Apesar de reconhecerem a importância do uso do protetor solar, cientistas alertam sobre o risco que esse produto apresenta para os ecossistemas marinhos
Um relatório publicado pela National Academies of Sciences, Engineering and Medicine, nos Estados Unidos, concluiu que os ingredientes presentes em protetores solares podem ser tóxicos para organismos que vivem em oceanos, rios e lagos, e representam um risco para ecossistemas inteiros. O relatório pede à Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês) que realize uma revisão detalhada chamada avaliação de risco ambiental da probabilidade de que a exposição a um ou mais desses produtos químicos, chamados filtros UV, possa prejudicar organismos em ecossistemas de água salgada e doce. O estudo recomenda focar em dois tipos de ambientes – recifes de corais em águas rasas perto da costa e corpos de água doce de movimento lento, como lagoas e pântanos – que são muito usados para recreação e/ou expostos a águas residuais ou escoamento urbano.
Protetor solar protege mesmo a pele?
O estudo reconhece que o protetor solar com fator de proteção solar (FPS) de 30 ou superior é uma defesa eficaz contra queimaduras solares e câncer de pele, e que dificultar a compra de protetor solar de amplo espectro que as pessoas realmente usarão pode prejudicar a saúde pública. Em contrapartida, um guia do Environmental Working Group (EWG, do inglês, Grupo de Trabalho Ambiental) mostrou que apenas um quarto das opções de protetor solar produzidos nos Estados Unidos são de boa qualidade.
Danos à pele
Um protetor solar de fator alto de FPS (filtro de proteção solar) não tem, necessariamente, proteção contra os raios UVA, mas apenas contra os raios UVB. O problema é que é justamente o raio UVA que causa mais danos, porque penetra mais fundo na pele e, possivelmente, é uma das causas do melanoma, um dos piores cânceres de pele.
A EWG alerta também para o fato de que os filtros solares contêm ingredientes que podem ser prejudiciais, como a vitamina A (retinol) e a oxibenzona, substâncias usadas em cosméticos e produtos de antienvelhecimento. A vitamina A pode acelerar tumores e lesões em peles expostas ao Sol, enquanto a oxibenzona, presente em metade dos protetores solares nos EUA, funciona absorvendo os raios ultravioletas. Porém, pesquisas revelaram que ela é absorvida pela pele, podendo desencadear reações alérgicas e alterar o sistema hormonal.
Ilusão dos altos fatores
E protetores com fator 100 não protegem tanto assim – eles se mostraram menos eficazes que os de fator mais baixo. O consumidor acaba sendo enganado pela ilusão de estar bem protegido, pois pensa que o fator 100 significa duas vezes mais proteção que o 50.
Na verdade, quando aplicado propriamente, o protetor de FPS 50 protege em 98%, enquanto o de FPS 100 protege 99%. Além disso, pessoas que optam por fatores mais altos tendem a ficar mais tempo expostas ao Sol, porque têm a falsa sensação de proteção.
Já as pessoas que utilizam fator 30 ou 50 se preocupam em aplicar o produto mais de uma vez e em passar menos tempo tomando sol. Outro problema é que a concentração de produtos químicos nos protetores de fator mais alto apresenta maiores riscos à saúde, já que os ingredientes são absorvidos pela pele. Um FPS 30 utilizado da maneira correta é o suficiente para proteger você.
Não dependa só do protetor solar
Outra crítica feita pelo EWG às medidas tomadas pelo FDA foi em relação à permissão de se colocar nas embalagens de protetores solares a menção de que se trata de um agente de prevenção contra o câncer de pele.
De nada adianta passar protetor e ficar exposto ao Sol nos períodos de intensos raios ultravioletas. Por ano, nos Estados Unidos, mais de 2 milhões de americanos desenvolvem câncer de pele, segundo o Nacional Câncer Institute (Instituto Nacional do Câncer). O ideal é evitar a exposição prolongada aos raios solares, utilizar roupas apropriadas e abandonar o bronzeamento artificial.
Risco para ecossistemas inteiros
Estudos até o momento forneceram evidências laboratoriais convincentes de que alguns filtros UV podem ter efeitos tóxicos em espécies aquáticas, incluindo corais, anêmonas e peixes- zebra , que são expostos aos produtos químicos. Essas descobertas geram preocupações sobre os impactos em larga escala dos protetores solares nas comunidades biológicas e nos ecossistemas.
Mas os resultados no meio ambiente serão diferentes dependendo de quais compostos, ecossistemas e condições ambientais locais estão envolvidos. Isso é especialmente verdadeiro para os recifes de coral. O comitê destacou os recifes porque são ecologicamente, economicamente e culturalmente valiosos e atraem um grande número de turistas que usam protetores solares.
Os recifes de coral estão em declínio em todo o mundo devido a vários desequilíbrios gerados pelas atividades humanas. Alguns desses distúrbios são globais, como o aquecimento dos oceanos e a acidificação causada pelas mudanças climáticas. Outros estressores, como a qualidade da água costeira, são mais locais.
Estudar os efeitos de produtos químicos em corais e recifes de coral é um desafio porque ambos são sistemas complexos. Os corais construtores de recifes são uma combinação de um animal, algas unicelulares e ricas populações de bactérias que vivem e trabalham juntas. Os recifes de coral são compostos de milhares de organismos que interagem.
É importante ressaltar que muitas respostas ao estresse em corais ocorrem sem causar morte total, mas prejudicam sua saúde, crescimento, resiliência e até mesmo a capacidade de se reproduzir. Os cientistas precisam saber mais sobre essas respostas para orientar respostas e intervenções eficazes de gerenciamento.