Imagem: núcleo em amarelo / Wikimedia Commons
Uma vacina experimental contra o vírus zika desenvolvida por pesquisadores brasileiros e estadunidenses foi testada com sucesso em experimentos com camundongos.
Os resultados foram publicados em 28 de junho na revista Nature e, segundo os autores, sugerem que a produção de uma vacina para humanos será “prontamente realizável”.
No Brasil, a pesquisa foi realizada no âmbito da Rede de Pesquisa sobre Zika Vírus em São Paulo (Rede Zika), com apoio da Fundação de amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e sob a coordenação de Jean Pierre Peron e Paolo Zanotto – ambos do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP). Nos Estados Unidos, a coordenação foi de Dan Barouch, da Harvard University, especialista no design de vacinas, sendo um dos primeiros autores Rafael Larocca, ex-aluno no Departamento de Imunologia e ex-bolsista Fapesp.
“A vacina conferiu aos camundongos uma proteção de 100%, ou seja, depois de vacinados, eles foram infectados e não apresentaram viremia [a carga viral medida no plasma foi igual a zero, mostrando que a infecção não progrediu]”, contou Peron.
Os animais vacinados foram desafiados tanto com uma linhagem do vírus originária de Porto Rico quanto com uma linhagem brasileira – isolada de um bebê da Paraíba e usada no estudo anterior da Rede Zika, também publicado na Nature, que confirmou a relação causal entre a infecção e a microcefalia.
Nos dois casos, a vacina foi capaz de induzir uma resposta imunológica protetora. Já o grupo de roedores que recebeu placebo no lugar da vacina apresentou viremia durante cinco ou seis dias após ser infectado.
“Nós isolamos os anticorpos produzidos no organismo dos animais vacinados e os transferimos para outros camundongos. Esse grupo que recebeu os anticorpos prontos, em seguida, foi infectado e também se mostrou resistente. Esse dado comprova que a vacina induz uma proteção mediada por anticorpos”, avaliou Peron.
Diversas combinações de proteínas do vírus zika capazes de induzir uma resposta imunológica – os chamados antígenos virais – foram testadas. A que mostrou melhor resultado foi a união da prM (proteína pré-membrana) com a Env (proteína do envelope externo do vírus).
Os antígenos foram inseridos dentro de um plasmídeo – uma pequena molécula circular de DNA. Segundo Peron, o mesmo tipo de formulação pode ser usado em testes com humanos.
“Ainda será necessária mais uma etapa de testes pré-clínicos em macacos. Se os resultados forem positivos, poderemos iniciar os ensaios clínicos de fase 1”, afirmou.
Antes, porém, o grupo pretende testar, em camundongos, se a vacina é capaz de proteger contra o desenvolvimento de microcefalia durante a gestação.
“Meus alunos estão indo para o laboratório de Barouch, nos Estados Unidos, para realizar esses experimentos com fêmeas prenhes. Se conseguirmos proteger os fetos contra a microcefalia, os resultados serão muito promissores. E a gente aposta que isso vai acontecer”, disse Peron.
Uma segunda formulação do grupo feita com vírus inativado também apresentou resultados promissores nos experimentos com camundongos e seguirá para os testes em macacos.
O artigo Vaccine protection against Zika virus from Brazil (doi: 10.1038/nature18952), pode ser lido em aqui.
Confira vídeos sobre a pesquisa produzidos pelo Núcleo de Divulgação Científica da USP, com reportagem de Fabiana Mariz, Mônica Teixeira e Tabita Said e edição de Alan Petrillo.
Fonte: Agência Fapesp
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