Útero artificial é o futuro da gestação? Entenda
O útero artificial é um tipo de tecnologia desenvolvido para imitar as condições do ambiente interno do útero, promovendo o crescimento de um feto. Ele funciona fornecendo líquido amniótico feito em laboratório e oxigenação através de um oxigenador conectado ao cordão umbilical fetal.
O processo de desenvolvimento de um embrião fora do útero é conhecido como ectogênese. Ele foi criado a partir dos modelos de incubadoras e de procedimentos de fertilização in vitro, proporcionando um período gestacional sem as complicações associadas ao parto.
O termo “ectogênese” foi cunhado por J.B.S. Haldane, um biólogo inglês que foi uma das primeiras pessoas a propor que um óvulo pudesse ser fertilizado fora do útero. Embora sua proposta tenha sido recebida como controversa, a sua especulação resultou no progresso científico do possível desenvolvimento do útero artificial.
A história dos úteros artificiais
A ideia de Haldane foi divulgada em uma palestra em 1923, na Heretics Society da Universidade de Cambridge. Porém, acredita-se que o conceito de um útero artificial promovido por Haldane tenha sido a inspiração ao futuro imaginado por Aldous Huxley no seu romance de 1932, Admirável Mundo Novo.
Nele, Huxley descreve um universo em que os embriões são fertilizados fora do corpo humano, em tubos de ensaio, que depois são concebidos em incubatórios.
Ao todo, o discurso de Haldane foi apoiado por diversos pensadores e filósofos, que defendiam interesses feministas através do progresso científico. Entretanto, ainda assim, muitos eram contrários ao pensamento progressista do biólogo, defendendo a ideia de que a ectogênese era um desrespeito à biologia humana.
O primeiro útero artificial
A primeira instalação de útero artificial do mundo ocorreu em 2017 por pesquisadores do Philadelphia Children’s Hospital, na Pensilvânia, Estados Unidos. Essa tecnologia, também conhecida como “bolsa biológica” ou “BioBag”, foi capaz de carregar um embrião de cordeiro durante um período de gestação bem sucedido. No entanto, é importante notar que os fetos foram transferidos ao dispositivo após a sua presença no útero materno por um processo de ectogênese parcial.
Por outro lado, essa não foi a primeira vez que uma pesquisa científica tentou reproduzir esse tipo de tecnologia. Em 1990, em Tóquio, um grupo de cientistas havia realizado experimentos semelhantes que falharam.
Fábricas de bebês
Em 2022, o biotecnólogo molecular Hashem Al-Ghaili promoveu uma nova forma de gravidez: uma instalação 100% tecnológica capaz de carregar e parir fetos humanos. Chamada de EctoLife, a instalação seria responsável pela “produção” de até 30 mil bebês por ano.
Embora pareça um tipo de ficção científica, como promovido pela obra de Aldous Huxley, o profissional acredita que o seu plano é viável e capaz de evitar o declínio populacional previsto por especialistas.
A instalação da EctoLife seria composta por 75 laboratórios, cada um capaz de acomodar 400 cápsulas de crescimento — um tipo de útero artificial que recria as condições exatas de uma gestação. Nessas cápsulas, os fetos seriam nutridos e oxigenados através de um cordão umbilical artificial enquanto mantidos em um líquido amniótico artificial com hormônios, anticorpos e fatores de crescimento precisamente adaptados.
Os sinais vitais dos fetos, então, seriam regularmente monitorados por especialistas com o objetivo de evitar complicações em suas formações — como condições congênitas e outras possíveis anormalidades genéticas.
Contudo, a “fábrica” idealizada por Al-Ghaili sofre críticas do público pela desumanização do processo de gestação puramente movido pela conveniência. Uma matéria de Loz Blain publicada no New Atlas, por exemplo, descreve o conceito como “distorcido, desumano e distópico”.
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Prós e contras do útero artificial
Diferentemente da tecnologia imaginada por Al-Ghaili, os protótipos de úteros artificiais já concebidos possuem um objetivo diferente. Essas tecnologias foram projetadas para eventualmente ajudar bebês prematuros a sobreviver após o início do período gestacional dentro da mãe.
Os pesquisadores por trás da invenção acreditam que a tecnologia seria capaz de diminuir a mortalidade associada ao parto normal. Além disso, poderia beneficiar a saúde materna e poupar aos pais o sofrimento de verem o seu bebê prematuro ligado a um ventilador nos cuidados intensivos.
O processo poderia aumentar a necessidade de cuidados intensivos para crianças que de outra forma não teriam sobrevivido sem a intervenção. Isso, consequentemente, aumentaria o entendimento da saúde fetal.
Por outro lado, uma desvantagem da inovação é a necessidade de uma cesariana para a remoção do feto de dentro do útero. A cirurgia, embora derivada da evolução médica em busca da diminuição de gestações de risco, é utilizada em diversos quadros.
A sua efetividade dentro do meio médico fez com que parte do público priorizasse esse tipo de parto pela “conveniência” e “praticidade” que ele possui.
É importante notar que a ectogênese total ainda é apenas uma ideia. De fato, o útero artificial criado na Pensilvânia faz parte de uma tecnologia de ectogênese parcial, em que o feto é removido do útero após a primeira fase de gestação.
Eventualmente, os úteros artificiais podem se tornar aliados à saúde pré-natal, contribuindo para o bem-estar parental e natal.