Projeto Idoso Amigo reúne estudantes da USP e de outras universidades que atuam em casas de longa permanência em Lorena, interior de São Paulo
Em 2030, o número de pessoas com mais de 60 anos no País ultrapassará o total de crianças e adolescentes entre zero e 14 anos, segundo o Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros, de 2018. “O Brasil está passando por uma transição demográfica acelerada e o porcentual de idosos cresce rapidamente. É um papel essencial, principalmente para a gente que é jovem, apoiar essa parcela da população que, muitas vezes, é esquecida”, diz Ingrid Macedo, de 21 anos, que cursa o terceiro ano de Engenharia Química na Escola de Engenharia de Lorena (EEL) na USP. Ela é vice-presidente da entidade social Idoso Amigo.
O projeto conta com 53 voluntários, que passam por um processo seletivo. São estudantes da USP, do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal) e do Centro Universitário Teresa D’ávila (Unifatea). O objetivo da entidade é aproximar os jovens e a terceira idade, além de promover a conscientização da população geral sobre a falta de cuidados e de afeto com os idosos. Eles venceram o Prêmio Diversidade USP, organizado pelo coletivo PoliPride da Escola Politécnica (Poli) da USP, na categoria “Da USP para a sociedade”.
Mais do que promover ações assistenciais, como doações de cestas básicas, fraldas ou kits de limpeza (sendo esta uma ação secundária), o grupo quer formar conexões afetivas entre jovens e os 83 idosos residentes nas casas de longa permanência Maria de Nazareth, Vila Vicentina e Vila Vicentina da Sagrada Família, em Lorena, interior paulista.
“Idoso Amigo é isso, todo mundo que entra e se encontra com o propósito fica participando durante toda a graduação. Para sair, é uma dor porque você percebe o quanto ganha doando um tempinho para aquela outra pessoa. Os idosos não se importam com quem você é, ou o que você faz. Eles já são muito gratos só por você estar ali.”
Confira as principais iniciativas da entidade Idoso Amigo
VISITAS: antes da pandemia, ocorriam todos os domingos do semestre letivo nas três casas de longa permanência nas quais o projeto atua. Os voluntários passavam a tarde com os idosos para criar vínculos a partir de conversas e trocas de experiência e vivência. Eles realizavam atividades recreativas para trabalhar o raciocínio, memória, coordenação motora e comunicação. Adaptando as visitas aos protocolos sanitários em relação à covid-19, esporadicamente um pequeno grupo visita os abrigos sem passar dos portões. Esses encontros mais curtos ocorreram quando Lorena esteve nas fases laranja ou amarela do Plano São Paulo.
LACRE AMIGO: a Idoso Amigo arrecada lacres de latinhas de alumínio para vender e comprar cadeiras de rodas para os abrigos em que desenvolve o trabalho voluntário. Em 2018, como a arrecadação foi grande, puderam ainda doar uma cadeira de rodas para uma ONG e outra para a Prefeitura de Lorena. Para arrecadar os lacres, a entidade organiza gincanas com premiação em escolas particulares e públicas, e também em repúblicas de universitários. Eles aproveitam para colocar a questão dos cuidados e afeto com idosos em debate e conscientizar os jovens. Durante a pandemia, a arrecadação continuou sem contato presencial.
APADRINHAMENTO DE NATAL: conectam os idosos com padrinhos, que geralmente são pessoas de fora da entidade, para que esses padrinhos lhes presenteiem com algo que desejam no Natal. No final do ano, a entidade organiza uma grande ceia. Os padrinhos visitam o abrigo para entregar os presentes e conhecer os idosos. Em 2020, o apadrinhamento foi on-line e os presentes foram entregues sem confraternização presencial.
CULTIVIDA: a Idoso Amigo revitalizou a área externa de um dos abrigos que visitam, o Maria de Nazareth, construindo uma pista de caminhada e horta suspensa para que os idosos pudessem ter uma área de lazer. O grupo pretende realizar essas obras em mais casas de permanência quando possível, visando a aumentar a autonomia dos locais para a produção própria de alimentos.
JANTAR BENEFICENTE: em um jantar oferecido à população de Lorena, com patrocínio de comerciantes, a Idoso Amigo arrecada fundos para a entidade e dá visibilidade ao projeto. Já ocorreram três edições, de 2017 a 2019. Durante o ano pandêmico, o jantar foi substituído por uma live musical para arrecadar fundos e também por um bingo on-line.
Principal frente de atuação da Idoso Amigo, as visitas aos domingos foram interrompidas pela pandemia. “Quando se trata de laços, é tudo muito pessoal, mas, na minha perspectiva, as visitas faziam toda a diferença na vida deles.” Ingrid conta que a crise sanitária tem dificultado a proximidade dos idosos, que é tão importante para a proposta da entidade de conectar diferentes gerações e formar amizades.
“É complicado, a gente não pode ver eles pessoalmente, mas tentamos, conforme nossas possibilidades, dar o que eles precisam para passarem por essa situação com conforto.”
Ingrid explica que apesar de a Idoso Amigo não ser uma iniciativa voltada a ações assistenciais, em um contexto de impossibilidade de manter contato mais afetivo, o grupo está agindo para fornecer mantimentos para os abrigos ou outros itens que os idosos precisam, como fraldas geriátricas e kits de limpeza.
“Nós estamos nos esforçando para manter essas relações, gravando áudios e vídeos, escrevendo cartas, mas o contato fica prejudicado na dinâmica on-line. Sem dúvidas, a gente acabou se distanciando um pouco.”
Ela considera que a situação de isolamento é muito dolorosa para os idosos. “Nem todos são lúcidos e lembram totalmente de nós, mas, em relação aos que são, a dor é um pouco maior porque parte deles já não recebia muitas visitas de familiares.”
Ela relembra histórias que viveu no Idoso Amigo. “Tem muitos episódios assim, que trazem alegria. Uma vez uma idosa disse que não tinha tido muitos amigos que marcaram a vida dela, mas que na Idoso Amigo tinha pessoas que jamais iria esquecer. Que lembraria para sempre de nós, mesmo que esquecesse nossos nomes. Outra gostava tanto da gente que, quando precisou ficar um tempo no hospital para se recuperar de uma queda, estava mais preocupada em não perder o dia de visita do que com a perna.”
Ingrid considera que, apesar das dificuldades com a pandemia, o projeto vale a pena. “É um desafio manter-se motivado perante isso, porque nosso principal objetivo, que são as visitas, não pode acontecer. Por isso temos que sempre buscar maneiras de relembrar nosso propósito.”
Quem quiser contribuir com a entidade, pode doar através dessa conta no Banco do Brasil e no LinkTree, ou participar do projeto Lacre Amigo.