Cerca de 200 trabalhadores da Audi se reuniram do lado de fora da fábrica da empresa em Bruxelas, em um piquete realizado sob a manhã de hoje (16). O clima de apreensão reflete a possibilidade de fechamento da unidade, uma medida que aponta para os desafios enfrentados pela indústria de carros elétricos na Europa. O anúncio, feito pela Audi, vem em meio a uma queda na demanda por veículos elétricos e a concorrência crescente dos fabricantes chineses, criando um cenário delicado para a transição verde do continente.
A fábrica de Bruxelas, considerada o “berço” da propulsão elétrica da Audi, começou a produzir veículos elétricos em 2018, após 70 anos de fabricação de modelos a combustão. Agora, enfrenta a ameaça de fechar suas portas. Esse movimento preocupa os trabalhadores, que iniciaram uma greve prolongada e planejam manifestações na capital belga. A medida poderia afetar cerca de 3 mil empregos diretos, com impactos ainda maiores para a economia local. Para muitos dos empregados, essa crise é vista como resultado da falta de planejamento eficaz por parte da montadora.
Analistas do setor automotivo apontam que a Audi não é a única a enfrentar esse tipo de problema. A concorrência de veículos elétricos chineses, mais baratos e tecnologicamente avançados, está pressionando montadoras europeias a buscarem novas soluções. Mesmo com a perspectiva de tarifas de até 36% sobre as importações desses veículos para a União Europeia, o impacto parece insuficiente para reverter a queda de demanda. Especialistas sugerem que além de medidas tarifárias, o setor automotivo da Europa precisa de um “plano de ação industrial” robusto para fortalecer sua competitividade e produtividade.
Nos últimos meses, a queda nas vendas de carros elétricos na Europa tem sido notável. Em julho, novos registros caíram 6% em comparação ao ano anterior, segundo a União Europeia. A retirada gradual de subsídios e o aumento dos custos de produção também contribuíram para esse cenário. O modelo Q8 e-tron, produzido na fábrica de Bruxelas, viu sua demanda despencar, agravando ainda mais a crise enfrentada pela Audi.
Além disso, a Audi enfrenta críticas pela falta de clareza em relação aos seus planos futuros. Segundo relatos, os trabalhadores têm se sentido “abandonados” pela montadora, que já recebeu milhões em subsídios públicos para requalificação dos empregados e conversão das linhas de produção para veículos elétricos. Com greves programadas e incertezas sobre possíveis compradores estrangeiros para a planta de Bruxelas, a tensão cresce entre os funcionários.
A situação se agrava com a pressão política. Embora a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tenha prometido um novo “Acordo Industrial Limpo” para fomentar investimentos em infraestrutura e fortalecer a indústria, os resultados práticos dessa iniciativa ainda estão distantes. O temor é que, até lá, os danos ao setor automotivo europeu sejam irreversíveis.
O fechamento da fábrica de Bruxelas pode ser apenas o início de uma crise mais ampla na indústria de veículos elétricos no continente. O caso levanta questões sobre a capacidade da Europa em liderar a transição verde no setor automotivo, especialmente diante da crescente influência da China.
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