As universidades podem contribuir para tornar cidades inteligentes por meio do desenvolvimento de sistemas de informação qualificados. Tais sistemas são considerados essenciais para a criação de soluções baseadas em novas tecnologias computacionais voltadas a difundir informações e a aprimorar a qualidade dos serviços públicos.
A avaliação foi feita por participantes do workshop “Cidades inteligentes: como São Paulo pode se tornar uma delas”, realizado no dia 6 de dezembro no auditório da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, na Cidade Universitária, em São Paulo.
O objetivo do evento foi discutir como transformar São Paulo em uma cidade inteligente – termo que se refere ao uso de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), em particular internet das coisas, big data, computação móvel e na nuvem, para processar informações no meio urbano e, dessa forma, aumentar o bem-estar da população das cidades.
O evento foi promovido pela Pró-Reitoria de Pesquisa da USP no âmbito dos Strategic Workshops, pelo Programa USP Cidades Globais, pelo Instituto de Estudos Avançados e pelo Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística.
Participaram do encontro pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, incluindo Saúde, Clima, Biologia, Transportes, Urbanismo e Ciências Sociais, entre outras, além de gestores públicos e fundadores de startups.
“A principal contribuição que a universidade pode dar para tornar uma cidade, como São Paulo, inteligente, é produzir sistemas de informação, que mobilizam grandes bases de dados, de modo a possibilitar o acesso a esses indicadores por gestores públicos e cidadãos, para que possam ser melhor informados e tomar decisões”, avaliou Marta Teresa da Silva Arretche, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e diretora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Na avaliação de Arretche, as grandes bases de dados públicos disponíveis hoje no Brasil são acessíveis para pesquisadores, mas não diretamente para os cidadãos ou para os gestores públicos.
Isso porque essas informações, que podem ser baixadas em um computador pessoal, por exemplo, são disponibilizadas muitas vezes de forma não muito “amigável”, como em forma de gráficos e tabelas de difícil compreensão por um leigo.
“Há um grande trabalho a ser feito para converter essa massa de informações disponíveis em bancos de dados públicos de modo que sejam acessíveis para os cidadãos e os gestores públicos”, avaliou.
Uma vez que as universidades possuem pesquisadores especializados em diversas áreas do conhecimento, esses profissionais podem ser mobilizados para extrair informações dessas bases de dados e produzir sistemas de informação confiáveis e atualizados sistematicamente sobre temas de interesse público, indicou a pesquisadora.
Os pesquisadores do Centro de Estudos da Metrópole, por exemplo, desenvolveram recentemente um aplicativo que possibilita obter informações sobre o desempenho e as condições de operação de escolas públicas e particulares situadas na Região Metropolitana de São Paulo.
A plataforma on-line permite que o usuário possa localizar qualquer escola de seu interesse e obter informações sobre notas obtidas nos exames nacionais, as instalações e as condições socioeconômicas de seus alunos, e compará-las com instituições em seu entorno em um raio de 2 quilômetros de distância.
“Um dos objetivos de desenvolver esse sistema foi auxiliar as famílias durante o processo de escolha de uma escola para matricular seus filhos. Mas, recentemente, também identificamos que gestores públicos da área de educação também têm interesse em ter esse tipo de informação sobre as escolas para poder tomar decisões”, disse Arretche.
De acordo com a pesquisadora, o desenvolvimento do aplicativo contou com a participação de pesquisadores de diferentes disciplinas, como das Ciências Sociais, geoprocessamento e georreferenciamento, demografia, estatística e de programação, e envolveu decisões como quais seriam as fontes de dados, quais categorias de informações seriam selecionadas e de que forma seriam disponibilizadas para acesso.
“O desenvolvimento de sistemas de informação como esse requer necessariamente e inevitavelmente a colaboração de pesquisadores de áreas e disciplinas distintas”, avaliou Arretche.
“Para desenvolver sistemas computacionais, os pesquisadores de áreas como a Computação e Matemática precisam necessariamente do conhecimento especializado de pesquisadores de outras áreas”, afirmou.
Além de bancos de dados, outras fontes que têm sido utilizadas por pesquisadores vinculados a universidades e empresas públicas para o desenvolvimento de ferramentas computacionais para possibilitar a captura, armazenamento e análise de grandes quantidades de dados, de modo a permitir que possam ser visualizados por gestores públicos, são imagens obtidas por câmeras de vídeo.
Um grupo de pesquisadores do Departamento de Ciência da Computação do IME-USP, em colaboração com colegas da New York University e do IBM T. J. Watson Research Center, nos Estados Unidos, desenvolveu, por meio de um projeto apoiado pela Fapesp, um software para obter imagens de ambientes urbanos, capturadas por câmeras de rua e disponibilizadas na internet por serviços como o Camerite, e construir bancos de dados.
Por meio de técnicas de visão computacional e aprendizado de máquina, os pesquisadores pretendem usar essas informações para identificar, por exemplo, incidentes ou comportamentos anormais e emitir alertas em tempo real para órgãos públicos, como a Defesa Civil.
“Gostaríamos de expandir esse projeto para usar informação não só visual, como também de outras fontes, como posts em redes sociais”, disse Roberto Marcondes Cesar Junior, professor do IME-USP e coordenador do projeto, durante palestra no evento.
“Se acontece um acidente na cidade hoje, a chance de ter uma pessoa observando e postando um texto ou uma foto em uma rede social como o Facebook, por exemplo, é muito alta. Gostaríamos de usar esse tipo de informação”, afirmou.
Já um grupo de pesquisadores do laboratório de inovação da Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Município de São Paulo (Prodam) desenvolveu um software de reconhecimento de imagens para realizar a contagem de ciclistas que passam por ciclovias na avenida Faria Lima, em São Paulo.
O software despertou o interesse da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), que pretende por meio dele aprimorar o mapa de congestionamento de trânsito na cidade de São Paulo, que era feito manualmente por técnicos da empresa espalhados em pontos cruciais da cidade.
Os pesquisadores da empresa também mapearam as regiões da cidade de São Paulo com maior número de solicitações registradas no Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC) da Prefeitura do Município de São Paulo relacionadas à existência de caixas de água destampada ou com tampa incompleta, que podem se tornar focos de proliferação de mosquitos Aedes aegypti, para antecipar as ações de combate à dengue.
“Ao analisar e tentar identificar padrões nessa base de dados nós identificamos que havia uma correlação entre as reclamações no SAC da Prefeitura e os casos notificados de dengue na Secretaria de Saúde. Com isso, percebemos que era possível identificar focos da doença antes que se torne uma epidemia”, disse Alexandre Calil, coordenador do LabProdam durante o evento.
Também participou do evento Daniel Annenberg, indicado para secretário de Meio Ambiente e Inovação e Tecnologia na gestão do prefeito eleito de São Paulo João Dória.
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