alimentar.
“Os ciclones representam uma oportunidade de alimentação altamente valiosa para freiras-das-desertas porque as tempestades agitam as presas mesopelágicas das profundezas da coluna vertical, proporcionando às aves marinhas uma refeição fácil na superfície”, disse Ventura.
“Embora as tempestades sejam normalmente vistas como destrutivas, especialmente nas zonas costeiras, a nossa investigação revela que a perturbação funcional provocada pelas tempestades pode criar novas oportunidades. Estamos avançando na nossa compreensão de como [essas aves] navegam no oceano aberto para encontrar comida”, continua.
“Como descobrimos agora, as freiras-das-desertas seguem furacões onde as presas se acumularam mais perto da superfície na sequência das tempestades. Agora temos uma nova perspectiva sobre o impacto dos furacões nos ecossistemas marinhos através dos olhos de um predador de ponta”, completou Caroline Ummenhofer, cientista da WHOI.
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