Em setembro de 2009, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) divulgou uma classificação dos veículos menos poluentes, chamada de “Nota Verde”. Os carros movidos à gasolina ficaram no topo da lista. As críticas dos produtores de etanol e de grupos de defesa do meio ambiente foram tão duras com os critérios da primeira pesquisa que o MMA realizou outro levantamento, divulgado em dezembro, colocando os veículos flex como os menos poluentes. Polêmicas à parte, o novo comprador ficou em dúvida. No fim das contas, usar álcool como combustível polui menos ou não?
“A principal diferença do biocombustível de origem vegetal para os demais é relacionada com o problema de efeito estufa. O dióxido de carbono (CO2) que é lançado na atmosfera pelos dois tipos de combustíveis, é da mesma grandeza. No entanto, o etanol é renovável. Durante o desenvolvimento da planta, ela sequestra carbono da atmosfera. Por este motivo, você regenera a condição de CO2. Isso nunca pode ser posto de lado. Em termos de combustíveis fósseis, você retira carbono enterrado e o libera novamente na atmosfera, aumentando essa quantidade”, afirmou o engenheiro mecânico e ambiental, Eduardo Murgel, que trabalha há 27 anos com a causa do meio ambiente, é autor de livros sobre o tema, além de ser professor do Senac e consultor.
O ciclo do plantio da cana-de-açúcar, a matéria prima do etanol brasileiro, praticamente neutraliza as emissões de CO2 para a atmosfera. “Não podemos dizer que não há contribuição para o efeito estufa porque o transporte do combustível geralmente é feito com diesel, por exemplo, mas há quase uma neutralização”, explicou Murgel, que alerta para a vantagem do álcool em termos de baixa emissão de gases tóxicos. “O etanol é leve. Após a combustão, as partículas do álcool se transformam em CO2 ou não sofrem reação, ou seja, não liberam toxinas no ambiente. O total de emissão é da mesma ordem de grandeza do que a dos motores a gasolina, só que os hidrocarbonetos oriundos do álcool são, em geral, menos tóxicos do que os da gasolina. Algumas substâncias emitidas pela queima do diesel são cancerígenas, por exemplo”, explicou.
Em termos de desempenho automobilístico, a vantagem do álcool sobre a gasolina acabou quando a injeção eletrônica, que substituiu o carburador (mecanismo que misturava o combustível ao ar para que ocorra a queima do líquido), foi inventada há alguns anos. “O álcool estava à frente em potência, redução de emissões e performance, mas os mecanismos eletrônicos praticamente tiraram essa diferença”, contou o consultor.
Murgel considera que os consumidores ainda não estão tão preocupados com a questão ambiental na hora da compra de carros. “A redução do IPI, essas listas do MMA podem ajudar, mas o consumidor não vai deixar de pagar um pouco a mais pelo carro que ele gosta para adquirir o ambientalmente correto. O carro flex veio para ficar, mas é preciso mais. Conscientização, fiscalização, punição, tecnologia, cultura. Tudo isso precisa estar ligado, pois se trata de uma questão de saúde pública”, finalizou.
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