Vídeos ensinam técnicas de terapia comportamental para pais de crianças com autismo

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A série de 15 vídeos utiliza a metodologia da psicologia comportamental conhecida como análise aplicada do comportamento

Imagem de Caleb Woods no Unsplash

Pesquisadores do ambulatório de Autismo do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (TEAMM-Unifesp) lançaram uma série com 15 vídeos voltados para pais de crianças com autismo. O objetivo dos vídeos – disponíveis gratuitamente na internet – é ensinar técnicas de estimulação de habilidades sociocomunicativas em crianças com o transtorno do espectro autista.

A falta de contato visual e a dificuldade de se comunicar pelo olhar (atenção compartilhada) podem ser os primeiros sinais – observados já aos 18 meses de vida – de que uma criança possa vir a ser diagnosticada dentro do espectro autista. “Até o momento, o autismo não tem cura, mas podemos estimular habilidades que as crianças não desenvolvem naturalmente. Contato visual e atenção compartilhada são pré-requisitos para o desenvolvimento da sociabilidade, além de constituírem a base para que as crianças venham a melhorar outros domínios no futuro”, diz Daniela Bordini, coordenadora do TEAMM-Unifesp.

A elaboração dos vídeos e a realização de um estudo clínico sobre a efetividade desse tipo de capacitação para os pais foram fruto de um auxílio de pesquisa regular, apoiado pela FAPESP e pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, sob a coordenação de Jair de Jesus Mari.

A série de 15 vídeos utiliza a metodologia da psicologia comportamental conhecida como análise aplicada do comportamento, ou ABA (Applied Behavior Analysis, na sigla em inglês), já utilizado em diferentes países no atendimento a pessoas com autismo.

“O grande diferencial do nosso estudo foi desenvolvermos e testarmos um modelo de tratamento em grupo e com a mediação direta dos pais. A ideia é que os pais aprendam as técnicas por meio de videoaulas e isso permita que mais crianças sejam estimuladas, pois a maioria dos atendimentos para crianças autistas deve ser intensiva e individual, o que dificulta e onera o tratamento na rede pública e privada”, afirma Bordini à Agência FAPESP.

De acordo com Mari, o acesso aberto dos vídeos na internet é uma forma de atingir um maior número de famílias. “A utilização dos meios de inclusão digital vai ser cada vez mais aplicada em intervenções na área da saúde mental. O estudo é contemporâneo e se utiliza de estratégias que podem dar uma cobertura maior para o atendimento das famílias que precisam de informação de qualidade para ajudar no desenvolvimento de seus filhos.”

Efetividade das videoaulas

Em artigo publicado no Journal of Intellectual Disability Research, os pesquisadores comprovam a efetividade do treinamento de pais por videoaulas na melhora da cognição e comunicação das crianças com autismo grave e deficiência intelectual associada.

No estudo, 66 pais de crianças (entre 3 e 6 anos) com autismo grave e deficiência intelectual foram divididos em dois grupos. Um deles, formado por 32 pais, recebeu o atendimento padrão na rede pública de saúde e não acompanhou os vídeos. O outro grupo, com 34 pais, fez a capacitação com as videoaulas e aplicou as técnicas de estimulação do contato visual e da atenção compartilhada nas crianças.

Além do TEAMM-Unifesp, o estudo com os pais foi realizado concomitantemente em dois outros centros universitários e de pesquisa: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

“Conseguimos comprovar a eficácia da técnica sem custo e que utiliza as famílias como parceiras no tratamento. Com o treinamento foi possível diminuir sintomas e auxiliar no desenvolvimento de habilidades sociais tão importantes como o contato visual e a atenção compartilhada”, conta Bordini à Agência FAPESP.

De acordo com os pesquisadores, em relação ao grupo controle, as crianças cujos pais aplicaram o treinamento aprendido nas videoaulas tiveram um aumento do QI de 7 pontos na média (de acordo com o paradigma CACE), uma melhora global na comunicação e diminuição de sintomas de autismo.

“Como o contato visual e a atenção compartilhada são a base para outras habilidades de socialização, o treinamento permite que a criança consiga avançar no desenvolvimento dessas outras habilidades que ela não desenvolveria ou demoraria muito para desenvolver naturalmente”, relata.

Além das atividades que devem ser realizadas com as crianças, os vídeos abordam ainda pré-requisitos indispensáveis para a realização dos treinos, como a necessidade de um ambiente tranquilo e com poucos objetos e brinquedos para evitar dispersão. Há ainda dicas de como lidar com os chamados comportamentos disruptivos – como quando a criança sai da cadeira e vai embora, tem estereotipias intensas, ou faz birra –, que podem atrapalhar o desenvolvimento do treino.

De acordo com a indicação dos pesquisadores, os pais devem realizar no mínimo 36 oportunidades diárias de treinamento, sendo dois blocos de nove tentativas, duas vezes ao dia, todos os dias da semana.

“O objetivo do treinamento é ajudar a criança a aprender. Por isso, os vídeos devem ser vistos em sequência (do primeiro para o último), pois as atividades começam com a maior participação e intervenção direta dos pais, até que a criança adquira essas habilidades e comece a fazê-las naturalmente”, diz.

Os vídeos podem ser acessados em no canal do YouTube Teamm Unifesp.

O artigo A randomised clinical pilot trial to test the effectiveness of parent training with video modelling to improve functioning and symptoms in children with autism spectrum disorders and intellectual disability (doi: doi.org/10.1111/jir.12759 ), de D. Bordini, C. S. Paula, G. R. Cunha, S. C. Caetano, L. F. Bagaiolo, T. C. Ribeiro, M. C. C. Martone, J. Portolese, A. C. Moya, D. Brunoni, C. Bosa, H. Brentani, H. Cogo-Moreira, J. de Jesus Mari, pode ser lido em onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/jir.12759.


Este texto foi originalmente escrito por Maria Fernanda Ziegler e publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original

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