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Saiba como a água que chega em sua casa é tratada, e entenda alguns aspectos que contribuem para perdas

O planeta apresenta 70% de sua superfície coberta por água, e isso nos dá uma primeira impressão de ser uma grande quantidade. Porém, se pudéssemos colocar todo esse líquido em uma grande caixa d’água, totalizariam 1,2 bilhão de quilômetros cúbicos (km³). Ainda parece muito? Digamos que 97% disso é de água salgada, nos restando apenas 3% do total que corresponde à água doce. Em volume, seriam 35 milhões de km³. Porém 2% dessa água se encontra presa na forma de gelo e neve, restando apenas 1% para uso humano. Dessa quantidade, 10,6 milhões de km³ se encontram em aquíferos subterrâneos. Assim, apenas 0,1% (que totaliza 1,4 milhão de km³) de toda a água que cobre a superfície da terra está disponível para abastecer as mais de sete bilhões de pessoas do planeta.

É um recurso, ao mesmo tempo, extremamente importante e escasso. Sua escassez exige que sejamos sempre cuidadosos com sua preservação. Já sua importância e essencialidade em nossas vidas requerem que estejamos atentos à sua qualidade antes de consumi-la. A água que chega às nossas casas, no entanto, já traçou um longo caminho desde a sua captação, e passou por diversos processos físicos e químicos para que pudesse ser considerada segura para o consumo humano. Uma das maneiras de melhor compreender os cuidados que este recurso (que é de todos!) requer é conhecer esses processos e perceber todo o trabalho dispensado sobre ele durante seu tratamento.

Processos

É comum em uma estação de tratamento de água (ETA) convencional serem realizados os processos de clarificação, desinfecção, fluoretação e estabilização química.

A clarificação nada mais é que o conjunto de etapas que irão remover os sólidos presentes na água bruta (águas sem tratamento). Assim, as etapas que compõem o processo de clarificação são a coagulação, floculação, decantação e filtração, sobre as quais falaremos em breve.

Já a desinfecção é o processo responsável por inativar micro-organismos patógenos, aqueles que oferecem risco ao ser humano. O tratamento de água não garante a remoção total dos micro-organismos, e por isso a desinfecção é necessária. Durante esta etapa, os desinfetantes afetam os micro-organismos ao destruir e danificar estruturas celulares, interferir no nível energético do metabolismo, na biossíntese e no crescimento. Alguns desinfetantes são o cloro, ozônio, a radiação ultravioleta (UV), detergentes e agentes ácidos.

A fluoretação é um processo importante que, a partir da adição de flúor à água, auxilia na prevenção de cáries dentárias. E por fim, a estabilização química é um processo pelo qual a água já tratada precisa passar para que sejam adicionados químicos que controlam a capacidade de corrosão e incrustação da água.

No geral, o tratamento de água consiste na remoção de cor e turbidez, além de precisar atender padrões microbiológicos estipulados pelo órgão responsável da região.

Aqui vamos entender melhor como funcionam os processos da etapa de clarificação, que é aquela que realmente remove do líquido possíveis impurezas, deixando-a transparente, como chega em nossas casas (se a água da sua torneira não é transparente, temos um problema).

Coagulação

A água bruta muitas vezes possui impurezas de diversas dimensões. Para a retirada das mais finas são adicionados à água produtos químicos denominados coagulantes (sulfato de alumínio, cloreto ou sulfato férrico, além de polímeros), para favorecer a aglomeração destas impurezas, formando flocos maiores que são mais facilmente removidos. Esta etapa do processo exige que a água a ser tratada seja liberada de um local elevado e com grande rapidez para que sua força e velocidade favoreçam a mistura rápida do coagulante (que é liberado por gotejamento, acima da queda d’água) de forma mais homogênea possível.

Floculação

Esta é a etapa em que ocorre realmente a formação e crescimento dos flocos. Para que isso aconteça, é fornecida uma velocidade inicial às águas para promover o encontro dos flocos. Após sua formação, essa velocidade é diminuída para evitar que os flocos formados sejam destruídos.

Decantação

Processo de separação das fases sólida e líquida, através da retirada dos flocos de impurezas da água. Esta etapa ocorre em grandes tanques onde a água permanece por tempo suficiente para que as impurezas cheguem ao fundo pela ação da gravidade, formando o lodo, que é composto não só das impurezas finas antes presentes na água bruta, como também de compostos químicos que foram utilizados no processo de coagulação. O lodo acumulado é retirado geralmente quando ocorrem as lavagens dos tanques, e deve ser corretamente descartado, geralmente sendo direcionado a aterros sanitários. O material sedimentado na decantação é o primeiro dos resíduos formados no processo de tratamento. Após esta etapa, a água já se encontra 90% limpa.

O processo de decantação ocupa áreas relativamente grandes e utiliza grandes quantidades de produtos químicos. Por esse motivo, uma alternativa mais eficiente já vem sendo explorada, que é a flotação.

Alternativa: flotação

Também com o objetivo da retirada dos flocos de impureza, o processo de flotação funciona de uma forma diferente. São injetadas bolhas de ar na parte inferior dos tanques, que se aderem às partículas de impurezas e as carregam à superfície. Após os flocos se acumularem na superfície, são retirados por raspagem e separados da água limpa. Pontos negativos da flotação é que as bolhas de ar devem ser geradas por equipamentos específicos e ela requer um maior gasto de energia, além de operadores mais qualificados.

Filtração

O sistema funciona com a utilização de uma camada de carvão ativado, que cobre camadas de areias e cascalhos de dimensões diversas. A água passa então pelo meio filtrante de cima para baixo. Quando a grande retenção de impurezas prejudica a capacidade de filtração do sistema, ele passa por um processo de lavagem de fluxo inverso, onde a água circula de baixo para cima. Em seguimento à lavagem, a água utilizada contendo o material em suspensão é direcionada a canaletas. Este é o segundo resíduo gerado no sistema de tratamento. Em algumas ETAs, ela é tratada e circula novamente. Dependendo da qualidade da água bruta, pode-se ainda optar pela filtração direta, que exclui a etapa de decantação do processo de tratamento, ou pela filtração em linha, em que a água vai da coagulação direto para a filtração.

Após as etapas de desinfecção, fluoretação e estabilização química, na rede de distribuição ocorre por fim o direcionamento da água já tratada para a população. É também a etapa mais cara, já que é nela que ocorrem as perdas, seja por problemas nas tubulações, ou por captações irregulares.

As perdas

O caminho traçado pela água até que chegue em nossas casas é, de fato, longo, e as tubulações requerem manutenções periódicas para que sejam evitadas ao máximo as perdas ao longo do transporte. As perdas ocorridas são classificadas em dois tipos: perdas físicas e não físicas. As físicas são aquelas que correspondem à água perdida ao longo do transporte e que não é consumida. São originadas principalmente por vazamentos internos no sistema de abastecimento. Já a não física é aquela correspondente à água consumida pela população sem ter sido registrada. Totalizam cerca de 50% do volume de água perdido durante a distribuição, provenientes de captações clandestinas de água tratada, hidrômetros com fraude e/ou sem manutenção. Ernani Ciríaco, coordenador do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, afirma que a perda de água durante sua distribuição, no Brasil, tem aumentado a cada ano.


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