Pesquisa revela que o uso intensivo e prolongadas secas ameaçam a sustentabilidade de um dos maiores reservatórios de água do mundo
A crescente demanda por água no Estado de São Paulo pode comprometer o Aquífero Guarani, um dos maiores reservatórios de água subterrânea do planeta, de acordo com uma pesquisa recente conduzida por especialistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O estudo revelou que o sistema, vital para o abastecimento urbano e agrícola, está sendo sobrecarregado pela exploração excessiva, o que põe em risco a sustentabilidade de suas reservas.
O Aquífero Guarani, que se estende por aproximadamente 1 milhão de quilômetros quadrados, é fundamental para o abastecimento hídrico de cerca de 90 milhões de pessoas no Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina. Embora a maior parte de sua área esteja em território brasileiro, o estudo focou no Estado de São Paulo, que sozinho consome 80% da água extraída desse aquífero no país. A intensa utilização dos recursos, somada aos períodos de seca agravados pelas mudanças climáticas, ameaça reduzir os níveis de recarga do sistema.
Para entender melhor a dinâmica entre águas pluviais e subterrâneas, os pesquisadores monitoraram as nascentes e os rios da sub-bacia do Alto Jacaré-Pepira, na região de Brotas, São Paulo, entre 2013 e 2021. Com o uso de isótopos estáveis de hidrogênio e oxigênio, eles descobriram que cerca de 80% do volume das nascentes vem da descarga de águas subterrâneas do Aquífero Guarani, enquanto apenas 20% provém das chuvas recentes. Esse dado é preocupante, pois indica que o aquífero está sendo sobrecarregado, e sua recarga natural, proveniente das chuvas, é insuficiente para compensar o volume extraído.
Os resultados sugerem que a exploração das águas subterrâneas precisa ser monitorada e gerida de forma mais rigorosa. Em algumas áreas, como em Ribeirão Preto e Pederneiras, as águas extraídas têm mais de 127 mil anos. Esses números impressionantes ressaltam a importância de um uso consciente dos recursos hídricos, já que, uma vez esgotados, esses reservatórios podem demorar milênios para se recompor.
A situação se agrava com as crises hídricas já registradas em São Paulo nos últimos anos, como as de 2014 a 2015 e de 2017 a 2021. Durante a estação seca, o Aquífero Guarani supre até 90% das nascentes na região, reforçando sua importância para a sobrevivência de rios e para o abastecimento humano. A falta de chuvas suficientes e o aumento da evapotranspiração, causados pelas altas temperaturas, estão contribuindo para um déficit hídrico cada vez mais difícil de ser revertido.
Para assegurar a preservação do aquífero, os pesquisadores recomendam a implementação de políticas de gestão que priorizem o monitoramento constante das taxas de extração e recarga. A continuidade da exploração sem controle pode levar a um esgotamento irreversível, comprometendo não só o fornecimento de água, mas também os ecossistemas que dependem dela. O estudo destaca ainda que a exploração consciente desse recurso natural deve ser uma prioridade para evitar crises futuras e garantir o abastecimento de milhões de pessoas.