Por ONU News | A venda e o consumo de água engarrafada podem estar mascarando uma crise global de água. A declaração é da Universidade das Nações Unidas, com sede em Tóquio, no Japão.
A instituição divulgou um estudo sobre o tema indicando que desde o início do novo milênio, o mundo tem avançado na meta de acesso à água potável para todos.
Em 2020, 74% das pessoas do globo tinham acesso ao produto, uma média de 10% a mais que há duas décadas.
Mesmo assim, 2 bilhões de habitantes do planeta ainda não podem beber água potável.
A Universidade da ONU alerta para o que chama de exploração indevida do recurso por empresas que vendem água em garrafa.
No estudo, a instituição diz que as corporações exploram águas em superfície e aquíferos, geralmente a um baixo preço, mas terminam por vender o produto de 150 vezes até 1 mil vezes mais caro do que a água fornecida pelas entidades municipais, por exemplo.
Um dos pretextos para a venda de água em garrafa é a alternativa de “segurança absoluta” do líquido em comparação à água da torneira.
Mas a água em garrafa tampouco está imune a todos os tipos de contaminação tendo em conta que ela “raramente está sujeita às regulações rigorosas de saúde pública e ambientais” que a água que sai da torneira tem.
No estudo, em inglês (recently published study) foram analisados 109 países. Ali, ficou evidenciado que a indústria da água em garrafa é altamente lucrativa e tem mascarado a falha dos sistemas públicos de fornecer água segura para todos.
A Universidade da ONU acredita que essas empresas podem acabar minando o progresso dos projetos de água segura, a maioria em países de rendas baixa e média.
A entidade também afirma que a indústria da água impacta, de forma negativa, na implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, de várias formas.
O último relatório mostra que o mercado da venda de água engarrafada deve dobrar para US$ 500 bilhões em todo o mundo ainda nesta década.
Isto pode levar a um aumento do estresse de áreas que já sofrem com a escassez de água. Um outro fator negativo é a poluição plástica nos oceanos, uma vez que a maioria da água engarrafada utiliza embalagens plásticas.
A venda de água em garrafas cresce mais rápido que qualquer outra categoria alimentícia em todo o globo.
O mercado é maior no chamado Sul Global com a região da Ásia-Pacífico, África e América Latina e Caribe totalizando 60% de todas as vendas.
Nenhuma região, no entanto, está a caminho de alcançar o acesso universal para serviços de água segura, que é um dos ODS. Mas até agora, o maior impacto da indústria é o potencial de conter o avanço dos objetivos dos países de levar a seus cidadãos o acesso à água de forma equitativa.
Nos países do Hemisfério Norte, a água engarrafada é geralmente percebida como mais saudável e saborosa que a água da torneira. Mesmo assim, é mais um luxo do que uma necessidade.
Já no Hemisfério Sul, a falta de qualidade e segurança da água acaba levando os consumidores a optar pela água em garrafa.
O aumento do consumo, especialmente na Ásia-Pacífico, pode ser visto como um indicador de décadas da falha de governos para cumprir as obrigações de sistemas públicos seguros de água.
Com isso, se expande a disparidade global entre bilhões de pessoas que ainda precisam de serviços de água segura e aqueles que têm o produto como um luxo.
Em 2016, o mundo precisava de US$ 114 bilhões para financiar o alcance de água segura pelo mundo. A quantia totalizava menos que a metade do que a indústria da água engarrafada ganha com as vendas, ou seja US$ 270 bilhões.
No ano passado, a Organização Mundial da Saúde, OMS, calculou que o ritmo atual do progresso teria de quadruplicar para alcançar os ODS até 2030.
Com o aumento do mercado, é mais importante que nunca reforçar a legislação e regular a indústria e os padrões de qualidade da água.
Leis que possam regular a água em garrafa, a exploração da água subterrânea, utilização do solo, gestão de resíduos, emissões de carbono e transparência financeira.
Este texto foi originalmente publicado por ONU News de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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