Ideia é baratear teste de diagnóstico para SARS-CoV-2; pesquisadores adotam método usado durante epidemia de zika
Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP conseguiram isolar e cultivar em laboratório o coronavírus SARS-CoV-2, vírus causador da doença COVID-19. A informação foi publicada pela Agência Fapesp e confirmada pela reportagem do Jornal da USP. A ideia agora é distribuir amostras do vírus cultivado para laboratórios da rede pública e particular que tenham estrutura para fazer testes do tipo PCR em tempo real.
Os pesquisadores do ICB devem se reunir na semana que vem com integrantes de sociedades científicas e representantes do Ministério da Saúde para compartilhar seus resultados e costurar uma rede de distribuição das novas amostras, reduzindo custos e ampliando a capacidade do País para diagnosticar infecções pelo coronavírus.
Por enquanto, apenas quatro laboratórios da rede pública estão fazendo os testes: Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo; Instituto Evandro Chagas, no Pará; Fiocruz, no Rio de Janeiro; e o Laboratório Central de Goiás. Os casos suspeitos estão passando pelo primeiro teste em hospitais estaduais, que enviam o material coletado a esses quatro laboratórios para fazer a contraprova.
“Os laboratórios que vão fazer o diagnóstico precisam de um controle para dizer que o teste funciona, isto é, de uma amostra que dê positivo”, disse Edison Luiz Durigon, professor de Virologia e coordenador do Laboratório BSL3+ do ICB.
Ele explica que a importação de amostras da Europa e dos Estados Unidos para controle positivo, como tem sido feito no Brasil, encarece muito o diagnóstico. “Enviar o vírus por correio é muito complicado, então o que mandam é um RNA sintético. (Porém), só o transporte custa por volta de R$ 12 a 14 mil, segundo a última cotação que fizemos”, contou o professor.
O alto custo tem a ver com a baixa temperatura necessária para preservar as moléculas de RNA. Para baratear o transporte, os pesquisadores do ICB pretendem distribuir o vírus cultivado utilizando o mesmo método que adotaram durante a epidemia de zika, entre 2015 e 2016. Na época, eles aplicaram no vírus uma substância capaz de torná-lo inativo. Agora, farão o mesmo com o coronavírus, permitindo que as amostras sejam transportadas em temperatura ambiente. “Fizemos isso durante a epidemia de zika e deu certo, distribuímos o controle para o País todo”, disse Durigon.
O vírus cultivado no ICB foi isolado a partir de amostras orais dos dois primeiros pacientes brasileiros diagnosticados com a doença no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. De acordo com Durigon, isolar e cultivar o coronavírus é uma tarefa relativamente simples. “Mas depende de um laboratório de nível 3 de biossegurança”, explicou. No País, esses laboratórios são os que possuem maior nível de segurança. “Hoje temos uns seis laboratórios de nível 3 funcionando no Brasil. O ICB tem dois. O Einstein não tem, por isso não puderam fazer lá”.
Ao Jornal da USP Durigon afirmou, ainda, que as duas diferentes mutações do coronavírus já identificadas não representam maior risco da doença e nem maior dificuldade de diagnóstico com os atuais exames. “À medida em que o vírus vai infectando mais pessoas, vai sofrendo mutações. É a evolução normal que acontece com todos os vírus conforme ocorrem muitos casos”, disse o professor.
O que é PCR?
PCR é a sigla em inglês para a reação em cadeia da polimerase. Trata-se de uma técnica utilizada em laboratórios para amplificar cópias de DNA ou RNA em tubos de ensaio. Nos testes de diagnóstico clínico, os cientistas usam essa técnica para amplificar o RNA do vírus e produzir um grande número de cópias do material genético. Assim, é possível detectar e quantificar a presença do vírus nas amostras dos pacientes.
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