A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, conhecida como COP27, encerrou neste domingo (20), com um acordo sobre a criação de um mecanismo de financiamento para compensar as nações vulneráveis por 'perdas e danos' causados por eventos climáticos extremos.
Por Nações Unidas Brasil | Após perderem o prazo inicial para fechar o acordo, previsto inicialmente para sexta-feira à noite, os negociadores finalmente conseguiram chegar a uma conclusão sobre formas de indenização, o que o chefe das Nações Unidas, António Guterres, chamou de um passo em direção à justiça, apesar de reconhecer que o mecanismo não é o suficiente para evitar tragédias climáticas.
Ainda durante a conferência, a ONU anunciou o Plano de Ação Executivo para a iniciativa Alerta Precoce para Todos, que prevê investimentos de US$ 3,1 bilhões a partir do ano que vem, para criar sistemas capazes de prever eventos extremos e mitigar impactos.
Após dias de intensas negociações que se estenderam até o início da manhã de domingo (20) em Sharm el-Sheikh, no Egito, os países da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, conhecida como COP27, chegaram a um acordo sobre a criação de um mecanismo de financiamento para compensar as nações vulneráveis por ‘perdas e danos’ causados por eventos climáticos extremos.
Em mensagem de vídeo, emitida no local da conferência, o secretário-geral da ONU, António Guterres disse que “esta COP deu um passo importante em direção à justiça”, e saudou a decisão de estabelecer um fundo para perdas e danos e operacionalizá-lo no próximo período, ressaltando que as vozes daqueles que estão na linha de frente do conflito da crise climática deve ser ouvida.
O chefe da ONU se referia ao que acabou se tornando o assunto mais espinhoso desta COP.
Os países em desenvolvimento fizeram fortes e repetidos apelos para a criação de um fundo de perdas e danos, para compensar as nações mais vulneráveis aos desastres climáticos, e que pouco contribuíram para a crise, sendo historicamente um dos menores emissores de gases de efeito estufa.
Ele ressaltou que “claramente, isso não será suficiente, mas é um sinal político muito necessário para reconstruir a confiança quebrada”, enfatizando que o sistema da ONU apoiará o esforço em cada etapa do caminho.
Após perderem o prazo de sexta-feira à noite, os negociadores finalmente conseguiram chegar numa conclusão sobre os itens mais difíceis da agenda, incluindo uma linha de perdas e danos.
Apesar disso, ainda se discute como esse mecanismo será financiado, e o objetivo do financiamento pós-2025, além do chamado programa de trabalho de mitigação, que reduziria as emissões mais rapidamente, catalisaria ações impactantes e asseguraria garantias dos principais países de que eles vão tomar medidas imediatas para aumentar a ambição e nos manter no caminho de 1,5°C.
Desafios
No entanto, embora o acordo sobre o financiamento de perdas e danos tenha sido um avanço para os vulneráveis, houve pouco avanço da COP27 em outras questões importantes relacionadas às causas do aquecimento global, particularmente sobre a eliminação gradual de combustíveis fósseis e linguagem mais rígida sobre a necessidade de limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius.
Guterres lembrou que é preciso reduzir drasticamente as emissões agora, mas esta é uma questão que a COP não abordou, dizendo que o mundo ainda precisa dar um salto gigantesco na ambição climática e acabar com o vício em combustíveis fósseis investindo “massivamente” em energias renováveis.
O chefe da ONU também enfatizou a necessidade de cumprir a promessa que vem sendo adiada de US$ 100 bilhões por ano em financiamento climático para países em desenvolvimento, estabelecendo clareza e um roteiro confiável para dobrar os fundos para adaptação.
Guterres também reiterou a importância de mudar os modelos de negócios dos bancos multilaterais de desenvolvimento e das instituições financeiras internacionais.
Ele disse que “eles devem aceitar mais riscos e alavancar sistematicamente o financiamento privado para os países em desenvolvimento a custos razoáveis”.
Transição energética
O chefe da ONU disse que, embora um fundo para perdas e danos seja essencial, ele não é o suficiente para responder a extinção de um Pequeno Estado Insular do mapa, ou transformar um país africano inteiro em deserto.
Ele renovou o apelo por parcerias de transição energética justa para acelerar a eliminação gradual do carvão e aumentar as energias renováveis e reiterou o pedido que fez em seu discurso de abertura na COP27: um pacto de solidariedade climática.
Guterres explicou que é preciso “um pacto em que todos os países façam um esforço extra para reduzir as emissões nesta década em linha com a meta de 1,5 grau. E um Pacto para mobilizar, juntamente com instituições financeiras internacionais e o setor privado, apoio financeiro e técnico para grandes economias emergentes acelerarem sua transição para energias renováveis”, ressaltando que isso é essencial para manter o limite de 1,5 grau ao alcance.
Apelo
Em sua mensagem, Guterres ainda destacou que a COP27 foi concluída com “muito dever de casa” a ser feito em pouco tempo.
“Já estamos a meio caminho entre o Acordo Climático de Paris [2015] e o prazo de 2030. Precisamos de todas as mãos no convés para impulsionar a justiça e a ambição”, afirmou.
O secretário-geral acrescentou que isso inclui a ambição de acabar com a “guerra suicida” contra a natureza que está alimentando a crise climática, levando espécies à extinção e destruindo ecossistemas.
Para ele, “a Conferência de Biodiversidade da ONU no próximo mês é o momento de adotar uma estrutura de biodiversidade global ambiciosa para a próxima década, aproveitando o poder das soluções baseadas na natureza e o papel crítico das comunidades indígenas”.
Ativismo
O chefe da ONU também enviou uma mensagem à sociedade civil e aos ativistas que tanto se manifestaram desde o dia da abertura da conferência: “compartilho sua frustração”.
Guterres disse que os defensores do clima, liderados pela voz moral dos jovens, mantiveram a agenda em andamento nos dias mais sombrios e devem ser protegidos.
Ele disse que “a fonte de energia mais vital do mundo é o poder das pessoas”, e que “é por isso que é tão importante entender a dimensão dos direitos humanos na ação climática”, acrescentando que a batalha pela frente será dura e que “será necessário que cada um de nós lute nas trincheiras todos os dias”.
Ativistas brasileiros, sobretudo membros de comunidades indígenas, foram um dos destaques da COP27. A ONU News ouviu representantes de movimentos sociais, lideranças indígenas e jovens que desde o início seguiram de perto as negociações. Mais de 3,3 mil pessoas participaram na reunião que destacou a implementação das metas acordadas para a solução da crise do clima.
O que foi alcançado:
A COP27 reuniu mais de 35 mil pessoas, incluindo representantes do governo, observadores e sociedade civil.
Os destaques da reunião incluíram, entre outros, o lançamento do primeiro relatório do Grupo de Especialistas de Alto Nível sobre os Compromissos de Emissões Líquidas Zero de Entidades Não Estatais.
O relatório criticou o greenwashing, que leva o público a acreditar que uma empresa ou entidade está fazendo mais para proteger o meio ambiente do que está. O documento também forneceu um guia para trazer integridade aos compromissos líquidos zero da indústria, instituições financeiras, cidades e regiões e para apoiar uma transição global e equitativa para um futuro sustentável.
Ainda durante a conferência, a ONU anunciou o Plano de Ação Executivo para a iniciativa Alerta Precoce para Todos, que prevê novos investimentos iniciais direcionados de US$ 3,1 bilhões entre 2023 e 2027, equivalente a um custo de apenas 50 centavos por pessoa por ano.
Enquanto isso, o ex-vice-presidente dos EUA e ativista climático Al Gore, com o apoio do secretário-geral da ONU, apresentou um novo inventário independente de emissões de gases de efeito estufa criado pela Climate Trace Coalition.
A ferramenta combina dados de satélite e inteligência artificial para mostrar as emissões em nível de instalação de mais de 70 mil locais em todo o mundo, incluindo empresas na China, Estados Unidos e Índia. Isso permitirá que os líderes identifiquem a localização e o escopo das emissões de carbono e metano lançadas na atmosfera.
Outro destaque da conferência foi o chamado plano mestre para acelerar a descarbonização de cinco grandes setores – energia, transporte rodoviário, aço, hidrogênio e agricultura, apresentado pela presidência egípcia da COP27.
A liderança egípcia também anunciou o lançamento da iniciativa Food and Agriculture for Sustainable Transformation (Fast), para melhorar a quantidade e a qualidade das contribuições financeiras climáticas para transformar a agricultura e os sistemas alimentares até 2030.
Esta foi a primeira COP a ter um dia dedicado à Agricultura, que contribui com um terço das emissões de gases do efeito estufa e deve ser parte crucial da solução.
Outras iniciativas anunciadas na COP27 incluem:
• A Agenda de Adaptação de Sharm El-Sheik
• Iniciativa de Ação para Adaptação e Resiliência da Água (AWARe)
• Iniciativa Africana do Mercado de Carbono (Acmi)
• A Campanha de Aceleração da Adaptação de Seguros
• A Aliança Global de Renováveis
• Compromisso de Cimento e Concreto da First Movers Coalition (FMC)
Este texto foi originalmente publicado por Nações Unidas Brasil de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.